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O Governo da República Democrática do Congo (RDC) anunciou que vai suspender todos os acordos assinados com o Ruanda, na sequência da tensão militar entre as duas potências militares do continente africano.
O Governo da República Democrática do Congo (RDC) anunciou que vai suspender todos os acordos assinados com o Ruanda, na sequência da tensão militar entre as duas potências militares do continente africano.
Militares congoleses enfrentam rebeldes do M23 © Dai Kurokawa/dpa/picture alliance |
RDC acusa o Ruanda de apoiar o grupo rebelde M23, que protagoniza ataques armados sangrentos contra posições do Exército congolês no Kivu do Norte, apesar do acordo de paz assinado com as autoridades de Kinshasa em dezembro de 2013.
Na quinta-feira (17.06), após uma longa reunião do Conselho Superior de Defesa da República Democrática do Congo, o porta-voz do Governo, Patrick Muyaya, anunciou a medida histórica: "Suspender todos os protocolos de acordos, acordos e convenções celebrados com o Ruanda".
Patrick Muyaya, também ministro da Comunicação, disse que o Conselho Superior de Defesa exigiu que o Ruanda "retirasse imediatamente as suas tropas, que apoiam o grupo terrorista M23, do território congolês".
A escalada das tensões veio depois do movimento rebelde M23 ter tomado Bunagana, uma cidade chave no leste da RDC, na passada segunda-feira (13.06).
"Se Ruanda quer guerra, terá guerra"
Perante a crescente tensão militar, o general Sylvain Ekenge, que é porta-voz do Governo militar da província do Kivu do Norte, proclamou perante milhares de manifestantes em Goma, capital regional da República Democrática do Congo, que se o Ruanda "quer guerra, terá guerra".
“Vamos fazer todo o possível para expulsar estes criminosos, estes terroristas e os seus apoiantes, do território nacional. Ruanda não gosta de nós. Nós não temos medo dele e iremos combatê-lo. Se o Ruanda quer guerra, terá guerra”, frisou.
O povo congolês mobilizar-se em gesto de apoio às forças armadas. Em Goma, cidade fronteiriça com Ruanda, Jack Sinzahera agita a bandeira do Congo e caminha em direção à fronteira, acompanhado de milhares de manifestantes. Ele diz que estão prontos para a guerra.
"Apelamos a toda a população congolesa para que se levante em apoio das nossas forças armadas. Chega, não podemos mais aceitar ser atacados pelos países vizinhos. Por isso existe uma mobilização popular para dizer não à agressão do Ruanda e do Uganda ao nosso país", disse.
Nelly Lumbulumbu prefere responsabilizar a comunidade internacional pela sua "inércia" na resolução do conflito. "Queremos uma condenação efetiva por parte da Comunidade Internacional. Seguimos os discursos das Nações Unidas todos os dias, eles condenam mas na realidade não fazem absolutamente nada. Queremos ver como irão responsabilizar o Ruanda pelas suas ações".
Cimeira em Luanda
Segundo a agência Lusa, o Presidente angolano, João Lourenço, conversou esta sexta-feira (17.06) ao telefone com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressando preocupação com as tensões entre a RDC e o Ruanda, que justificam a realização urgente de uma cimeira em Luanda.
Segundo Lourenço, a tensão entre os dois países "justifica a realização, com urgência, da Cimeira de Luanda, com Angola como mediador" e os chefes de Estado da RDC e do Ruanda, refere nota dos serviços de imprensa da Presidência angolana.
O Presidente da República da Angola vai enviar na quarta-feira (22.06) o ministro das Relações Exteriores a Dacar para apresentar ao seu homólogo senegalês, Macky Sall, presidente em exercício da União Africana (UA), uma mensagem sobre os passos dados por Angola em cumprimento do mandato da Cimeira de Malabo, acrescenta a mesma nota.
João Lourenço vai mediar as tensões entre a RDC e o Ruanda e recebeu no início de junho a visita do Presidente congolês, Félix Tshisekedi, num encontro em que foram debatidas várias questões no âmbito de uma resolução pacífica do diferendo entre os dois países.
As tensões entre o Ruanda e a RDC agravaram-se após o reinício, em março, de combates entre o exército e o movimento rebelde 23 de Março (M23), que, de acordo com Kinshasa, é apoiado pelos vizinhos ruandeses.