O ministro da Educação da Polônia, Przemyslaw Czarnek, fez um apelo ao presidente do país para que peça a extradição de Yaroslav Hunka, ucraniano veterano do Exército nazista que foi ovacionado no Parlamento canadense na última semana.
Sputnik
"Apelo ao Presidente [Andrzej Duda] para que examine imediatamente os documentos para determinar se Yaroslav Hunka é procurado por crimes contra a nação polaca e judeus polacos", afirmou Czarnek em uma carta aberta publicada no X, antigo Twitter.
© Simon Ateba / X |
"As características de tais crimes constituem a base para solicitar a sua extradição do Canadá."
Hunka foi aplaudido na Câmara dos Comuns do país norte-americano, tendo sido também chamado de "herói ucraniano e canadense".
O veterano atuou na Primeira Divisão Ucraniana ou 14ª Divisão de Granadeiros da SS, também conhecida como Divisão Galícia por contar com muitos voluntários dessa região da Ucrânia.
Segundo a comunidade judia Amigos do Centro Simon Wiesenthal (que estuda o Holocausto), "não há dúvidas" que a 14ª Divisão de Granadeiros da SS, na qual participou Hunka, foi responsável por matar civis "com um nível de brutalidade e rancor inimagináveis".
A divisão era composta por voluntários, dos quais muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial. Outros viam nos nazistas aliados na conquista de autonomia perante Moscou.
Na tarde desta terça-feira (26), o presidente da Câmara dos Comuns do Canadá, Anthony Rota, anunciou a renúncia do cargo após o escândalo ganhar proporção mundial.
Hunka pode ter se reunido pessoalmente com Justin Trudeau e Zelensky
Em uma imagem publicada no Facebook, rede social pertencente à Meta (cujas atividades são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas), a nora de Yaroslav afirmou:
"Dedo [avô] está esperando na sala de recepção por Trudeau e Zelensky". Ainda não é claro se no momento em que a imagem foi veiculada Hunka já havia sido ovacionado pelo Parlamento. A introdução de Hunka foi feita pelo agora ex-presidente Anthony Rota.
O próprio Trudeau afirmou que a celebração de Hunka foi "extremamente perturbadora" e "profundamente embaraçosa para o Parlamento do Canadá e, por extensão, para todos os canadenses".
Ele não mencionou qualquer encontro pessoal com o veterano da SS, mas apelou a uma "resistência à propaganda russa".
Ministério das Relações Exteriores russo se pronuncia
O ministério das Relações Exteriores russo classificou a homenagem a Hunka como "a melhor maneira de caracterizar o regime do primeiro-ministro Justin Trudeau, que abraçou a russofobia desenfreada".
"Os colaboradores ucranianos que serviram aos nazis escaparam da responsabilização pelo genocídio nos territórios ocupados da União Soviética e da Europa para receber abrigo no Canadá após a Grande Guerra pela Pátria", disse a pasta, em comunicado divulgado hoje (26).
O texto acrescenta que "não é por acaso que existem monumentos aos líderes do nacionalismo ucraniano no país" e que a esmagadora maioria dos nazistas que receberam asilo, como Yaroslav Hunka, "estão vivendo os seus dias em segurança, honrados e cuidados como combatentes do comunismo russo".
"Por mais que certos membros do Parlamento canadense tentem pedir desculpa retrospectivamente depois de receberem uma tempestade de indignação da comunidade judaica e até mesmo do aliado de Ottawa, a Polônia, o fato é que a ideologia ultraliberal propagada no Canadá e permeada de ódio pela Rússia, a sua cultura, valores religiosos e tradicionais, têm essencialmente as mesmas raízes do nazismo", prossegue o documento. "Esperamos que forças saudáveis na sociedade canadense se pronunciem contra a nazificação da história e da vida cotidiana, encorajadas pelas autoridades do país, juntamente com a russofobia desenfreada."