Decisão de cortar pagamentos a informantes foi tomada no governo Bolsonaro e afetou monitoramento de grupos ligados ao Hamas e ao Hezbollah
Rodrigo Rangel | Metrópoles
Ainda no governo de Jair Bolsonaro, um “apagão” de fontes levou a Agência Brasileira de Inteligência, o serviço secreto brasileiro, a perder informações valiosas sobre tentáculos do Hamas e do Hezbollah em território nacional.
Antonio Cruz/Agência Brasil |
O “apagão” foi causado por uma decisão da direção da agência, àquela altura comandada pelo hoje deputado federal Alexandre Ramagem, de cortar os pagamentos para mais de 80 informantes de várias áreas sensíveis, entre elas as de contra-espionagem e contraterrorismo.
Uma parcela dessas fontes, cujos nomes são mantidos em absoluto segredo, municiava a Abin com informações sobre estrangeiros que vivem no Brasil e têm laços estreitos com organizações como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas, responsável pelo ataque a Israel que deu início à cruenta guerra em curso no Oriente Médio.
A Abin monitora a atuação de dezenas de simpatizantes e outros estrangeiros ligados às duas organizações que têm negócios no país — especialmente na região de Foz do Iguaçu, mas também em outras cidades — e costumam fazer remessas de dinheiro regulares para destinatários residentes na Faixa de Gaza e no Líbano. Em vários casos, havia a suspeita de que parte dos recursos servia para abastecer as duas organizações.
Alguns dos informantes que foram desligados repentinamente da Abin durante a gestão de Ramagem, homem de confiança de Bolsonaro até hoje, eram muito próximos desses grupos. Um deles, como a coluna já mostrou, chegou a mover um processo contra a agência, ao qual anexou até relatórios sigilosos enviados para a agência.
O corte, à época, foi atribuído internamente a uma suposta mudança de prioridade na área de operações da Abin — teoricamente, o plano era concentrar os recursos usados para bancar o trabalho dos informantes em ações destinadas a monitorar, por exemplo, facções brasileiras ligadas ao tráfico de drogas.
O pagamento era feito com a milionária verba secreta da Abin. Por ano, os cerca de 80 informantes custavam à agência cerca de R$ 2 milhões.