RFI
"Conseguimos retirar quase 500 civis" desde o início desta "difícil" operação organizada pela ONU, afirmou numa mensagem pelo Telegram o chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, Andriï Iermak. “A Ucrânia continuará a fazer de tudo para salvar os civis e soldados” retidos em Azovstal, assegurou.
Usina siderúrgica da Azovstal Iron and Steel no sul da cidade portuária de Mariupol, Ucrânia, em 5 de maio de 2022. REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO |
As operações de evacuação sob proteção da ONU e apoiadas pelo CICR (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) começaram no fim de semana passado e devem continuar durante esta sexta-feira na imensa siderúrgica. Este é o último bolsão de resistência ucraniana na cidade que abriga um porto estratégico, no sul de Donbass, explicou a vice-primeira-ministra do país, Iryna Vereshchuk.
Centenas de soldados, muitos dos quais feridos, e cerca de 200 civis entrincheirados ainda esperam para deixar o local. No entanto, não há garantia de uma trégua nos combates. “Hoje estamos nos concentrando em Azovstal”, enfatizou Vereshchuk. "A operação está começando agora. Estamos orando por seu sucesso", acrescentou.
Apesar desta incerteza, o novo comboio humanitário foi anunciado na quinta-feira (5) pelo secretário-geral adjunto da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths. Cidade-mártir, Mariupol se tornou um dos símbolos da invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro.
As informações sobre a situação atual na siderúrgica de Mariupol, onde civis e combatentes vivem escondidos em enormes galerias subterrâneas, permaneceram contraditórias.
Relato de testemunhas
Somente quem viveu a experiência de se esconder durante dois meses nos porões de um grande complexo siderúrgico pode descrever o drama. É o caso de Valentina, de 72 anos, que finalmente chegou a Zaporizhia, em segurança. Ela conversou com a reportagem da RFI enquanto cortava o cabelo no salão de beleza de seu hotel, uma pausa bem-vinda depois de viver refugiada, após ter seu apartamento completamente destruído pelos bombardeios das tropas russas.
“Conheço esta fábrica por ter trabalhado lá durante 40 anos. Quando chegamos à entrada, fomos recebidos calorosamente. Um primeiro bunker estava superlotado e fomos levados para um segundo abrigo subterrâneo. Passamos 2 meses lá”, relata.
“No dia 6 de março, quando chegamos, havia 100 pessoas, mas depois aqueles que tinham carro puderam sair, mas como não tínhamos transporte, minha filha, minha neta e eu tivemos que esperar”, diz.
Valentina passou muito tempo deitada e conta que o bunker tremia a cada tiro. Soldados ucranianos vieram várias vezes socorrer os civis. “Eles vieram nos trazer comida e algumas informações. Mas são os nossos homens que vão buscar água ou comida por toda a fábrica, nas cantinas, mas era muito perigoso, debaixo de fogo cruzado”, lembra.
No final da semana passada, as 71 pessoas que estavam no mesmo bunker que ela foram finalmente retiradas. “Se você tivesse visto como fomos evacuados. O ônibus não tinha portas nem janelas. A estrada estava coberta de entulho, metal, plástico, vidro. Tivemos que nos segurar nas maçanetas para não sermos jogados pela janela ou pela porta”, relata.
Foi só quando chegou a Zaporizhia que Valentina soube da morte de seu neto, de 22 anos, morto em março em um bombardeio. Ela não sabe onde o corpo do jovem foi enterrado.
Com informações da AFP e RFI