Stéphane Siohan | RFI em Kiev
Em tempos de guerra, o Estado ucraniano precisa caçar agentes russos mesmo dentro de seus próprios serviços. O presidente Volodymyr Zelensky decidiu sacrificar um nome importante de sua ascensão política: Ivan Bakanov, um amigo de infância e um dos organizadores de sua conquista do poder.
Ivan Bakanov, ex-chefe do serviço de segurança da Ucrânia. Em Kyiv, em 16 de julho de 2019. AP - Efrem Lukatsky |
Ivan Bakanov é considerado como um irmão de Zelensky. Os dois homens são amigos próximos desde a adolescência. Advogado de formação, Bakanov se tornou sócio de Zelensky em sua produtora de audiovisual. Também foi ele quem montou a sociedade offshore do clã Zelensky, revelada nas investigações que ficaram conhecidas como Pandora Papers, no ano passado.
Em 2019, quando Volodymyr Zelensky decidiu embarcar na aventura presidencial, Ivan Bakanov foi uma peça essencial em sua campanha: foi ele quem criou o partido político "Servidor do Povo".
Sem experiência
Uma vez eleito, Zelensky viu em Bakanov alguém em quem ele podia confiar, nomeando o amigo como chefe do SBU, os serviços secretos ucranianos, ainda que Bakanov não tivesse experiência na área de inteligência.
Como resultado, o balanço do trabalho dele como chefe dos serviços secretos é questionável: de acordo com diversas fontes, Bakanov se mostrou pouco profissional e sabotou deliberadamente as reformas necessárias ao SBU. Com mais de 30 mil funcionários, a instituição é considerada inchada e altamente suscetível à corrupção e à influência russa.
Em 2020, Ivan Bakanov nomeou executivos da SBU que se tornaram agentes duplos do FSB, o Serviço de Segurança da Federação Russa, especialmente na região de Kherson. A perda de regiões no sul do país pode estar atribuída às decisões de Bakanov. No mundo implacável do poder, Zelensky se vê forçado a matar politicamente um dos homens que o acompanharam até o topo.