Marcel Fürstenau | Deutsch Welle
Reagindo à pressão crescente do público alemão e dos aliados internacionais, Berlim anunciou em 27 de março que enviaria tanques de combate para a Ucrânia. No dia seguinte, a coalizão governamental, formada pelos partidos Social-Democrata (SPD), Verde e Liberal Democrático (FDP), uniu forças com o principal grupo de oposição, as conservadoras União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) para aprovar no parlamento federal o envio das armas pesadas, por ampla maioria.
"Armamento pesado para a Ucrânia": manifestação diante da Chancelaria Federal, em Berlim | Foto: Kay Nietfeld/picture alliance/dpa |
Pesquisas de opinião recentes mostram, contudo, que o eleitorado da Alemanha está dividido quanto à medida. O instituto Infratest Dimap consultou entre 25 e 27 de abril mais de 1,3 mil cidadãs e cidadãos com direito a voto: 45% se declararam a favor – uma queda de 10% em relação ao mês anterior. Mesmo assim, 52% desejam ações mais decididas e severas contra a Rússia.
Os resultados dessa enquete foram divulgados paralelamente à votação parlamentar. Um dia mais tarde, o Forschungsgruppe Wahlen registrou um aumento da aprovação às exportações de armas pesadas: dos 1.170 eleitores consultados entre 26 e 28 de abril, 56% foram a favor e 39%, contra. Por outro lado, 59% se disseram convencidos de que o fornecimento de armas aumenta o perigo de um ataque russo aos países ocidentais.
Chefe de governo na berlinda da opinião pública
Nesse mesmo dia, a revista feminista Emma publicou em seu website uma carta aberta ao chanceler federal Olaf Scholz, inicialmente assinada por 28 personalidades culturais do país, apelando urgentemente para que ele não forneça mais armamentos pesados ao país sob invasão russa.
Ao contrário dos que o têm acusado de indecisão, os signatários elogiaram o chefe de governo por ter "até agora considerado tão minuciosamente os riscos" e ter feito todo o possível para evitar que a agressão militar russa na Ucrânia escale numa terceira guerra mundial.
Apesar disso, as taxas de aprovação de Scholz vêm caindo, em decorrência do que é percebido como sua atitude hesitante. Apenas um terço dos entrevistados pelo Infratest Dimap acha convincente a política dele para Ucrânia, quase a metade não crê que o social-democrata seja capaz de liderar o país através da crise. Essas cifras indicam uma significativa perda de confiança desde as eleições gerais de 2021.
Cortar o gás russo ou manter a dependência?
Outro ponto controverso na Alemanha é a energia: 54% dos participantes da enquete querem o fim gradual das importações de gás e petróleo russos. Apenas 22% são por uma suspensão imediata, enquanto 19% preferem manter o status quo da dependência alemã dessa fonte de combustível.
Esses resultados também refletem o posicionamento oficial do Berlim, que tem advertido das consequências econômicas de um boicote, embora afirmando que está à busca de alternativas à Rússia, o mais breve possível. A meta seria cortar a dependência do petróleo nos próximos meses, e do gás, dentro de dois anos.
No nível da preferência partidária, a edição de abril do relatório Deutschlandtrend do Infratest Dimap mostrou poucas diferenças: os social-democratas de Scholz estão com 24%, atrás da oposição conservadora cristã (CDU/CSU) por dois pontos percentuais.
Os aliados do SPD no governo, os verdes e os neoliberais do FDP, mantém suas colocações, com 18% e 9%, respectivamente. Juntos, os três partidos ainda detêm 51% dos votos, confirmando seus status no governo federal.