O Globo
Uma reportagem do jornal americano "The New York Times" publicada neste domingo afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem um novo aliado em seus questionamentos sobre a lisura do processo eleitoral brasileiro: os militares. De acordo com a publicação, que mantém uma chamada na capa de seu site nesta segunda-feira, líderes das Forças Armadas do Brasil "de repente" começaram a levantar dúvidas semelhantes às feitas pelo mandatário brasileiro a respeito da integridade das eleições, ignorando o fato de jamais ter havido fraudes comprovadas em pleitos anteriores.
Presidente Jair Bolsonaro com militar em frente ao Palácio do Planalto, em 2021 | Marcos Corrêa/Presidência da República |
Para o jornal, as declarações feitas pelo presidente, por grande parte dos eleitores de direita e por alguns líderes militares de que a eleição está aberta a fraudes têm criado um clima de tensão no Brasil. "Faltando pouco mais de quatro meses para uma das votações mais importantes da América Latina em anos, um confronto de alto risco está se formando", diz o texto.
Bolsonaro fez críticas ao sistema de votação brasileira. O presidente já chegou a sugerir que se ele perder a eleição de outubro, provavelmente será graças aos votos roubados. O jornal americano lembrou declarações de Bolsonaro sobre o tema. Uma delas em um discurso do começo deste mês no qual o presidente disse que "surgiu uma nova classe de ladrão, que são aqueles que querem roubar nossa liberdade" e acrescentou que "se necessário, iremos à guerra".
Segundo o NYT, como táticas de Bolsonaro parecem ter saído do "manual" do ex-presidente americano Donald Trump, que também alegou fraudes para não admitir a derrota nas eleições dos Estados Unidos, em 2021. Para a publicação, a dupla Bolsonaro e Trump representa "o retrocesso democrático mais amplo que se desdobra em todo o mundo".
O NYT diz ainda que o motim patrocinado por Trump no Capitólio, no ano passado, mostrou que as transferências pacíficas de poder não são mais garantidas mesmo em democracias maduras. "No Brasil, onde as instituições democráticas são muito mais jovens, o envolvimento dos militares nas eleições aumenta os temores", afirma o texto.
O jornal também questiona o qual os militares tomarão caso Bolsonaro resolva dar um golpe de estado. E lembra os últimos resultados da pesquisa Datafolha, divulgados na semana passada: Bolsonaro segue atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na preferência dos eleitores, mas 24% dos entrevistados não confiam nas eletrônicas do Brasil, contra 17% em março.
Outro dado destacado da pesquisa pelo jornal americano é de que 55% dos entrevistados disseram acreditar que a eleição é vulnerável às fraudes. Desse total, 81% são apoiadores de Bolsonaro.