Cézar Feitoza | Folha de S.Paulo
BRASÍLIA, DF - O comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, afirmou nesta quarta-feira (6) que a força faz "muito bem" o controle do armamento dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), grupo beneficiado por normas editadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
General Marco Antônio Freire Gomes | Reprodução |
A declaração foi dada uma semana após o Exército admitir, em resposta ao Instituto Sou da Paz via LAI (Lei de Acesso à Informação), que não consegue detalhar quais são os tipos de armas que os atiradores e colecionadores possuem.
"O controle do armamento o Exército faz muito bem. Agora, quando esse armamento é desviado, roubado, passa a ser um controle policial. E posso garantir que o nosso sistema tem ajudado as polícias a mitigar essa questão", disse durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.
"Descontrole, efetivamente do ponto de vista do Exército com os CACs, não acontece", completou o comandante.
Atualmente, cerca de 1,5 milhão de armas estão registradas no Sigma (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas). Os CACs respondem por mais da metade desse acervo (pouco mais de 884 mil), sendo que o restante é formado pelo armamento particular de militares, incluindo policiais e bombeiros.
Na resposta ao instituto, o Exército reconheceu que erros no preenchimento do Sigma levaram à inclusão nas planilhas de armas que não são permitidas para os CACs, como morteiros e canhões.
Durante a audiência, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, defendeu o armamento da população -- uma das principais bandeiras de Bolsonaro.
"Não é qualquer um que chega na esquina e compra uma arma. Temos legislação rigorosa, testes, temos que comprovar a idoneidade e a qualificação para atirar uma arma. E temos também um decréscimo muito grande, mesmo com o aumento dos CACs, dos índices de criminalidade com arma de fogo. Com essa comparação não parece que seja tão perigoso armar gente de bem."
Pesquisa Datafolha publicada no fim de maio mostra que 7 em cada 10 brasileiros rejeitam as ideias do presidente Bolsonaro para o setor e discordam da tese que que mais armamentos trazem mais segurança para a população.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Publica divulgados na semana passada, o número de pessoas com licenças para armas de fogo disparou sob Bolsonaro e registrou aumento de 473% em quatro anos. Em 2018, antes de o presidente assumir, havia 117,4 mil registros ativos para os CACs.
No ano seguinte, esse número saltou para 197,3 mil registros, uma alta de 68%, e seguiu em curva ascendente até chegar em 673,8 mil em junho deste ano -- o maior valor da série histórica, que começou em 2005.
Nesse caso, além do Sigma, o anuário considerou as informações do Sinarm (Sistema Nacional de Armas), vinculado à Polícia Federal.