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"Tal bloqueio não é um default e o mundo financeiro sabe disso muito bem. A Rússia, claro, está disposta a pagar. É fundamentalmente ilegal e os detentores de títulos em todo o mundo que são atingidos por essa 'sanção' imposta pelos EUA e pelos europeus podem e devem apresentar queixa nos tribunais internacionais", disse o especialista.
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O especialista financeiro de Paris sugeriu que eles teriam um forte argumento para vencer, mas a batalha legal provavelmente levaria de cinco a dez anos.
Gave disse estar confiante de que a Rússia tem dinheiro suficiente para pagar. Até agora, o Banco Central russo sempre encontrou uma maneira de contornar as restrições financeiras ocidentais para pagar aos detentores de títulos estrangeiros, mas neste caso, parece que a Rússia tentou pagar em rublos, mas os títulos em questão não permitem pagamentos em outras moedas diferentes do dólar.
"A moeda russa está em seu nível mais forte em relação ao dólar desde maio de 2015 [...] Portanto, o valor do rublo não está em questão. O que está em questão são as sanções financeiras ocidentais que terão pesadas repercussões também para o Ocidente", previu o economista.
O congelamento dos pagamentos russos em eurobonds por Washington e capitais europeias pode levar o dólar a perder seu domínio nas transações internacionais, acrescentou Gave.
"O principal resultado será a relutância em todo o mundo em usar o dólar como moeda para as trocas internacionais. Será o mesmo para o euro", afirmou ele.
O especialista disse que o bloqueio pretendia impedir o mundo financeiro de fazer negócios com a Rússia, mas apenas mostrou que as moedas domésticas eram um meio mais seguro de transação.
"Se grandes acordos forem fechados amanhã entre Taiwan e Coréia, não serão mais em dólares, mas em uma de suas moedas nacionais. O resultado será o fim do domínio do dólar americano", disse Gave. "Quanto à Rússia, ela redirecionará sua emissão internacional de títulos por meio de bancos chineses em Xangai, Pequim ou outros lugares do mundo. Isso será, acima de tudo, prejudicial para os mercados financeiros dos EUA e da Europa", sugeriu.
As sanções impostas à Rússia desde fevereiro tiveram um efeito muito limitado em sua economia e atingiram a Europa como um bumerangue. Gave sugeriu que o continente estava caminhando para uma enorme crise econômica neste outono, com um possível retorno à estagflação da década de 1970.
"As sanções ocidentais já estão sendo o bumerangue a ser temido: se a Rússia parar completamente de fornecer gás para a Europa, a crise econômica na Europa neste outono será enorme. Nós pagamos nossa energia em euros para a Rússia? Agora nós vamos pagar em dólares ao Catar ou aos EUA", disse.
Em função desses movimentos artificiais do mercado financeiro, as agências de notícias dos EUA veicularam o que seria o primeiro "calote" na dívida externa da Rússia, desde 1918. Moscou, no entanto, argumentou que não é um calote genuíno, uma vez que pode e está disposto a pagar a dívida, acusando instituições financeiras internacionais de bloquear suas transações de pagamento. O Ministério das Finanças salientou ainda que os pagamentos foram efetuados integralmente e de acordo com os termos em que foram emitidas as eurobonds.