France Presse
A medida, que está incluída na sexta série de sanções anunciada no início de junho pela UE, tem "consequências mais importantes para o mercado de petróleo do que o embargo", afirma Carsten Fritsch, analista do Commerzbank.
Um cargueiro de bandera russa Lana em frente à costa de Karystos, na ilha grega de Eubea, em 29 de maio de 2022 © Angelos Tzortzinis |
As seguradoras europeias têm até o final do ano para aplicá-la aos contratos atuais e os profissionais britânicos devem aderir à medida, o que "provavelmente terá um impacto (de aumento) nos preços", diz Marcus Baker, diretor internacional de seguros de transporte de mercadorias para a Marsh.
E os líderes do G7, que se reuniram na segunda e terça-feira na Alemanha, também estudam como criar um sistema para limitar o preço do petróleo russo. O setor privado, tanto de seguros quanto de transporte, deve ser incluído.
A UE já recorreu à proibição de segurar o transporte de petróleo em 2012. Naquela época foi contra o petróleo iraniano, no âmbito das sanções contra o programa nuclear de Teerã.
- "Somas colossais" -
Os navios comerciais precisam de apólice para o casco e estrutura do navio, seguro de frete e seguro de proteção e indenização (P&I), que inclui cobertura ilimitada de danos a terceiros.
Este seguro marítimo especial, que cobre desde riscos de guerra a problemas ambientais, é realizado por associações profissionais, denominadas "Clubes P&I", que dividem os riscos.
São necessárias "somas colossais", explica Mathieu Berrurier, CEO do grupo Eyssautier Verlingue, contactado pela AFP.
As seguradoras de um clube P&I são praticamente as únicas que podem oferecer garantias para grandes riscos, como "grandes vazamentos de petróleo" ou "colisão com um transatlântico", de acordo com Berrurier. Esses danos podem chegar a bilhões de dólares.
Entre 90 e 95% do mercado de seguros P&I está em mãos de empresas da UE e do Reino Unido, de acordo com estimativas de profissionais do setor.
"O mercado está tão intimamente ligado à Europa que será quase impossível" evitar as sanções, afirma à AFP o diretor de uma empresa de transporte de petróleo, falando sob condição de anonimato. "Não existe um mercado de seguros alternativo suficientemente maduro e sério".
Dmitri Medvedev, ex-presidente russo e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, avançou no início de junho a possibilidade de "garantias públicas no âmbito de acordos intergovernamentais" com Estados terceiros. A Rússia poderia assim se auto-segurar e evitar as sanções da UE, segundo ele.
"É verdade, mas até certo ponto", diz Livia Gallarati, analista da Energy Aspects. "O valor dos possíveis danos é tão grande que nenhuma empresa está disposta a assumi-lo sozinha."
"Nenhuma empresa russa tem superfície financeira suficiente para enfrentar" riscos desse tipo, concorda Mathieu Berrurier.
Sobre a possibilidade de a Rússia transportar seu petróleo, Gallarati confirma que o país tem capacidade de embarque própria, mas muito baixa.
Índia, China ou Japão parecem alternativas possíveis. O Japão já ofereceu garantias aos navios iranianos.
"As circunstâncias políticas não são mais as mesmas", segundo Gallarati, mas a Índia "pode ser tentada".
Suas relações com o governo americano não são das melhores, demorou a condenar a invasão russa da Ucrânia e aumentou suas importações de petróleo russo, apesar das críticas.
A Índia também fornece certificação para mais de 80 embarcações pertencentes a uma subsidiária com sede em Dubai da empresa de navegação nacional russa Sovcomflot, segundo Carsten Fritsch.
Mas o risco para a reputação é grande demais para as resseguradoras ocidentais se elas se unirem às seguradoras asiáticas para cobrir o transporte de petróleo russo, adverte Marcus Baker.