O "Diário Oficial" da União publicou nesta terça-feira, 29, ato do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Marcos Antonio Amaro dos Santos, exonerando o coordenador-geral do Palácio do Planalto nas operações de segurança presidencial. Trata-se do coronel Carlos Onofre Serejo Luiz Sobrinho.
Tales Faria | UOL
Seu afastamento revela que o general Augusto Heleno armou uma cama de gato no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pronta para derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O general Heleno foi o ministro-chefe do GSI no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele era um dos mais raivosos integrantes do primeiro escalão do governo passado. Deixou como herança ao governo Lula, em cargos estratégicos do GSI, uma equipe com opositores radicais ao novo presidente da República.
Nos bastidores do Palácio do Planalto afirma-se que uma das causas do afastamento do GSI do tenente-coronel Serejo seriam as apurações do órgão sobre a atuação do militar no cargo, realizadas após requerimento da Comissão Parlamentar Mista do Congresso (CPMI).
Ao pedir a quebra do sigilo do tenente-coronel, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou em seu texto:
"Após análise do material encaminhado, verifica-se a necessidade de aprofundar as investigações, de modo a trazer os esclarecimentos necessários sobre o papel desempenhado pelo referido agente no GSI no período eleitoral, durante a existência dos acampamentos golpistas e nos desdobramentos do 8 de janeiro. Desse modo, é necessária a quebra do sigilo telemático conforme indicado no corpo do requerimento."
Desde que Lula tomou posse vários militares, incluindo oficiais superiores, foram exonerados do GSI. Ainda neste mês de agosto foi revelado que um relatório entregue pela Polícia Federal ao Palácio do Planalto apontou suspeições contra outro tenente-coronel do GSI, André Luís Cruz Correia.
O militar fazia parte de um grupo de oficiais superiores das Forças Armadas que discutiam o golpe de Estado. No governo atual, ele planejava a segurança presidencial nas viagens nacionais e internacionais. Teve acesso irrestrito ao presidente da República, por exemplo, nas idas de Lula à Bélgica, Colômbia e Argentina.
A participação do tenente-coronel Correia em grupos bolsonaristas radicais foi descoberta a partir de conversas no celular do ex-ajudante de ordem da Presidência, o também tenente-coronel Mauro Cid, que está preso e cujo sigilo foi rompido na Justiça.
Os grupos arquitetavam ataques a membros dos tribunais superiores, principalmente ao ministro Alexandre de Moraes, que comanda os processos contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
André Correia também acabou exonerado do GSI assim que o presidente tomou conhecimento do relatório da PF. Mas não sofreu punições do Exército.
A inação de chefes e agentes do GSI durante a invasão do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, resultou na primeira demissão de um ministro no atual governo, o general Gonçalves Dias.
Conhecido como G Dias, o general era um homem da confiança pessoal do presidente Lula. Nas conversas reservadas, ele tem dito que se sentiu mal assessorado no GSI e sem informações suficientes de assessores sobre os acontecimentos anteriores e imediatamente posteriores aos atos.
A primeira-dama, Janja da Silva, convenceu o presidente a não aceitar mais que o GSI comande sua segurança pessoal, que passou a ser exercida pela Polícia Federal.