RFI
"A França procedeu hoje ao regresso para o território nacional de 35 menores franceses que se encontravam em campos do nordeste da Síria. Esta operação inclui o regresso de 16 mães desses mesmos campos", afirma o comunicado oficial. As mães foram entregues às autoridades policiais e judiciais, enquanto as crianças foram encaminhadas aos serviços de assistência à infância.
França repatria 35 crianças e 16 mães detidas em campos de prisioneiros jihadistas na Síria © GIHAD DARWISH/AFP |
Entre as mulheres repatriadas está Emilie Konig, uma das jihadistas francesas mais conhecidas dos serviços de inteligência. Natural de Lorient, cidade da região noroeste da França, a mulher de 37 anos viajou para a Síria em 2012. Ela é acusada de ter recrutado combatentes para o grupo Estado Islâmico e ter convocado jihadistas para ataques no Ocidente. Ela aparece regularmente em vídeos de propaganda extremista e havia sido colocada pela ONU em uma lista de combatentes perigosos.
Alvo de um mandado de prisão, Konig deve ser indiciada e depois presa, após comparecer diante da Justiça francesa. Ela tem cinco filhos, incluindo três nascidos na Síria que foram repatriados para a França no início de 2021.
Das mulheres de jihadistas que retornaram nesta terça-feira, oito foram detidas pela polícia "em cumprimento a mandados de busca" e "oito estão sujeitas a mandados de prisão", explicou a Procuradoria Nacional Antiterrorista, em um comunicado à imprensa. Trata-se da maior leva de mães e crianças repatriadas de uma única vez desde a queda do "califado" do EI, em 2019.
As 35 crianças se somam a outras 126 cujos pais estavam em territórios tomados da organização terrorista e que já foram repatriados para a França, desde 2016.
Tema espinhoso
O retorno das esposas e dos filhos de jihadistas é um assunto espinhoso para o governo francês. Antes dessa última operação de repatriação, 200 menores e 80 mães ainda estavam em campos de prisioneiros controlados pelos curdos.
Em 14 de dezembro de 2021, uma francesa de 28 anos com diabetes morreu na Síria, deixando uma menina de 6 anos órfã. No final de abril, a Defensora dos Direitos, Claire Hédon, exortou o governo a repatriar “o mais rapidamente possível” todas as crianças francesas detidas nos campos de prisioneiros da região nordeste do país.
A relutância da França em ceder a esses apelos é criticada, há vários anos, por associações como o Coletivo de Famílias Unidas, que reúne parentes de franceses que partiram para a zona iraquiano-síria. Em um comunicado de imprensa publicado nesta terça-feira, a associação disse "esperar" que este último repatriamento "marque o fim desta política abjeta de caso a caso, o que equivale a separar filhos, irmãos e arrancar filhos de suas mães".
Para as famílias que lutam há anos para fazer o governo cumprir o direito internacional, esta operação é um sinal de esperança. Em entrevista à RFI, Thierry Roy, membro do Coletivo de Famílias Unidas, lamenta a permanência de crianças francesas nesses campos enquanto existem infraestruturas na França para acolhê-las. “Por que o nosso presidente não usou um avião para repatriar todos? É uma necessidade da sociedade trazer todo mundo de volta para acalmar esse drama”, declarou.
O Comitê dos Direitos da Criança da ONU também denunciou as condições de vida nos campos como "terríveis", "colocando suas vidas em perigo por vários anos", de acordo com as conclusões de um relatório publicado em fevereiro passado.
No final de junho, a Bélgica e a Alemanha decidiram repatriar quase todos os seus cidadãos que estavam nos campos de prisioneiros da Síria.
(Com informações da AFP e RFI)