Em 1º de dezembro passado, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) produziu um relatório sobre “ameaças extremistas à transição de governo” e o enviou para o gabinete de transição chefiado pelo hoje vice-presidente da República Geraldo Alckmin (PSB). Entre outros itens, o documento alertava quanto à presença de um militar extremista com “conhecimento de fabricação de explosivos” em um dos locais mais estratégicos das Forças Armadas: o Gabinete do Comandante do Exército em Brasília (DF).
Por Caio de Freitas Paes e Laura Scofield | Agência Pública
O indivíduo em questão era o cabo do Exército Pedro Henrique Santana Brandão, que, de acordo com a Abin, era ligado ao grupo extremista Defesa da Ordem e do Progresso (DOP) – que defendia a “revolução armada no Brasil por meio da prática de atos violentos, como sequestros ou assassinatos, contra a classe política”.
À Agência Pública, o Centro de Comunicação Social do Exército informou que, à época da produção do relatório de inteligência, Brandão estava, de fato, lotado no Gabinete do Comandante da força, posto que ocupou até o último dia 28 de fevereiro, quando foi “licenciado das fileiras do Exército”. O motivo da licença, no entanto, não foi revelado.
De acordo com a Abin, ele divulgava sua proximidade ao Comando do Exército, o que poderia destacá-lo em meio ao grupo de extremistas. Na foto que o identifica no relatório obtido pela reportagem, ele veste farda.
“Nas reuniões do grupo [extremista DOP] realizadas virtualmente, Pedro Brandão demonstra liderança, conduz as conversas e tem cobrado comprometimento e objetividade dos membros”, relatava a agência de inteligência ao gabinete de transição, que também foi informado que este mesmo militar defendia que seu grupo conseguisse “recursos financeiros por meios ilícitos” para realizar seus objetivos antidemocráticos.
Na avaliação da Abin, Brandão representava nível “médio” de ameaça graças a seu “acesso e/ou competência com armas de fogo e/ou explosivos”, “envolvimento recente em atividades extremistas”, “ameaças a figuras políticas ou instituições estatais no contexto político eleitoral” e “discurso radicalizado e/ou de apoio à ação violenta com fins ideológicos, incluindo a presença em grupos com objetivos extremistas”.
Entre os outros extremistas que compõem o DOP, na avaliação da inteligência, cinco representavam risco “médio” e um teve seu nível de ameaça categorizado como “alto” por ser o “membro mais radicalizado” e já ter defendido que fossem realizados “atos violentos” nas cidades dos integrantes, espalhadas em estados como Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Paraná.
Vale lembrar que a Pública foi a primeira a revelar, no último dia 21 de agosto, como a Abin avaliava que as eleições de 2022 trouxeram um elemento novo ao caldeirão político brasileiro – no caso, o envolvimento de grupos supremacistas e neonazistas em pautas políticas e manifestações.
Segundo outro relatório, produzido no último dia 28 de dezembro, “adeptos de movimentos de deslegitimização (sic) do Estado, de supremacismo branco e neonazismo” passaram a constituir “os vetores mais prováveis de ameaças extremistas ideologicamente motivadas no contexto da posse presidencial” de Lula.
A Pública tentou contato com Pedro Henrique Santana Brandão, mas até a publicação não houve retorno.