A Liga dos 22 países árabes realiza uma reunião de emergência nesta quarta-feira (11) para tratar do conflito entre o Hamas e Israel. A situação dos palestinos na Faixa de Gaza provoca fortes reações no mundo árabe, por vezes discordantes entre os governos e as suas populações nas ruas.
RFI
Desde o ataque lançado no sábado (7) pelos extremistas do Hamas contra o sul de Israel, foram registradas mais de 1.200 mortes do lado israelense e 1.055 do lado palestino, de acordo com o último balanço. A operação militar israelita e o estado de sítio contra a Faixa de Gaza continuam, o que tem gerado desaprovação entre os estados árabes. Eles denunciam os ataques contra civis palestinos e exigem o fim da “agressão”, conforme relata o correspondente da RFI no Cairo, Alexandre Buccianti.
Manifestação da Ordem dos Advogados em Tunes, em solidariedade ao povo palestino, após o ataque perpetrado pelo Hamas contra Israel. Em 10 de outubro de 2023. © Lilia Blaise / RFI |
As reações não são unânimes, contudo, quando se trata dos ataques contra Israel executados por movimentos palestinos armados dentro da operação batizada pelo Hamas de “Tempestade de Al-Aqsa” (nome da mesquita de Jerusalém que constitui o terceiro local mais sagrado de Israel), mais de um terço dos estados árabes que têm relações normalizadas com Israel condenaram os ataques a civis. Entretanto, culparam Israel pela violência, acusando o Estado judeu de ter bloqueado o processo de paz e de aumentar as provocações contra os palestinos.
A pedido da Palestina, a Liga dos 22 Estados Árabes realiza, nesta quarta-feira, uma reunião extraordinária ministerial no Cairo, no Egito. O comunicado final refletirá as posições dos Estados que compõem a Liga Árabe: uma condenação unânime de Israel e um apelo ao “fim dos ataques contra os palestinos”, mas nenhuma medida concreta além de iniciativas diplomáticas.
Povo árabe nas ruas
Já a reação das ruas é mais virulenta, esmagadoramente a favor da causa palestina, mesmo entre cidadãos árabes de países que, como o Egito, fizeram a paz com Israel há mais de quarenta anos.
No Egito, um agente da polícia disparou contra turistas israelenses no primeiro dia da ofensiva do Hamas contra o Estado judeu. Os egípcios, tal como os cidadãos de outros países que normalizaram as relações com Israel, aceitaram uma regularização diplomática considerada amarga do ponto de vista político e econômico.
Os analistas acreditam que se a guerra contra Gaza durar, a pressão das ruas forçará alguns estados a questionar a normalização com Israel.
Na Tunísia, apoio total do povo aos palestinos
Na Tunísia, após as declarações do Presidente Kaïs Saïed em apoio aos palestinos, logo após o ataque do Hamas contra Israel, vários grupos comerciais, bem como a população, organizaram manifestações em Túnis, em solidariedade aos palestinos. Depois dos torcedores de futebol, este fim de semana, e dos sindicalistas, em várias cidades do país, foi a vez da Ordem dos Advogados de Túnis de se manifestar, na terça-feira (10).
O país tem uma relação histórica e cultural com a Palestina, desde que a Tunísia acolheu os palestinos na década de 1980. Muitos tunisianos também se lembram do dia 1º de outubro de 1985, quando a sede da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em Hammam Chott, no subúrbio da capital, foi bombardeada por um ataque aéreo israelense, matando 68 pessoas, incluindo 18 tunisianos, relembra a correspondente da RFI no país, Lilia Blaise.
O posicionamento da Tunísia não é novo, explica Ghassen Ghribi, membro da associação de jovens advogados tunisianos. “A causa palestina sempre foi um tema humanitário central nos nossos debates e, como advogados e defensores dos direitos humanos, é ainda mais importante. Esta não é a primeira vez que nos manifestamos em apoio aos palestinos. Já fomos até à Justiça internacional para apresentar uma queixa no contexto de confrontos passados”, acrescenta.
Nos últimos dias, o Presidente Kaïs Saïed tem afirmado repetidamente apoio total ao povo palestino. Uma posição que é objeto de consenso entre a população, apesar da crise política e econômica do país. “Hoje, apesar das diferenças políticas, sejam a favor ou contra Kaïs Saïed, a causa do movimento palestino une todos os tunisianos”, continua.
Milhares de apoiadores em Amã
Na Jordânia, onde uma grande parte da população é favorável à Palestina, cada vez mais famílias jordanianas saem às ruas. Duas manifestações ocorreram na noite de terça-feira, em Amã, na Jordânia, relata Mohamed Errami, correspondente da RFI Amã. Gritos e palavras de ordem a favor da Palestina foram ouvidos durante quase duas horas, em frente à mesquita Al-Hussein.
A manifestação reuniu milhares de pessoas e teve a particularidade de transcender divisões políticas. Além do partido Irmandade Muçulmana, aliado do Hamas, e de jordanianos do partido nacionalista de esquerda, o ato reuniu cidadãos como Ali, um estudante de direito de 23 anos. “Estamos todos reunidos hoje para mostrar o nosso apoio ao povo palestino. Mesmo pessoas que não estão na política como eu, todos nós saímos às ruas”, destaca o jovem.
A Jordânia compra água, eletricidade e gás de Israel. A mensagem enviada ontem à noite foi muito clara: fechem a embaixada israelense e cancelem todas as relações com o país vizinho. “Exigimos que haja uma mudança real nas relações entre a Jordânia e Israel”, continua Ali. “Que o governo tome medidas reais nesta direção. Há anos que pedimos o fim destas relações, das mais importantes às mais simbólicas”, completa. Uma nova manifestação será realizada na sexta-feira (13), no centro de Amã.