Deutsch Welle
No chamado Dia da Vitória, que marca o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazista ao fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente russo, Vladimir Putin, descreveu a guerra contra a Ucrânia como uma resposta a políticas do Ocidente e evocou a memória do heroísmo soviético.
Putin: "O perigo estava crescendo a cada dia. A Rússia repreendeu o agressor preventivamente." | Foto: Sefa Karacan/AA/picture alliance |
Ao discursar na tradicional parada militar anual nesta segunda-feira (09/05), Putin traçou paralelos entre a luta do Exército Vermelho contra tropas nazistas e a ação das forças russas na Ucrânia, que ele diz ser uma batalha contra perigosos nacionalistas inspirados pelo nazismo. O líder russo já comparou várias vezes a situação atual com o desafio enfrentado pela União Soviética após a invasão pelas forças de Adolf Hitler em 1941.
Contrariando previsões, o presidente não fez nenhum grande anúncio em seu discurso de 11 minutos e, após 75 dias de guerra, não deu nenhum indicativo de quanto tempo ela ainda pode durar. Ele usou a maior parte de sua fala para justificar a invasão da Ucrânia, que ele chama de "operação militar especial", descrevendo-a como necessária para impedir uma potencial agressão contra a Rússia.
O Ocidente estava em alerta diante do Dia da Vitória na Rússia, em meio a rumores de que Moscou pretendia declarar oficialmente guerra à Ucrânia.
Diante de milhares de soldados reunidos na Praça Vermelha, em Moscou, no 77º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, Putin afirmou que as forças russas na Ucrânia estão defendendo sua pátria contra uma "ameaça absolutamente inaceitável" com o objetivo de enfraquecer a Rússia. Ele repetiu argumentos de que a Otan estava criando ameaças próximo à fronteira russa.
"Vimos infraestruturas militares sendo mobilizadas, centenas de especialistas estrangeiros trabalhando e fornecimento regular de armamento moderno da Otan. O perigo estava crescendo a cada dia. A Rússia repreendeu o agressor preventivamente. Foi uma medida necessária e a única possível nessa situação. A decisão de um país soberano, forte e independente", afirmou.
"Os países da Otan não quiseram nos escutar, eles tinham outros planos", disse. "Preparações estavam em curso para uma operação punitiva no Donbass, para a invasão das nossas terras históricas, incluindo a Crimeia", afirmou, em referência à península anexada pela Rússia em 2014 e à região no leste da Ucrânia onde separatistas pró-Rússia enfrentam forças de Kiev desde então.
"Vocês estão lutando pela pátria"
Putin discursou a partir de sua tribuna montada pelo Mausoléu de Lenin, de onde assistiu ao tradicional desfile militar do Dia da Vitória em Moscou. O Kremlin disse que o desfile contou com 11 mil participantes e 131 veículos blindados.
Ele se dirigiu diretamente aos soldados lutando na região do Donbass, que a Rússia prometeu "libertar" de Kiev. "Vocês estão lutando pela pátria, por seu futuro, para que ninguém se esqueça das lições da Segunda Guerra Mundial. Para que não haja espaço no mundo para carrascos, castigadores e nazistas", disse.
O presidente afirmou que alguns dos soldados que participaram do desfile vieram diretamente de campos de batalha na Ucrânia, e fez um minuto de silêncio em memória dos que morreram em combate.
"A morte de cada um dos nossos soldados e oficiais é nosso luto compartilhado e uma perda irreparável para seus amigos e familiares", disse Putin, prometendo que o Estado prestará assistência a suas famílias.
A Rússia sofreu graves perdas durante a guerra, iniciada em 24 de fevereiro. O Ministério da Defesa russo afirma que 1.351 militares morreram, mas, segundo a imprensa russa, ao menos 2.099 foram declarados mortos ou desaparecidos.
Segundo o presidente, os militares russos estão prosseguindo com a batalha contra o nazismo, mas é importante "fazer de tudo para que o horror de uma guerra global não se repita".
Em seu discurso, além de não dar informações sobre o progresso da guerra, o presidente não mencionou a Ucrânia pelo nome, não falou em vitórias no conflito atual nem renovou ameaças de um conflito nuclear. Também não fez menções à batalha sangrenta em Mariupol, onde ucranianos se abrigaram nas ruínas da siderúrgica de Azovstal para fazer frente à agressão russa.
Putin encerrou seu discurso com as palavras "À Rússia! À vitória! Hurra!", às quais os soldados na Praça Vermelha responderam "Hurra!".
Zelenski: "Dois dias da vitória na Ucrânia"
Pouco antes do discurso em Moscou, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, acusou Putin de "repetir os crimes horrendos do regime de Hitler, seguindo a filosofia nazista, copiando tudo o que ele fez", e afirmou que o líder russo fracassará.
"Hoje celebramos o dia da vitória sobre o nazismo", disse ele em uma mensagem em vídeo por ocasião do Dia da Vitória. "Estamos orgulhosos de nossos ancestrais que derrotaram o nazismo junto com outras nações na coalizão anti-Hitler. E não permitiremos que ninguém se aproprie dessa vitória", continuou.
"Vencemos então. Também vamos vencer agora", disse na mensagem divulgada no Telegram. "Muito em breve haverá dois dias da vitória na Ucrânia. E alguém não terá nenhum."
Scholz: Ucrânia não aceitará uma ditadura russa
Na véspera do aguardado discurso de Putin, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou que não haverá "paz sob uma ditadura russa" na Ucrânia.
"A Ucrânia não aceitaria isso e nós tampouco", disse Scholz em discurso transmitido pela TV alemã para marcar o 77º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. O chanceler federal afirmou também estar "profundamente convencido" de que Putin não vencerá a guerra.
"A Ucrânia irá prevalecer. A liberdade e a segurança vencerão, assim como a liberdade e a segurança triunfaram sobre a servidão, a violência e a ditadura há 77 anos", acrescentou.
Scholz também lembrou como russos e ucranianos uma vez lutaram juntos e fizeram grandes sacrifícios para derrotar o "nacional-socialismo assassino" da Alemanha. Mas, agora, "Putin quer subjugar a Ucrânia, destruindo sua cultura e identidade (...) [e] até equipara sua guerra de agressão bárbara com a luta contra o nacional-socialismo. Isso é falsificar a história e é malicioso. É nosso dever afirmar isso claramente", disse.