UOL/FOLHAPRESS
SÃO PAULO, SP - Nas imagens, o homem aparece falando com um dos militares quando é atingido por uma moto pilotada por um segundo policial, que ordena que ele "deite no chão", já derrubando o entregador. Imobilizado, o homem abordado ainda recebe um chute de um dos agentes, que saca a arma na sequência.
"Eu estou trabalhando, não sou ladrão, não", fala o entregador ao final do vídeo, gravado por uma testemunha não identificada.
As imagens ganharam repercussão na tarde de ontem, após serem compartilhadas por Paulo Lima, conhecido como Galo de Luta, líder do movimento dos entregadores antifascistas. "Em Alphaville é diferente", escreveu.
Em nota, o Exército confirmou o caso, mas declarou que o homem "furou um bloqueio e derrubou um militar" que participava de uma atividade de estágio, parte obrigatória na formação de novos batedores especialistas em fazer escoltas e policiamento em motos, protegendo o transporte de autoridades e de cargas militares, como armamento, munição e blindados.
"Devido a essa atitude, batedores perseguiram o motoqueiro para abordá-lo", afirmou a nota do Comando Militar do Sudeste (CMSE), responsável pelo setor dos policiais, enviada à reportagem.
Apesar da justificativa, os envolvidos no ocorrido foram afastados de serviço e o CMSE determinou a abertura de um inquérito militar e de processo administrativo para apurar o caso.
"Cabe ressaltar que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de conduta imprópria por parte de seus integrantes, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com a lei, com os valores militares ou com a ética castrense", completou o comunicado.
A identidade dos policiais não foi divulgada pela companhia nem pelos denunciantes. A reportagem não conseguiu indicação dos representantes legais dos policiais para obter manifestação de suas defesas.
O nome do entregador não é citado na publicação que denunciou a abordagem. Ele usava uma mochila de entrega da iFood.
Procurada, a administração do aplicativo disse repudiar qualquer forma de agressão ou discriminação contra entregadores, mas que ainda não identificou o colaborador em seu banco de dados.
"A empresa está buscando identificar se o entregador está cadastrado na plataforma para prestar todo o suporte necessário. Como empresa brasileira e cientes do nosso papel na geração de oportunidades e segurança desses trabalhadores, estamos empenhados na conscientização de clientes, parceiros e a sociedade em geral sobre a necessidade da valorização e respeito a esses profissionais", afirmou em nota oficial.