Os parlamentares governistas da CPI de 8 de Janeiro veem como um caminho natural convocar militares do alto escalão para depor.
Felipe Pereira e Gabriela Vinhal | UOL, em Brasília
Antes considerada um risco para a estabilidade política, a medida de chamar generais para falar na comissão parece fundamental na investigação das invasões das sedes dos Poderes.
O general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, é um dos militares na mira dos governistas da CPI | Imagem: Roque de Sá/Agência Senado |
Antes da abertura da CPMI, estava sendo motivo de dúvidas se nós teríamos coragem de fazer isso. E que isso até podia até criar no governo atual uma instabilidade, ou algo com o Exército. E, de repente, não seria bom para a nação, traria realmente uma instabilidade. Só que nós vimos que essas dúvidas caíram por terra.Senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS)
O que mudou
Diversos episódios na CPI macularam a imagem dos militares. Houve declarações de depoentes e documentos que envolveram as Forças Armadas em episódios de natureza golpista.
Na quinta, por exemplo, o hacker Walter Delgatti afirmou que esteve no Ministério da Defesa várias vezes e que prestou uma espécie de consultoria para os técnicos da pasta que tentavam desacreditar o sistema eleitoral.
Ele também falou que ajudou a elaborar um documento sugerindo criar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas. O relatório do ministério divergiu dos resultados das demais entidades nacionais e estrangeiras de fiscalização.
Tudo isso que eu repassei a eles [militares] consta no relatório que foi entregue ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse.Walter Delgatti, hacker, à CPI
O Exército não quis comentar as declarações do hacker na comissão. Delgatti continua preso.
Na avaliação da senadora Soraya Thronicke, a aura que repousava sobre os militares se desmanchou. Ela acrescenta que situações claramente golpistas tiveram tolerância de integrantes das Forças Armadas.
Na avaliação da senadora Soraya Thronicke, a aura que repousava sobre os militares se desmanchou. Ela acrescenta que situações claramente golpistas tiveram tolerância de integrantes das Forças Armadas.
Não é normal reuniões como essas [com Delgatti para desacreditar as urnas], que já estão provadas que aconteceram. Assim a população vai achando que é normal acampar na frente de quartéis.Soraya Thronicke, senadora e membro da CPI
O deputado Rogério Correia (PT-MG) também diz ser necessário chamar militares para esclarecer seus atos antes, durante e depois dos atos de vandalismo em Brasília.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), aparecer fardado para prestar depoimento também está na lista de imagens que desgastaram os militares.
O coronel Jean Lawand Júnior também foi outro chamado a falar após ter enviado mensagem golpista num grupo de WhastApp.
O hacker disse que aceita fazer acareações com pessoas citadas em seu depoimento, incluindo militares. Isso faria as Forças Armadas serem ainda mais vinculadas às investigações.
Os deputados e senadores governistas miram nomes do alto escalão. A justificativa é que militares são fiéis à hierarquia e as atitudes golpistas em quartéis ocorreram com conhecimento da cúpula das Forças.
O general Gustavo Henrique Dutra é um nome que está no radar dos governistas. Ele estava à frente do Comando Militar do Planalto e teria interferido para que o acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército não fosse desmobilizado.
O ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, chefe da Defesa quando as reuniões mencionadas pelo hacker teriam ocorrido durante o governo Bolsonaro, pode entrar nessa lista. Interlocutores disseram que ele nega os encontros.
Na saída da sessão de quinta, a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), disse que avaliaria a possibilidade.
O depoimento do hacker também implicou coronel Marcelo Jesus, que atuava no Alto Comando do Exército. De acordo com Delgatti, ele foi o responsável por intermediar o seu contato com o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército entre março e dezembro do ano passado.
O coronel Jesus ainda teria participado de manifestações após a derrota de Jair Bolsonaro (PL), conforme o hacker.
Negociações para convocação
Eliziane Gama é favorável a ouvir os militares de alto escalão. Mas ela deve falar com o Palácio do Planalto antes de seguir com este plano. A ideia é saber qual a disposição do governo sobre o assunto.
O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), adota uma atitude neutra na comissão. Então ela sabe que, se chamar um depoente que crie situação delicada para a oposição, caso de um militar, Maia deve compensar pedindo para ir um nome de peso do governo.
Os integrantes da oposição têm tentado convocar o ministro da Justiça, Flávio Dino. Outra alternativa seria o coronel Aginaldo de Oliveira, comandante da Força Nacional de Segurança em 8 de janeiro. O assunto ainda será discutido.
Na terça-feira, haverá uma reunião entre os integrantes da CPI para decidir quais medidas vão ser adotadas.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), aparecer fardado para prestar depoimento também está na lista de imagens que desgastaram os militares.
O coronel Jean Lawand Júnior também foi outro chamado a falar após ter enviado mensagem golpista num grupo de WhastApp.
O hacker disse que aceita fazer acareações com pessoas citadas em seu depoimento, incluindo militares. Isso faria as Forças Armadas serem ainda mais vinculadas às investigações.
Lembrando que eu faço qualquer acareação, caso seja necessário aqui [na CPI]. Estou à disposição.Alto comando a ser investigado
Walter Delgatti, hacker, à CPI
Os deputados e senadores governistas miram nomes do alto escalão. A justificativa é que militares são fiéis à hierarquia e as atitudes golpistas em quartéis ocorreram com conhecimento da cúpula das Forças.
O general Gustavo Henrique Dutra é um nome que está no radar dos governistas. Ele estava à frente do Comando Militar do Planalto e teria interferido para que o acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército não fosse desmobilizado.
O ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, chefe da Defesa quando as reuniões mencionadas pelo hacker teriam ocorrido durante o governo Bolsonaro, pode entrar nessa lista. Interlocutores disseram que ele nega os encontros.
Na saída da sessão de quinta, a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), disse que avaliaria a possibilidade.
O depoimento do hacker também implicou coronel Marcelo Jesus, que atuava no Alto Comando do Exército. De acordo com Delgatti, ele foi o responsável por intermediar o seu contato com o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército entre março e dezembro do ano passado.
O coronel Jesus ainda teria participado de manifestações após a derrota de Jair Bolsonaro (PL), conforme o hacker.
Negociações para convocação
Eliziane Gama é favorável a ouvir os militares de alto escalão. Mas ela deve falar com o Palácio do Planalto antes de seguir com este plano. A ideia é saber qual a disposição do governo sobre o assunto.
O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), adota uma atitude neutra na comissão. Então ela sabe que, se chamar um depoente que crie situação delicada para a oposição, caso de um militar, Maia deve compensar pedindo para ir um nome de peso do governo.
Os integrantes da oposição têm tentado convocar o ministro da Justiça, Flávio Dino. Outra alternativa seria o coronel Aginaldo de Oliveira, comandante da Força Nacional de Segurança em 8 de janeiro. O assunto ainda será discutido.
Na terça-feira, haverá uma reunião entre os integrantes da CPI para decidir quais medidas vão ser adotadas.