Comandante diz que Força 'não medirá esforços' para recuperar metralhadoras que sumiram do Arsenal de Guerra
Julia Chaib e Cézar Feitoza | Folha de S.Paulo
Brasília - O general Tomás Paiva, comandante do Exército, disse à Folha que a Força está empenhada em solucionar o sumiço de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), em Barueri, na Grande São Paulo.
"Não vamos medir esforços para recuperar as armas e punir os responsáveis", afirmou.
A falta do armamento foi constatada no último dia 10 durante uma conferência. O caso gerou a abertura de um Inquérito Policial Militar, que é conduzido pelo próprio Exército. A tese de contagem errada foi descartada.
Segundo o Comando Militar do Sudeste, responsável pela apuração, as principais hipóteses são de que houve furto ou extravio dos armamentos.
O general Achilles Furlan, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia da caserna, ao qual o Arsenal de Guerra é subordinado, foi deslocado de Brasília para São Paulo para acompanhar as investigações.
Furlan disse à Folha que o desenrolar das investigações pode fazer surgir "hipóteses que não podem ser descartadas". "Uma única premissa jamais será descartada: o Exército não vai desistir de encontrar essas armas", completou.
Conforme o Exército, foi notada durante uma contagem a ausência de 13 metralhadoras de calibre .50 (antiaéreas) e oito de calibre 7,62. As armas, segundo a Força, estavam "inservíveis"—ou seja, sem utilidade— e em fase de reparos.
De acordo com integrantes do Exército, os armamentos têm manutenção extremamente complexa. Eles estavam no Arsenal de Guerra porque é esta a unidade responsável por esse serviço. O AGSP é também responsável por "iniciar o processo de desfazimento e destruição dos armamentos que tenham sua reparação inviabilizada".
Oficiais que acompanham a investigações disseram à Folha que, até esta terça (17), cerca de 40 militares foram ouvidos no âmbito do inquérito militar. O objetivo, nesse primeiro momento, era delimitar o tempo em que as metralhadores podem ter sido furtadas ou desviadas.
A contagem das armas não é periódica e só é realizada quando algum militar precisa pegar o armamento para manutenção ou transporte. Por regra interna, após abrir o espaço em que as armas ficam guardadas, em cabides com trancas, o militar precisa fazer uma contagem do armamento e registrar o número em arquivos do Arsenal de Guerra.
O escopo da investigação leva em consideração a possibilidade de as armas terem sido furtadas ou desviadas ainda em setembro.
Na semana em que se descobriu o caso, o general Furlan estava em compromisso oficial em Washington, nos Estados Unidos. O comandante Tomás Paiva visitava o próprio Comando Militar do Sudeste, viajando por São Paulo, para auxiliar os trabalhos do comandante da região, general Guido Amin Naves.
Desde que o sumiço das metralhadoras foi notado, cerca de 480 militares —entre oficiais e praças— estão aquartelados na unidade. Eles são ouvidos no inquérito que investiga o caso.
"Toda tropa está aquartelada de prontidão, conforme previsões legais, para poder contribuir para as ações necessárias no curso da investigação. Os militares estão sendo ouvidos para que possamos identificar dados relevantes para a investigação", disse o Comando Militar do Sudeste.
Na tarde de domingo (15), familiares foram autorizados a visitar os militares e levar alimentos e roupas para os retidos.
Até sexta (13), como mostrou a Folha, o Exército tentava entender se as armas foram furtadas, desviadas ou se houve erro em contagem anterior, segundo o Ministério Público Militar.
Conforme nota da Procuradoria-Geral de Justiça Militar, o promotor de Justiça Militar Luís Antonio Grigoletto diz que recebeu a informação do comandante da 2ª Região Militar, general Pedro Celso Coelho Montenegro, em telefonema na noite da última sexta (13).
A informação passada pelo general ao promotor na ligação foi de que, naquele momento, não havia certeza de que se tratava de furto, desvio ou erro em contagem anterior. A hipótese de contagem errada foi descartada, porém, após conferência.