RFI
Por ocasião de sua primeira visita ao Oriente Médio desde que assumiu a presidência norte-americana, Joe Biden assinou com o primeiro-ministro israelense Yair Lapid a "Declaração de Jerusalém sobre a parceria estratégica entre os Estados Unidos e Israel", dedicada em parte ao tema nuclear.
Joe Biden et Yaïr Lapid après la signature d ela déclaration de Jérusalem le 14 juillet 2022. AP - Atef Safadi |
De acordo com esse texto, os Estados Unidos “comprometem-se a nunca permitir que o Irã adquira armas nucleares e a usar todos os elementos de seu poder nacional para garantir isso”.
A atitude a adotar em relação a Teerã é motivo de divergência entre os Estados Unidos, que gostariam de tentar a via diplomática ao ressuscitar o acordo de 2015 destinado a garantir a natureza civil do programa nuclear iraniano, e Israel, que se opõe a este pacto e quer a manutenção das sanções contra o Irã.
Considerado por especialistas como a única potência nuclear do Oriente Médio, Israel acusa o Irã, seu inimigo declarado, de tentar construir a bomba atômica, o que este país nega categoricamente.
"Foi um erro gigantesco do último presidente desistir do acordo porque eles (os iranianos) estão mais próximos das armas atômicas hoje do que antes", disse Biden em um comunicado.
Questionado se estava pronto para usar a força para garantir que o Irã não obtenha armas atômicas, Biden respondeu: “Sim, se for o último recurso”.
Biden disse ser a favor da via diplomática com Teerã, mas especificou que os Estados Unidos não vão "esperar para sempre" que o Irã chegue a um acordo destinado a reviver o pacto moribundo de 2015. As negociações sobre esse tema estão paralisadas.
Linguagem da força
Os líderes israelenses repetiram nos últimos meses que seu país pretende manter sua "liberdade de ação" contra o Irã mesmo no caso de um acordo nuclear.
"A única coisa que vai parar o Irã é saber que, se continuar a desenvolver seu programa nuclear, o mundo livre usará a força. A única maneira de detê-lo é com uma ameaça militar crível", disse Lapid durante uma coletiva de imprensa, ao lado de Biden.
No entanto, na "Declaração de Jerusalém", Washington se compromete a "preservar e fortalecer a capacidade de Israel de deter seus inimigos e de se defender contra qualquer ameaça".
Israel teme, entre outras coisas, que o fim das sanções reabasteça os cofres do Irã, o que permitiria aumentar seu apoio a seus aliados regionais, como o Hezbollah libanês e o Hamas palestino.
Os Estados Unidos, que estão tentando estender o processo de normalização entre Israel e países árabes lançado por Donald Trump, "comprometem-se a trabalhar com outros parceiros diante da agressão iraniana e das atividades desestabilizadoras", via, por exemplo, o Hezbollah, o Hamas ou a Palestina Jihad Islâmica, de acordo com o comunicado.
O Hamas, que governa Gaza, advertiu nesta semana "contra a ampliação do processo de normalização" e denunciou a visita de Biden como "incorporando o apoio absoluto dos Estados Unidos à ocupação (israelense)".
A "Declaração de Jerusalém" também enfatiza que Estados Unidos e Israel cooperarão para desenvolver sistemas de defesa a laser para "defender o espaço aéreo de Israel".
Assim que ele chegou a Tel Aviv na quarta-feira (13), o exército israelense apresentou a Biden vídeos mostrando interceptações de drones pelo "Iron Beam", um novo dispositivo de defesa aérea a laser.
Ajuda aos palestinos
A visita de Joe Biden a Israel - sua décima no total, mas a primeira como presidente – tem por objetivo reafirmar a influência de Washington em uma região que até agora não tem sido a prioridade do governo democrata, especialmente concentrado nas relações com a China e a Rússia.
Enquanto quase todas as administrações americanas direcionaram muitos esforços diplomáticos para o Oriente Médio, com grandes iniciativas para o processo de paz israelense-palestino, no governo de Joe Biden, até agora, a região permaneceu em segundo plano.
O presidente planeja, de acordo com um alto funcionário dos EUA, anunciar na sexta-feira (15), durante uma reunião com o líder palestino Mahmoud Abbas na Cisjordânia ocupada, uma ajuda "significativa" para hospitais em Jerusalém Oriental e um projeto para desenvolver uma rede 4G na Cisjordânia e em Gaza.
Depois de Israel, Biden vai para a Arábia Saudita, rival regional do Irã, na tarde de sexta-feira. Lá, ele pode anunciar medidas que favoreçam uma hipotética normalização entre o reino saudita e Israel. O presidente norte-americano também deve convencer essa potência petrolífera a abrir as comportas para acalmar os preços no mercado mundial de energia.
(Com informações da AFP)