RFI
Armas, dinheiro, sanções: os ministros das Relações Exteriores da UE reafirmaram nesta segunda-feira a sua disposição de continuar apoiando a Ucrânia e aumentar a pressão sobre Moscou, apesar da ameaça de corte no fornecimento de gás russo.
"Alguns líderes europeus disseram que as sanções foram um erro, uma falha. Não acho que seja um erro, é o que temos de fazer e continuaremos a fazê-lo", afirmou o chefe de diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, em resposta às críticas do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.
"Recuar e cumprir as exigências de Vladimir Putin não vai funcionar, nunca funcionou. É uma armadilha", alertou, por sua vez, o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kouleba, em discurso diante de chanceleres europeus reunidos em Bruxelas.
"Retirar as sanções seria fatal. É a nossa credibilidade que está em jogo", insistiu o ministro de Luxemburgo, Jean Asselborn.
Na sexta-feira (15), Viktor Orban denunciou as sanções europeias que classifica como "um erro" porque "não atingiram o seu objetivo e até tiveram o efeito contrário", de acordo com as palavras do premiê da Hungria. "A economia europeia deu um tiro nos pulmões e está asfixiada", completou ele.
Pelo contrário, as "sanções funcionam", sustentou Josep Borrell. "Elas estão atingindo fortemente Vladimir Putin e seus cúmplices, e seus efeitos na economia russa vão aumentar ainda mais", disse ele no fim de semana.
Inflação reforça críticas às sanções
Porém, os líderes europeus estão preocupados que a hostilidade pública às sanções cresça, à medida em que os preços dos combustíveis, gás e eletricidade já disparam na Europa.
A guerra travada pelo Kremlin na Ucrânia tem repercussões para os nossos cidadãos "que enfrentam preços muito elevados das matérias-primas e da energia", admitiu a nova ministra belga das Relações Exteriores, Hadja Lahbib.
"O verdadeiro objetivo da Rússia é o empobrecimento da Europa. Putin quer colocar a opinião pública contra os governos na esperança de substituí-los por forças radicais que sejam mais favoráveis à Rússia", denunciou Dmytro Kouleba.
Moscou bloqueia os portos ucranianos e já começou a reduzir as suas entregas de gás para países da UE, alguns dos quais, como a Alemanha e a Itália, são muito dependentes do abastecimento russo.
“A Rússia está tentando nos desmoralizar”, acusou Anna Lührmann, a ministra alemã de Assuntos Europeus, dizendo estar pronta para “todo tipo de cenário”.
Preocupação com fornecimento de gás
Berlim teme o fechamento total do gasoduto Nordstream, por onde transita um terço dos 153 bilhões de metros cúbicos de gás comprados anualmente pela UE. Atualmente, o equipamento está em manutenção.
A UE procura outros fornecedores para suprir suas necessidades. Um acordo permitirá dobrar as importações do Azerbaijão "em poucos anos", anunciou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta segunda-feira, durante uma viagem a Baku. Em 2021, o Azerbaijão forneceu 8 bilhões de m3 para a UE.
Contudo, diversificar os fornecedores poderá não ser suficiente. A União Europeia (UE) terá de reduzir a sua demanda de gás para aumentar os seus estoques, se quiser sobreviver ao inverno sem o gás russo. O alerta foi feito nesta segunda-feira pelo diretor da Agência Internacional de Energia (IEA). Fatih Birol disse estar "preocupado com os próximos meses".
"Não devemos contar apenas com recursos de gás não russos: eles simplesmente não serão suficientes em volume para substituir as entregas da Rússia", sublinha Birol, em um artigo publicado por sua organização. Isso "mesmo se a oferta da Noruega e do Azerbaijão flua na capacidade máxima, que as entregas do norte da África se aproximem do nível do ano passado e que o crescimento dos fluxos de GNL se mantenha na mesma taxa do primeiro semestre", acrescentou.
A Rússia também está bloqueando a exportação de cerca de 20 milhões de toneadas de cereais da Ucrânia e "queimando as colheitas do país", lamentou Jean Asselborn, chefe da diplomacia de Luxemburgo,
A Turquia e as Nações Unidas negociam um acordo entre os dois lados el guerra. Vladimir Putin e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discutirão o assunto em uma reunião marcada para esta terça-feira (19), em Teerã.
Questão “de vida ou morte”
Retomar as exportações de grãos da Ucrânia é uma "questão de vida ou morte" para dezenas de milhares de pessoas, insistiu Borrell. Ele disse estar "esperançoso" de que um acordo seja alcançado. Mas "temos dúvidas sobre a boa fé da Rússia", admitiu um alto funcionário europeu.
Em Bruxelas, os ministros europeus pediram a continuidade das ações de apoio à Ucrânia no plano econômico, político e militar. O grupo deu o seu aval às novas medidas apresentadas sexta-feira pela Comissão Europeia, incluindo um embargo às compras de ouro da Rússia, conforme anunciou a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna.
Eles também aprovaram a liberação de uma quinta parcela de € 500 milhões do "European Peace Facility" para financiar equipamentos militares e armas fornecidos à Ucrânia.
(Com informações da AFP)