Folha de S.Paulo
SÃO PAULO, SP - As Forças Armadas britânicas passaram a proibir militares que atuem em missões no exterior de contratar o serviço de profissionais do sexo. A medida, que segundo o jornal The Guardian não tem precedentes, é parte de esforços para limpar a imagem e preservar a instituição, depois de virem à tona denúncias sobre violência e exploração sexual envolvendo soldados.
Robert Atanasovski | AFP |
O secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, justificou a decisão afirmando ser necessária uma mudança de atitude nas Forças Armadas. "Queremos que mais e mais mulheres estejam em nossas fileiras e temos que ter em mente tudo o que isso significa em diferentes ambientes. Precisamos definir parâmetros e deixar muito claro o que é aceitável", disse.
Militares que desrespeitarem a regra e fizerem sexo em troca de pagamento poderão ser demitidos e, no caso de a infração ser cometida em países onde a prostituição é ilegal, até processados. A nova proibição não será aplicada no Reino Unido.
O comportamento de soldados britânicos no exterior passou a ser alvo de escrutínio mais intenso depois da revelação do assassinato, em 2012, da jovem queniana Agnes Wanjiru, 21. Ela foi encontrada morta nas proximidades de um acampamento usado pelo Exército, e o crime, cometido por um militar, teria sido acobertado por oficiais das Forças Armadas.
Investigações posteriores revelaram que soldados britânicos frequentemente pagavam por sexo no país do leste africano -- no Quênia, a prostituição não é ilegal.
Em 2020, novas críticas vieram depois que se revelou que centenas de integrantes de um batalhão de paraquedistas procuraram ajuda médica e precisaram passar por confinamento depois de manterem relações com profissionais do sexo.
O caso se deu novamente no Quênia, e à época um documento divulgado pelas Forças Armadas acusou os militares de terem pouca disciplina.
Perguntado sobre as razões da demora em implantar uma medida do tipo, Wallace desconversou, segundo o Guardian. "Não pergunte para mim, eu sou o secretário que acabou de assumir. Eu servi ao Exército em 1991, essa é uma geração diferente e as coisas estão diferentes."
A nova política do Ministério da Defesa britânico, chamada de "Tolerância Zero à Exploração Sexual e ao Abuso", prevê que, ao realizar atividades de defesa fora do Reino Unido, os militares estão "proibidos de praticar 'sexo transacional' em todos os momentos".
A expressão é definida como "pagar ou oferecer pagamento em troca de sexo ou outros serviços sexuais", e a proibição se aplica independentemente de a prostituição ser legal ou não nos países onde as forças britânicas estão servindo.