ONU News
Na conversa com a ONU News, em Nova Iorque, Hamilton Mourão declarou que as eleições no Brasil serão pacíficas e o vencedor será empossado em 1 de janeiro “sem maiores problemas”. Ele vislumbra um possível retorno de tropas brasileiras para missões de paz da ONU.
ONU News: Vice-presidente, é bem-vindo a essa entrevista à ONU News.
ONU News: Vice-presidente, a busca de paz no mundo inteiro mostra-se cada vez mais relevante. Veio aqui falar de uma situação em que o Brasil foi muito relevante, o Haiti. Mas temos várias outras. Como é que as operações de paz estão na agenda política brasileira neste momento?
HM: Olha, o Brasil desde 1956, né, tem participado ininterruptamente das operações de paz da ONU. Seja com envio de tropa, né, nós tivemos tropa tanto lá na região do Suez, tivemos tropas em Angola, tivemos tropa em Moçambique, tivemos tropa no Haiti, tivemos tropa no Líbano. E com observadores militares, o pessoal do staff, nos mais diversos locais. Então é uma questão de prioridade para as Forças Armadas brasileiras e, óbvio, para o nosso governo.
ON: Vice-presidente, temos de um lado, a questão de prioridades, mas também o lado prático. Há ideia de se estender esta presença do país, por exemplo?
HM: É, Eleuterio, o que ocorre é que o Brasil teve uma participação muito grande ao longo de quase 14 anos no Haiti. Então foi importantíssimo para o enriquecimento dos oficiais, dos praças, das Forças Armadas brasileiras ter essa experiência. Mas isso requer recursos, e no presente momento, com essa questão da pandemia, a questão do conflito russo-ucraniano, o governo tem sido obrigado a utilizar recursos para socorrer aquelas pessoas mais necessitadas por causa de problema do preço dos combustíveis, aumento de preço dos alimentos...Então tem sobrado muito pouco para que se pudesse investir numa participação direta, né, das tropas do terreno como você colocar. Agora, nós vamos ter eleições no Brasil, e eu acredito que, até o final do ano, essa questão melhore, e talvez, ano que vem, a gente consiga abrir espaço dentro do orçamento nacional para que a gente desdobre, efetivamente, tropas em apoio às operações de paz que estão sendo realizadas.
ON: Porque há, de certa forma, alguma preocupação com as situações como o Haiti, da qual falou há pouco tempo. As gangues voltaram. O Brasil teve uma participação muito importante. Vemos agora, mulheres, meninas ameaçadas. Vemos agora a situação alimentar que está difícil por causa da atuação de gangues que (as tropas do) Brasil já tinham removido anteriormente como parte da cooperação da ONU.
Como se sente o Brasil neste cenário. Frustração? Acha que há alguma esperança?
HM: Na realidade, né, o Brasil como fez parte do ramo militar da Missão. E o ramo militar da Missão tem uma tarefa que está subordinada ao ramo político, que é o representante especial do secretário-geral, que é quem realmente dita as diretrizes para o envolvimento tanto para o staff civil como o da força militar. Então, o Brasil participou daquilo que nós compreendemos que foram as nossas responsabilidades. Acredito que nós fomos muito bem-sucedidos, naquele momento, mas nesse caso particular do Haiti, eu acho que a comunidade internacional tem que entender que tem que haver um apoio maior àquele país. Não é uma quantidade tão grande assim de recursos financeiros que seriam necessários para que o povo haitiano consiga ter dignidade.
ON: Essa concertação, o Brasil estaria pronto para apoiar?
HM: O Brasil entende seu papel perante o concerto das nações. É óbvio que hoje um apoio financeiro, de parte do nosso governo, fica um tanto quanto complicado. Mas se, por caso, voltar a ocorrer a necessidade, apesar de hoje o Haiti não querer mais tropa da ONU lá. Hoje, eles desejam mais um apoio de força policial, né? Isso poderá ser perfeitamente estudado pelo governo brasileiro.
ON: General, nós falamos sobre meninas e mulheres vítimas de situações como as do Haiti. Mas agora, há cada vez, esta posição de que mulheres na política ajudariam a resolver conflitos em situação de violência. Qual é a sua opinião?
HM: Eu vejo como uma evolução natural essa participação feminina. Principalmente porque em áreas de conflito como nós temos no Haiti, como eu tive a oportunidade de ver lá em Angola, e como a gente vê em outros lugares, os que mais sofrem são as mulheres, as crianças, os idosos. E, é óbvio, que a presença de mulheres nessa questão ligada aos direitos humanos e a própria presença de mulheres nas forças de paz, eu considero fundamental para que a missão dessas pessoas seja cumprida de uma forma mais eficiente e eficaz.
ON: Vice-Presidente, estamos numa época em que se registram os conflitos mais violentos desde a Segunda Guerra Mundial. O Brasil está agora a presidir o Conselho de Segurança. Em que outras áreas é que pode se consolidar essa cooperação com as Nações Unidas para lidar com essa situação?
HM: Vamos lembrar que o Brasil é um dos primeiros signatários aqui da Carta das Nações Unidas. Tivemos a grande figura de Oswaldo Aranha, o primeiro secretário aqui. Então, alguém que realmente participou. E o Oswaldo Aranha é natural do meu estado-natal no Brasil, o Rio Grande do Sul, é um gaúcho como eu. E o nosso país, dentro da sua regra constitucional, ele joga de acordo com aquilo que prevê a Carta da ONU na busca constante da solução pacífica dos conflitos, do respeito da soberania das nações. Do respeito à autodeterminação dos povos. Então, eu acho que o Brasil está alinhado perfeitamente com os interesses maiores das Nações Unidas e que representam os interesses maiores da humanidade.
ON: Vice-presidente, vamos agora à cooperação com a Cplp, o Brasil é também muito importante. Há esta tendência de se alinhar a cooperação econômica. O que acha que se pode avançar com um maior impulso do Brasil.
HM: Olha, eu, ano passado, tive a oportunidade de participar da reunião da CPLP representando o presidente Bolsonaro. Para mim, foi um momento extremamente honrado, um momento significativo da minha vida. Não só por poder retornar ao país, onde eu estive um ano em missão de paz, e ver o progresso que Angola teve nesse período como também essa questão de a gente avançar na Cplp, de não ser um mero clube para as pessoas se reunirem e fazerem debates sobre temas bonitos, mas não produzirem nada em termos concretos para as pessoas que habitam diferentes países. Nessa questão econômica, eu vejo que a África pode ser a grande e nova fronteira de produção de alimentos no momento, em que o mundo, vê o espectro da fome rondando.
Então, o Brasil possui a tecnologia avançada para produção de alimentos e está pronto para utilizar as nossas agências de pesquisa como a Embrapa, no sentido de apoiar os países africanos e principalmente aqueles que fazem parte da Comunidade, no sentido de se tornarem grandes produtores de alimentos, resolverem não só o seu problema de segurança alimentar, mas também alimentarem o resto do mundo.
ON: Vice-presidente, o sr. esteve em Angola. Acredito que saiba do que está a falar quando fala da produção alimentar em África. O senhor foi ligado a uma missão de paz, e agora como líder, o sr. está ligado a um gabinete. Como sente que faz a diferença e que exemplos similares podem fazer a diferença no futuro para a paz internacional?
HM: Eu acho que a experiência, Eleutério, que esta experiência adquirida, 25, 26 anos atrás, ela seja utilizada neste momento, em que eu faço parte do governo, como vice-presidente da República, então essa experiência me permite, quando eu tiver que debater assuntos ligados à questão africana, e em particular ao país de Angola, porque eu estive no terreno. Eu vi a realidade daquela população, eu vi o potencial do país em termos de produção de energia, em termos de litoral piscoso, em termos do planalto central angolano, que é muito similar ao cerrado brasileiro, onde hoje nós produzimos soja, milho, trigo e outros cereais. Consequentemente, eu vejo que com o apoio mútuo, que eu acho que é o fundamental, porque quando dois países ou mais se juntam sempre têm que buscar o benefício mútuo. Então, eu acho que essa experiência e o momento que eu estou vivendo, na minha vida atual, como político, me dá mais embasamento para eu poder dialogar sobre esses assuntos.
ON: É político e, naturalmente, não deixamos passar esse assunto. Pré-campanha no Brasil, a campanha daqui a mais um pouco. E a atenção do mundo está virada para o país. Têm surgido tensões devido a posições bem demarcadas. O que se pode fazer, ou se garante fazer, para que o processo corra de maneira pacífica?
HM: Olha...existe muito, vamos dizer assim, disse me disse, né? Vamos usar um termo. É óbvio que é um momento de polarização eleitoral entre o presidente Bolsonaro, que é o candidato à reeleição, e o candidato da oposição que é o presidente Lula. Há pressões de parte a parte, mas a minha visão muito clara é que nós chegaremos a outubro, no mês das eleições, sem maiores problemas, sem maiores confusões, e aquele que a população brasileira sufragar, eleger, irá tomar posse no dia primeiro de janeiro, sem maiores problemas.
ON: Na liderança no Conselho, o Brasil está na liderança também de grande parte da comunidade internacional, sob que perspectiva é que acha que o mundo pode ser unir em torno da Ucrânia?
HM: Essa questão, Eleutério, o Brasil desde o primeiro momento esteve alinhado aqui com o posicionamento das Nações Unidas em relação a esse conflito. Exatamente dentro daquilo, que eu já comentei anteriormente, que prevê a nossa Constituição, do respeito à soberania, à integridade da nação, à autodeterminação do povo ucraniano, uma busca de uma solução pacífica para essa disputa entre os dois países. E, óbvio, existem sanções que foram aplicadas na Rússia e que na minha visão não estão surtindo o efeito necessário. Então, eu acho que é mais importante do que nunca que a gente use os instrumentos da diplomacia no sentido de parar essa guerra, que está causando tanto dano à Ucrânia e também à Rússia com muita gente morrendo, e não é necessário morrer gente.
ON: E aqui nos corredores, é assim que aborda a postura neutra do Brasil quando lhe perguntam, por exemplo, por que ele está neutro?
HM: Na realidade, o Brasil não está neutro. O Brasil condena o conflito. Agora, nós temos interesses tanto com a Ucrânia como com a Rússia. É uma questão de pragmatismo, de flexibilidade. O Brasil não concorda com o conflito. O Brasil condena o conflito, mas é uma questão que tem que ser resolvida pela via diplomática. E o Brasil está pronto para participar na vida diplomática para acabar com essa guerra.
ON: Vice-presidente, algo mais que ficou por abordar nessa nossa conversa?
HM: Eu acho que o Brasil tem uma posição papel muito clara em relação ao papel das Nações Unidas, ao papel da ONU e principalmente do Conselho de Segurança. Vamos lembrar que quando as Nações Unidas foram criadas no pós-Segunda Guerra Mundial, tinham 51 membros. Hoje, são 193 praticamente quatro vezes mais. Então, eu acho que nós devíamos ter uma nova dimensão em termos de membros permanente do Conselho de Segurança para que ele retratasse, fielmente, o que é o equilíbrio de poder a importância que cada região do mundo tem dentro desse concerto de 193 nações.
ON: Teve esse tipo de conversa aqui nos corredores?
HM: Não. Hoje, eu não tive a oportunidade de falar sobre isso porque a minha participação aqui foi extremamente limitada, mas já que você me abriu essa oportunidade, eu coloco essa visão do nosso país.
ON: Vice-presidente, muito obrigado por esta conversa com a ONU News. Foi um prazer muito grande tê-lo aqui. Espero que continue tendo muito bom trabalho.
HM: Eleutério, eu que te agradeço a oportunidade e esse diálogo que nós tivemos para mostrar a realidade que estamos vivendo e principalmente o posicionamento do Brasil sobre esses temas.
Hamilton Mourão: Obrigado, Eleutério. Satisfação muito grande poder estar aqui neste prédio da ONU e poder conversar com você.
ONU News: Vice-presidente, a busca de paz no mundo inteiro mostra-se cada vez mais relevante. Veio aqui falar de uma situação em que o Brasil foi muito relevante, o Haiti. Mas temos várias outras. Como é que as operações de paz estão na agenda política brasileira neste momento?
HM: Olha, o Brasil desde 1956, né, tem participado ininterruptamente das operações de paz da ONU. Seja com envio de tropa, né, nós tivemos tropa tanto lá na região do Suez, tivemos tropas em Angola, tivemos tropa em Moçambique, tivemos tropa no Haiti, tivemos tropa no Líbano. E com observadores militares, o pessoal do staff, nos mais diversos locais. Então é uma questão de prioridade para as Forças Armadas brasileiras e, óbvio, para o nosso governo.
ON: Vice-presidente, temos de um lado, a questão de prioridades, mas também o lado prático. Há ideia de se estender esta presença do país, por exemplo?
HM: É, Eleuterio, o que ocorre é que o Brasil teve uma participação muito grande ao longo de quase 14 anos no Haiti. Então foi importantíssimo para o enriquecimento dos oficiais, dos praças, das Forças Armadas brasileiras ter essa experiência. Mas isso requer recursos, e no presente momento, com essa questão da pandemia, a questão do conflito russo-ucraniano, o governo tem sido obrigado a utilizar recursos para socorrer aquelas pessoas mais necessitadas por causa de problema do preço dos combustíveis, aumento de preço dos alimentos...Então tem sobrado muito pouco para que se pudesse investir numa participação direta, né, das tropas do terreno como você colocar. Agora, nós vamos ter eleições no Brasil, e eu acredito que, até o final do ano, essa questão melhore, e talvez, ano que vem, a gente consiga abrir espaço dentro do orçamento nacional para que a gente desdobre, efetivamente, tropas em apoio às operações de paz que estão sendo realizadas.
ON: Porque há, de certa forma, alguma preocupação com as situações como o Haiti, da qual falou há pouco tempo. As gangues voltaram. O Brasil teve uma participação muito importante. Vemos agora, mulheres, meninas ameaçadas. Vemos agora a situação alimentar que está difícil por causa da atuação de gangues que (as tropas do) Brasil já tinham removido anteriormente como parte da cooperação da ONU.
Como se sente o Brasil neste cenário. Frustração? Acha que há alguma esperança?
HM: Na realidade, né, o Brasil como fez parte do ramo militar da Missão. E o ramo militar da Missão tem uma tarefa que está subordinada ao ramo político, que é o representante especial do secretário-geral, que é quem realmente dita as diretrizes para o envolvimento tanto para o staff civil como o da força militar. Então, o Brasil participou daquilo que nós compreendemos que foram as nossas responsabilidades. Acredito que nós fomos muito bem-sucedidos, naquele momento, mas nesse caso particular do Haiti, eu acho que a comunidade internacional tem que entender que tem que haver um apoio maior àquele país. Não é uma quantidade tão grande assim de recursos financeiros que seriam necessários para que o povo haitiano consiga ter dignidade.
ON: Essa concertação, o Brasil estaria pronto para apoiar?
HM: O Brasil entende seu papel perante o concerto das nações. É óbvio que hoje um apoio financeiro, de parte do nosso governo, fica um tanto quanto complicado. Mas se, por caso, voltar a ocorrer a necessidade, apesar de hoje o Haiti não querer mais tropa da ONU lá. Hoje, eles desejam mais um apoio de força policial, né? Isso poderá ser perfeitamente estudado pelo governo brasileiro.
ON: General, nós falamos sobre meninas e mulheres vítimas de situações como as do Haiti. Mas agora, há cada vez, esta posição de que mulheres na política ajudariam a resolver conflitos em situação de violência. Qual é a sua opinião?
HM: Eu vejo como uma evolução natural essa participação feminina. Principalmente porque em áreas de conflito como nós temos no Haiti, como eu tive a oportunidade de ver lá em Angola, e como a gente vê em outros lugares, os que mais sofrem são as mulheres, as crianças, os idosos. E, é óbvio, que a presença de mulheres nessa questão ligada aos direitos humanos e a própria presença de mulheres nas forças de paz, eu considero fundamental para que a missão dessas pessoas seja cumprida de uma forma mais eficiente e eficaz.
ON: Vice-Presidente, estamos numa época em que se registram os conflitos mais violentos desde a Segunda Guerra Mundial. O Brasil está agora a presidir o Conselho de Segurança. Em que outras áreas é que pode se consolidar essa cooperação com as Nações Unidas para lidar com essa situação?
HM: Vamos lembrar que o Brasil é um dos primeiros signatários aqui da Carta das Nações Unidas. Tivemos a grande figura de Oswaldo Aranha, o primeiro secretário aqui. Então, alguém que realmente participou. E o Oswaldo Aranha é natural do meu estado-natal no Brasil, o Rio Grande do Sul, é um gaúcho como eu. E o nosso país, dentro da sua regra constitucional, ele joga de acordo com aquilo que prevê a Carta da ONU na busca constante da solução pacífica dos conflitos, do respeito da soberania das nações. Do respeito à autodeterminação dos povos. Então, eu acho que o Brasil está alinhado perfeitamente com os interesses maiores das Nações Unidas e que representam os interesses maiores da humanidade.
ON: Vice-presidente, vamos agora à cooperação com a Cplp, o Brasil é também muito importante. Há esta tendência de se alinhar a cooperação econômica. O que acha que se pode avançar com um maior impulso do Brasil.
HM: Olha, eu, ano passado, tive a oportunidade de participar da reunião da CPLP representando o presidente Bolsonaro. Para mim, foi um momento extremamente honrado, um momento significativo da minha vida. Não só por poder retornar ao país, onde eu estive um ano em missão de paz, e ver o progresso que Angola teve nesse período como também essa questão de a gente avançar na Cplp, de não ser um mero clube para as pessoas se reunirem e fazerem debates sobre temas bonitos, mas não produzirem nada em termos concretos para as pessoas que habitam diferentes países. Nessa questão econômica, eu vejo que a África pode ser a grande e nova fronteira de produção de alimentos no momento, em que o mundo, vê o espectro da fome rondando.
Então, o Brasil possui a tecnologia avançada para produção de alimentos e está pronto para utilizar as nossas agências de pesquisa como a Embrapa, no sentido de apoiar os países africanos e principalmente aqueles que fazem parte da Comunidade, no sentido de se tornarem grandes produtores de alimentos, resolverem não só o seu problema de segurança alimentar, mas também alimentarem o resto do mundo.
ON: Vice-presidente, o sr. esteve em Angola. Acredito que saiba do que está a falar quando fala da produção alimentar em África. O senhor foi ligado a uma missão de paz, e agora como líder, o sr. está ligado a um gabinete. Como sente que faz a diferença e que exemplos similares podem fazer a diferença no futuro para a paz internacional?
HM: Eu acho que a experiência, Eleutério, que esta experiência adquirida, 25, 26 anos atrás, ela seja utilizada neste momento, em que eu faço parte do governo, como vice-presidente da República, então essa experiência me permite, quando eu tiver que debater assuntos ligados à questão africana, e em particular ao país de Angola, porque eu estive no terreno. Eu vi a realidade daquela população, eu vi o potencial do país em termos de produção de energia, em termos de litoral piscoso, em termos do planalto central angolano, que é muito similar ao cerrado brasileiro, onde hoje nós produzimos soja, milho, trigo e outros cereais. Consequentemente, eu vejo que com o apoio mútuo, que eu acho que é o fundamental, porque quando dois países ou mais se juntam sempre têm que buscar o benefício mútuo. Então, eu acho que essa experiência e o momento que eu estou vivendo, na minha vida atual, como político, me dá mais embasamento para eu poder dialogar sobre esses assuntos.
ON: É político e, naturalmente, não deixamos passar esse assunto. Pré-campanha no Brasil, a campanha daqui a mais um pouco. E a atenção do mundo está virada para o país. Têm surgido tensões devido a posições bem demarcadas. O que se pode fazer, ou se garante fazer, para que o processo corra de maneira pacífica?
HM: Olha...existe muito, vamos dizer assim, disse me disse, né? Vamos usar um termo. É óbvio que é um momento de polarização eleitoral entre o presidente Bolsonaro, que é o candidato à reeleição, e o candidato da oposição que é o presidente Lula. Há pressões de parte a parte, mas a minha visão muito clara é que nós chegaremos a outubro, no mês das eleições, sem maiores problemas, sem maiores confusões, e aquele que a população brasileira sufragar, eleger, irá tomar posse no dia primeiro de janeiro, sem maiores problemas.
ON: Na liderança no Conselho, o Brasil está na liderança também de grande parte da comunidade internacional, sob que perspectiva é que acha que o mundo pode ser unir em torno da Ucrânia?
HM: Essa questão, Eleutério, o Brasil desde o primeiro momento esteve alinhado aqui com o posicionamento das Nações Unidas em relação a esse conflito. Exatamente dentro daquilo, que eu já comentei anteriormente, que prevê a nossa Constituição, do respeito à soberania, à integridade da nação, à autodeterminação do povo ucraniano, uma busca de uma solução pacífica para essa disputa entre os dois países. E, óbvio, existem sanções que foram aplicadas na Rússia e que na minha visão não estão surtindo o efeito necessário. Então, eu acho que é mais importante do que nunca que a gente use os instrumentos da diplomacia no sentido de parar essa guerra, que está causando tanto dano à Ucrânia e também à Rússia com muita gente morrendo, e não é necessário morrer gente.
ON: E aqui nos corredores, é assim que aborda a postura neutra do Brasil quando lhe perguntam, por exemplo, por que ele está neutro?
HM: Na realidade, o Brasil não está neutro. O Brasil condena o conflito. Agora, nós temos interesses tanto com a Ucrânia como com a Rússia. É uma questão de pragmatismo, de flexibilidade. O Brasil não concorda com o conflito. O Brasil condena o conflito, mas é uma questão que tem que ser resolvida pela via diplomática. E o Brasil está pronto para participar na vida diplomática para acabar com essa guerra.
ON: Vice-presidente, algo mais que ficou por abordar nessa nossa conversa?
HM: Eu acho que o Brasil tem uma posição papel muito clara em relação ao papel das Nações Unidas, ao papel da ONU e principalmente do Conselho de Segurança. Vamos lembrar que quando as Nações Unidas foram criadas no pós-Segunda Guerra Mundial, tinham 51 membros. Hoje, são 193 praticamente quatro vezes mais. Então, eu acho que nós devíamos ter uma nova dimensão em termos de membros permanente do Conselho de Segurança para que ele retratasse, fielmente, o que é o equilíbrio de poder a importância que cada região do mundo tem dentro desse concerto de 193 nações.
ON: Teve esse tipo de conversa aqui nos corredores?
HM: Não. Hoje, eu não tive a oportunidade de falar sobre isso porque a minha participação aqui foi extremamente limitada, mas já que você me abriu essa oportunidade, eu coloco essa visão do nosso país.
ON: Vice-presidente, muito obrigado por esta conversa com a ONU News. Foi um prazer muito grande tê-lo aqui. Espero que continue tendo muito bom trabalho.
HM: Eleutério, eu que te agradeço a oportunidade e esse diálogo que nós tivemos para mostrar a realidade que estamos vivendo e principalmente o posicionamento do Brasil sobre esses temas.