Sputnik
A Sputnik Árabe conduziu sua própria investigação em busca de informações sobre a venda de armas da OTAN da Ucrânia para países árabes.
Ao procurar no segmento de sombra da Internet chamado dark web, em que o IP (protocolo de Internet) permanece oculto, foi colocado um anúncio de venda de armas. No site se vendiam fuzis M4 e, de acordo com os dados, foram realizadas mais de 32 transações no referido anúncio. O preço era a partir de US$ 2.400 (R$ 12,6 mil) e a geolocalização era em Kiev.
Vale destacar que, de acordo com o Pentágono, o preço oficial dos fuzis de assalto M4 varia, dependendo da modificação da arma, entre US$ 600 (R$ 3,1 mil) e US$ 1.200 (R$ 6,3 mil). Jornalistas da Sputnik, desempenhando o papel de clientes, decidiram escrever ao vendedor: de acordo com o cenário a arma seria comprada por um houthi iemenita com apelido 3ladin_houthi.
Após contatos no site da dark web, o vendedor pediu para continuar a conversa no aplicativo de mensagens Wickr. A conversa ocorreu toda neste aplicativo. Para não levantar suspeitas entre os vendedores, as perguntas eram escritas em árabe e traduzidas para o inglês por meio de um tradutor on-line.
Em primeiro lugar, os jornalistas da Sputnik perguntaram diretamente ao vendedor se poderia ser entregue um carregamento de armas para o Iémen e obtiveram uma resposta afirmativa. Além disso, foi dito que a entrega deveria ocorrer por via marítima. A seguir, o vendedor perguntou: "O que você precisa exatamente, e em que quantidade?"
Os jornalistas suspeitaram que eles estavam prontos a vender não só fuzis, mas também outros itens. Então foi decidido descobrir o método exato de envio e transporte das armas e, entretanto, dar a entender que haveria interesse em quaisquer armas que eles pudessem vender.
Armamentos e métodos de envio
Pela resposta descobriu-se que os vendedores da Ucrânia poderiam vender não só fuzis, mas também granadas. As armas seriam entregues com as munições necessárias. O método de transporte também foi descrito em detalhes.
"As armas serão entregues em barris com óleo de motor. Em cada barril haverá dez fuzis M4, 2.000 cartuchos e 200 granadas. O transporte marítimo levará dez dias. No porto você receberá apenas barris com óleo de motor que não provocarão suspeitas", escreveu vendedor ucraniano.
Eles disseram aos jornalistas disfarçados que poderiam vender 20 barris: "Os 20 barris terão o total de cerca de 200 fuzis com munições e 400 granadas. Tudo isso terá um preço de cerca de US$ 400.000 [cerca de R$ 2,1 milhão]".
A quantidade proposta pelos contrabandistas ucranianos foi aceita. No decorrer da investigação, os jornalistas da Sputnik Árabe queriam obter o máximo de informações possível sobre a entrega, tendo em conta que o único porto controlado pelos iemenitas – Hodeida – está muito longe da Ucrânia e a entrega foi prometida em dez dias.
O vendedor descreveu o esquema: "Vamos preparar a carga, colocá-la em barris e carregar em um navio com a ajuda de nossos colegas na Polônia. O navio seguirá a rota indicada no mapa. A embarcação levará ajuda humanitária – geralmente eles não são inspecionados. Os 20 barris também não vão levantar suspeita."
Em seguida, o vendedor enviou um mapa com uma rota desenhada à mão. Acontece que os armamentos serão carregados no navio apenas ao largo da costa de Portugal.
E, uma vez que o lado ucraniano mencionou certos "colegas na Polônia", há suspeitas de que a máfia europeia de tráfico de armas possa ser envolvida nessa história.
No entanto, não se sabe como as armas chegariam da Polônia para Portugal. Após a transferência do depósito em criptomoedas no valor de US$ 400.000 por meio do sistema Monero XMR, de acordo com os contrabandistas ucranianos será enviado um rastreador on-line que fornecerá informações abrangentes sobre a logística: em qual navio se encontra a carga, de que porto saiu, quando chega ao porto de destino.
Para terminar a conversa, os jornalistas escreveram que iriam confirmar a conta (isso é necessário para fazer o depósito em criptomoeda) e retornar à transação.