RFI
A correspondente da RFI nos Territórios Palestinos, Alice Froussard, informa que Abu Akleh era uma jornalista incansável em busca da informação, de Jerusalém a Gaza, passando pela Cisjordânia ocupada. Ela esteve muitas vezes em Jenin nos últimos dois meses.
Shireen Abu Akleh, jornalista da Al-Jazeera morta em confrontos entre israelitas e palestinianos na Cisjordânia, em 11 de maio de 2022. AP |
Uma geração de palestinos com menos de 30 anos cresceu assistindo o rosto dela na televisão. Em Ramallah, fotos de Shireen Abu Akleh são exibidas nas paredes e o outdoor que adorna a praça al-Manara agora apresenta seu retrato e a inscrição "adeus Shireen". Bandeiras pretas foram hasteadas no terraço da Al Jazeera, nas proximidades, além de um enorme painel em homenagem à jornalista.
O funeral será realizado nesta sexta-feira (13), em Jerusalém Oriental. São esperadas dezenas de milhares de pessoas.
A morte da jornalista, uma cristã de 51 anos, gera forte comoção nos territórios palestinos. As circunstâncias da morte, ocorrida durante uma reportagem sobre uma operação militar israelense no local, na Cisjordânia ocupada, colocam Tel Aviv sob pressão.
Israel se contradiz
O canal do Catar e as autoridades palestinas acusam o exército israelense e exigem uma investigação internacional. Israel, que apontou a possível responsabilidade de grupos palestinos, está propondo uma investigação conjunta. Ontem, o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, parecia menos assertivo nas respostas do que as primeiras declarações do governo do país sobre o caso.
Benny Gantz afirmou que o exército “não tinha certeza da maneira como ela foi morta” e que era “impossível” determinar as circunstâncias da morte de Shireen Abu Akleh. O ministro da Defesa distorce, assim, a versão oficial israelense.
O foco das autoridades israelenses é reivindicar a bala que matou a jornalista palestino-americana para poder realizar um exame balístico, relata o correspondente da RFI em Jerusalém, Michel Paul. Tel Aviv propõe que especialistas palestinos e americanos estejam presentes durante o exame.
Israel expressa arrependimentos – mas os comentários ocorrem tarde demais e são insuficientes, avaliam analistas no imprensa do país. O editorial do Haaretz, o jornal de esquerda em Israel, diz que apenas uma investigação internacional levará a conclusões confiáveis. Muitos repórteres israelenses relatam o relacionamento profissional e caloroso que tiveram com Shireen. Mas nem todos concordam com essa abordagem: um colunista do diário diz que Israel não deve se apressar em pedir desculpas pela morte.
A versão palestina é descrita como pura propaganda. O Jerusalem Post ressalta que a morte da jornalista se tornará uma desculpa para ataques terroristas contra Israel.
Investigação na ONU
Nesta manhã, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, declarou que “as autoridades israelenses são plenamente responsáveis” pela morte e anunciou a intenção de recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Abbas disse rejeitar a ideia de uma investigação comum com Israel “porque eles cometeram esse crime e não confiamos neles”.
Na ONU, países árabes pediram na quarta-feira uma "investigação internacional independente" e falaram em um "assassinato", informa a correspondente em Nova York, Carrie Nooten. O embaixador palestino Riyad Mansour ficou comovido pela indignação expressa por seus colegas, após o desde o anúncio da morte de Shireen Abu Akleh, mas gostaria de ver “ações concretas”. Ele pediu uma declaração do Conselho de Segurança e, sobretudo, a realização de uma investigação internacional independente.
“Queremos que seja internacional, porque rejeitamos o fato de que Israel possa realizar uma investigação confiável, como afirma. Eles são os criminosos, e os criminosos não podem investigar a si mesmos”, disse.
Para o representante da Liga dos Países Árabes, este é mais um passo na escalada liderada por Israel desde o Ramadã, em meio à paralisação do processo de paz com os palestinos. “Enquanto não houver horizonte político para o processo de paz à vista, enquanto as grandes potências não prestarem atenção suficiente à situação no Oriente Médio e se concentrarem apenas na Ucrânia, essa situação miserável, esse confronto miserável vai continuar”, garantiu Maged Abdelaziz.