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O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, condenou nesta segunda-feira (20/06) o que descreveu como "atos horríveis" na região de Oromia, onde várias testemunhas afirmam ter havido um massacre de centenas de civis no fim de semana.
Primeiro-ministro Abiy Ahmed é o primeiro membro da etnia oromo a governar o país | Foto: Michael Tewelde/XinHua/dpa/picture alliance |
"Ataques a civis inocentes e destruição de meios de subsistência por forças ilegais e irregulares são inaceitáveis", escreveu Abiy no Twitter, sem dar muitos detalhes sobre a que se referia, mas prometendo "tolerância zero".
"Restaurar a paz e a segurança nas comunidades afetadas continua sendo nossa principal prioridade", completou o primeiro-ministro.
Segundo relatos de sobreviventes, no sábado, homens armados no distrito de Gimbi, na zona oeste de Wollega, supostamente lançaram um ataque contra a etnia amara, uma minoria étnica na região.
Várias testemunhas, que preferiram não revelar os nomes por medo de represálias, relataram de 260 a 351 pessoas.
"Contei 230 corpos. Receio que seja o mais mortal ataque contra civis a que assistimos até agora", disse Abdul-Seid Tahir, um habitante de Gimbi, após ter escapado do massacre.
"Estamos enterrando [as vítimas] em valas comuns e ainda estamos recolhendo os corpos. Chegaram agora unidades do exército federal, mas temos receio de que os ataques prossigam quando elas partirem", afirmou.
No domingo, uma testemunha disse que a comunidade amara local procurava desesperadamente ser realocada "antes que outra rodada de assassinatos em massa acontecesse". A etnia se estabeleceu no local há cerca de 30 anos, através de programas de reassentamento.
Governo culpa grupo terrorista
Em um comunicado, o governo regional de Oromia culpou o Exército de Libertação Oromo (OLA), afirmando que os rebeldes atacaram "depois de serem incapazes de resistir às operações lançadas pelas forças de segurança [federais]".
Odaa Tarbii, um porta-voz da OLA, negou a responsabilidade pelo ataque e culpou as forças do governo pelo massacre.
"O ataque a que se referem foi cometido pelo regime militar e milícias locais quando se retiravam do seu campo em Gimbi na sequência da nossa recente ofensiva", disse.
"Eles fugiram para uma área chamada Tole, onde atacaram a população local e destruíram suas propriedades como retaliação por seu apoio ao OLA", completou.
O OLA, designado pelo governo central como uma organização terrorista, se separou da Frente de Libertação Oromo, um grupo de oposição banido que retornou do exílio depois que o primeiro-ministro Abiy Ahmed assumiu o cargo, em 2018, e promoveu acordos de paz.
No ano passado, o OLA formou uma aliança com a Frente de Libertação Popular Tigray (TPLF), que vem travando uma guerra contra o governo federal no norte do país. Até agora, não há informações de que o ataque de sábado esteja diretamente ligado ao conflito no Tigré, que começou em novembro de 2020, matando milhares e desalojando milhões.
Os soldados da TPLF consideram Abiy Ahmed um inimigo. Antes de Abiy se tornar o líder da Etiópia em 2018, a TPLF dominou a política nacional por quase 25 anos.
Tensões étnicas generalizadas
A Comissão de Direitos Humanos da Etiópia, designada pelo governo central, apelou nesta segunda-feira ao governo de Abiy Ahmed que encontre uma "solução duradoura" para evitar a morte de civis.
Abiy é o primeiro membro da etnia oromo a governar o país. No entanto, alguns membros de sua etnia acreditam que ele tenha traído os interesses da comunidade.
O massacre ocorreu dias depois de a Comissão de Direitos Humanos da Etiópia acusar as forças de segurança do governo de executar sumariamente moradores na região fronteiriça de Gambella, depois que as forças acusaram a população de colaborar com os combatentes do OLA.
Nos últimos meses, uma nova ofensiva do governo forçou o OLA a se retirar de algumas áreas onde anteriormente tinha influência significativa. O massacre segue uma série de contra-ataques do grupo na semana passada.
A Etiópia está passando por tensões étnicas generalizadas em várias regiões, a maioria delas devido a queixas históricas e tensões políticas. O povo amara, o segundo maior grupo étnico entre os mais de 110 milhões de habitantes da Etiópia, tem sido alvo de ataques frequentes em regiões como Oromia.