Por g1
Na maior guinada da geopolítica mundial desde o início da guerra na Ucrânia, a Finlândia e a Suécia entregaram nesta quarta-feira (18) o pedido formal de entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte ( Otan), a aliança militar do Ocidente considerada pela Rússia seu principal inimigo atual.
Os países nórdicos, que abdicaram oficialmente da neutralidade que adotavam a décadas, devem agora esperar a análise e o aval dos demais integrantes da Otan, o que alguns governos querem tentar acelerar para meados deste ano, embora especialistas apontem um prazo de até um ano.
A decisão da Finlândia e da Suécia é uma das mudanças mais significativas na arquitetura de segurança da Europa em décadas.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que recebeu os pedidos nesta manhã na sede da aliança, em Bruxelas, na Bélgica, disse que o ato marca "um momento histórico" para o mundo. A adesão da Finlândia e da Súecia devem criar um escudo militar contra o avanço russo no mar Báltico e consolidar a presença da aliança do Ocidente em países próximos à Rússia.
Atualmente, Letônia, Estônia e Lituânia, vizinhas da Rússia, já fazem parte da aliança. A entrada da Finlândia, no entanto, expande a fronteira entre membros da Otan e o território russo para mais que o dobro.
Finlândia e Rússia compartilham 1,3 quilômetros de fronteira.
Já a Suécia vem desde 2020 reforçando as operações no mar Báltico e os gastos militares, que atualmente representa pouco mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país - porcentagem que terá que aumentar para 2% caso o país passe a integrar a Otan.
Entrave da Turquia
Mas a Turquia, que faz parte da Otan, pode ser o primeiro obstáculo às novas adesões.
Para que um novo país entre na aliança, é preciso a aprovação de todos os atuais integrantes, por unanimidade. O presidente turco, Tayip Erdogan, voltou a afirmar nesta quarta-feira (18) que é contra as novas entradas. Erdogan critica os dois países nórdicos por terem concedido asilo e refúgio a turcos que integram o PKK, o grupo nacionalista curdo que Ancara considera terrorista. Erdogan afirmou que só dará o
Mas países como Estados Unidos, Alemanha, França e Itália já disseram que defenderão a entrada dos países nórdicos. Nesta quarta-feira (18), o governo da Alemanha afirmou que vai pressionar para que as novas adesões aconteçam "o mais rápido possível".
Na quinta-feira (19), a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, e o presidente finlandês, Sauli Niinistö, irão a Washington, nos Estados Unidos, para debater caminhos rápidos de ingresso na aliança com o presidente do país, Joe Biden.
Turquia se opõe
Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, pareceu se calar na segunda-feira (16) sobre possíveis retaliações à adesão sueco-finlandesa, o principal obstáculo agora parece vir de dentro da Aliança.
A Turquia, cuja ratificação é imperativa, como a dos outros 30 membros da Otan, reafirmou ontem sua hostilidade à entrada de Suécia e Finlândia, apesar das discussões diplomáticas durante o fim de semana.
O governo turco não vai ceder, disse o presidente Recep Tayyip Erdogan. Ele acusa a Suécia de ser "o berçário de organizações terroristas" e de ter adotado sanções contra seu país.
Analistas acreditam que a Turquia busque vantagens em troca de sua autorização, como, por exemplo, o levantamento da recusa dos Estados Unidos em vender-lhes caças F-35.
O governo turco critica Suécia e Finlândia por não aprovarem seus pedidos de extradição de pessoas que acusa de serem membros de "organizações terroristas", como o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) curdo, ou por terem congelado as exportações de armas para a Turquia.
Candidatos estão otimistas
Apesar destas disputas, o presidente finlandês disse estar otimista em obter o apoio da Turquia, por meio do que ele descreveu como discussões construtivas.
"A Suécia deseja trabalhar com a Turquia na Otan, e esta cooperação pode ser um elemento da nossa relação bilateral", afirmou Andersson, da Suécia. Ela disse que o país dela "está empenhado na luta contra todas as formas de terrorismo".
Consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, as candidaturas de Finlândia e Suécia avançaram nesta terça-feira. No final de uma sessão parlamentar de dois dias, o projeto de adesão foi aprovado pelo Parlamento finlandês por 188 votos a favor, oito contra e nenhuma abstenção.
"É um resultado excepcional, não esperava que fosse tão claro. A votação é clara, chega de discussão", disse o chanceler finlandês, Pekka Haavisto, antes de assinar o formulário de candidatura de seu país.
A ministra das Relações Exteriores da Suécia, Ann Linde, assinou o formulário de inscrição da Suécia esta manhã, durante uma cerimônia.
Após uma guinada a favor da adesão, Suécia e Finlândia consideram necessário colocar-se sob o guarda-chuva da Otan, diante de uma Rússia capaz de invadir militarmente um de seus vizinhos.
Com isso, os dois países virariam a página de décadas de neutralidade e de não alinhamento militar, em busca de garantias de segurança de seus vizinhos nórdicos e das principais potências da Otan nas últimas semanas. Apenas os membros da Aliança se beneficiam do famoso artigo 5º de proteção mútua, não os candidatos.
Outros membros da Otan
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que seu país "intensificaria" sua cooperação militar com as duas nações nórdicas.
A França afirmou que "ficará ao lado da Finlândia e da Suécia", em caso de agressão.
"Qualquer Estado que pretenda pôr a solidariedade europeia à prova, mediante uma ameaça, ou agressão, à sua soberania por qualquer meio, deve ter a certeza de que a França estará ao lado da Finlândia e da Suécia", escreveu a Presidência francesa em um comunicado à imprensa.
Em geral, a adesão à Otan leva vários meses. A Suécia disse esperar que o processo leve no máximo um ano.