Igor Gielow | Folha de S.Paulo
SÃO PAULO, SP - Os Estados Unidos aumentaram nesta terça (17) a pressão política sobre a Turquia para que a Otan, aliança militar ocidental da qual Ancara faz parte, aceite rapidamente a adesão da Suécia e da Finlândia.
O Presidente finlandês com a Primeira-miinistra sueca | Anders Wiklund/TT News Agency/AFP |
Ambos os países nórdicos declararam a intenção de entrar na Otan e abandonar décadas de neutralidade dedicada a apaziguar a Rússia após Vladimir Putin invadir a Ucrânia, em fevereiro. O pedido será entregue nesta quarta (18). Os turcos, que mantêm uma relação próxima tanto de Kiev quanto de Moscou, são contra.
O presidente americano, Joe Biden, irá receber seu colega finlandês, Sauli Niinistö, e a premiê Magdalena Andersson, nesta quinta (19) em Washington. Segundo a Casa Branca, os EUA estão "confiantes" em uma solução rápida para o entrave turco.
Ele foi colocado com todas as letras pelo presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, em falas na sexta (13) e na segunda (16). O turco afirmou que não seria possível para seu país aceitar a entrada das duas nações nórdicas na aliança porque elas protegem "organizações terroristas".
No caso, ele se refere a opositores de seu governo, como os curdos do partido PKK e os seguidores do clérigo Fethullah Gülen, exilado nos EUA e acusado por Erdogan de arquitetar a tentativa de golpe militar que sofreu em 2016.
Além disso, desde 2019, quando a Turquia ampliou sua ação na guerra civil da Síria ao lado da já presente Rússia de Vladimir Putin, há um embargo de armas decretado contra Ancara decretado por Estocolmo e Helsinque.
São problemas bem menores do que a rivalidade turca com outro país da Otan, a Grécia, com quem vive em constante tensão em torno da dividida ilha de Chipre. Mas, neste caso, ambos os países entraram juntos na Otan, em 1952. Agora, a Turquia tem, como os outros 29 membros do clube, poder de vetar novos integrantes.
A expectativa entre analistas é de que a Turquia vá vender o apoio aos nórdicos caro, exigindo talvez deportação de ativistas exilados ou declarações mais incisivas. Nesta terça, Niinistö disse estar confiante na resolução da crise. "As declarações da Turquia mudaram rapidamente e ficaram mais duras nos últimos dias. Mas estou certo de que, com a ajuda de discussões construtivas, nós vamos resolver a situação", afirmou.
O Legislativo finlandês aprovou, por 188 votos a favor, 8 contra e nenhuma abstenção, o pedido de entrada. Em visita a Estocolmo nesta terça, Niinistö disse ao lado de Andersson que a requisição de ambos os países será entregue nesta quarta na sede da Otan, em Bruxelas. A formalização do processamento do pedido deverá ocorrer até a cúpula da aliança, no fim de junho em Madri.
A Rússia tem mantido um tom comedido, após ameaças iniciais que incluíam a sugestão de posicionar armas nucleares próxima dos dois vizinhos nórdicos --no caso finlandês, há uma fronteira de 1.300 km entre os países, enquanto no sueco, o domínio de atrito é o mar Báltico.
Putin afirmou que haveria reação contra os países, que não são percebidos como uma ameaça à Rússia, mas que ela seria proporcional à militarização que a eventual adesão à Otan traria. Andersson adiantou-se sobre isso e disse que não permitiria bases multinacionais ou armas nucleares da aliança na Suécia.
Em meio aos riscos de uma Terceira Guerra Mundial, que não é desejada nem em Moscou nem em Bruxelas ou Washington apesar do apoio forte da Otan à Ucrânia, é uma senha de acomodação em uma escalada diplomática grande por parte do Ocidente.