Por Fernanda Mattos Castelhani | RFI
A declaração veio após uma reunião na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Madri, na terça-feira (28). O encontro contou com a participação do presidente finlandês, Sauli Niinisto, da primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. A negociação durou mais de duas horas e foi intermediada pelo secretário-geral da aliança atlântica, Jens Stoltenberg.
Exigências turcas atendidas
Desde maio, assim que Suécia e Finlândia se candidataram à Otan, o governo turco vinha adiantando que votaria "não" à adesão desses países ao bloco militar. Mas agora “a Turquia conseguiu o que queria”, diz o comunicado divulgado por Ancara. Suas exigências foram aceitas por Estocolmo e Helsinki, como a suspensão do embargo à entrega de armas à Turquia, que foram impostas em 2019 depois de desacordo com Estados Unidos na Síria.
A Suécia e a Finlândia também vão proibir "atividades de angariação de fundos e recrutamento" para o grupo separatista curdo, o PKK. Além disso, não apoiarão mais a ala síria curda, Unidades de Proteção Popular, atuante na fronteira com a Turquia. Nem o Feto, grupo ligado ao clérigo turco refugiado nos Estados Unidos, Fetullah Gulen, apontado por Erdogan como mandante da tentativa de golpe militar na Turquia, em 2016.
Turquia em posição estratégica
Para além do aval à entrada de dois novos países na Otan, a Turquia vê sua posição estratégica, entre Ocidente e Oriente, ganhar destaque. O país, que serve de mediador na guerra entre Rússia e Ucrânia, vende drones para Kiev, por um lado, e, de outro, impede sanções contra Moscou na ONU. Ancara sabe da vulnerabilidade da sua localização: ao sul da Rússia, com acesso ao Mar Negro, dividindo fronteiras com Síria, Iraque e Irã, além da longa costa mediterrânea. São características que contribuíram para a influência da Turquia na aliança atlântica, que agora encerra uma disputa interna com uma resposta efetiva frente à Rússia.
Ancara alegava que não poderia aceitar nações que apoiam grupos contrários à segurança de um dos membros da Otan. Isso porque, a partir dos anos 1980, os países nórdicos receberam refugiados políticos curdos. Erdogan pedia a extradição de alguns curdos para serem julgados por Ancara. Por isso, o memorando assinado pela Turquia, a Suécia e a Finlândia descreve princípios para extradição relacionados ao terrorismo, mas não lista casos individuais, ou seja, cidadãos específicos.
Reconciliação com os EUA
O encontro mais esperado por Erdogan deve ocorrer nesta quarta-feira (29). Ele conversou com o presidente americano, Joe Biden, antes de viajar a Madri, mas está prevista uma reunião presencial paralela à cúpula.
A relação entre Ancara e Washington está abalada desde que os Estados Unidos retiraram as tropas da Síria, há três anos. Quando a aliança militar com o Ocidente estremeceu, a Turquia foi excluída do programa americano de aviões de combate F-35, justamente no momento em que o Exército turco resolveu comprar armamento russo. Agora o governo de Ancara está na expectativa da aprovação do Congresso americano para adquirir de Washington jatos de ataque F-16.
Por conta das objeções turcas à admissão da Suécia e da Finlândia, a previsão era de que Washington barrasse o projeto, mas agora a expectativa é de avanço. O governo de Biden considera a possibilidade de fornecer jatos do modelo pretendido pela Turquia, mas de uma geração mais antiga. Este será o principal tema da reunião com o líder democrata, segundo Erdogan, que se posiciona agora como um importante estrategista global, um ano antes das eleições presidenciais por aqui.