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"É muito provável que as armas entrem em grande quantidade no mercado negro e fiquem nas mãos não apenas de ultranacionalistas, mas também de outros terroristas. A ironia é que uma parte desse armamento pode voltar para a Europa e Estados Unidos, então, no final nós aumentamos o risco de ameaça terrorista ao nosso próprio país", declarou em entrevista à Sputnik o vice-presidente do Centro Euroasiático em Washington, Earl Rasmussen.
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O especialista notou que a partir da experiência de outros conflitos se sabe que "a maioria das armas fornecidas nunca atingirá a frente de combate". Essas armas ou serão vendidas no mercado negro ou serão destruídas pelos russos nos armazéns", constatou ele.
Ele relembrou que, segundo avaliações existentes, apenas no ano passado armas americanas no valor total de US$ 80 bilhões (R$ 404 bilhões) foram obtidas pelo Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista), enquanto o volume total das armas "perdidas" no Iraque superou US$ 1 trilhão (R$ 5,06 trilhões). Um volume enorme de armamento americano, de acordo com os dados, "vazou" para as mãos dos grupos extremistas.
Recentemente, na semana passada, o senador republicano Rand Paul bloqueou o projeto de lei já aprovado pela Câmara dos Representantes americana sobre ajuda à Ucrânia no valor total de cerca de US$ 40 bilhões (R$ 202 bilhões), exigindo que se inclua no pacote emendas para endurecer a vigilância dos gastos. Os especialistas entrevistados pela Sputnik avaliam positivamente a iniciativa do senador, mas concordaram que na prática isso terá um efeito limitado.
Ao comentar a possibilidade de controlar as armas entregues à Ucrânia, o professor da Universidade Americana em Washington Peter Kuznick alerta que "não existe nenhuma possibilidade de saber onde acabará o armamento fornecido às Forças Armadas da Ucrânia".
O especialista não descarta que ele pode posteriormente acabar nas mãos dos militares russos.
"A Ucrânia é um conhecido líder mundial no âmbito de corrupção, e seus militares podem vender armas aos adversários", afirmou o professor, relembrando que os EUA viram tal "fenômeno" na Síria, onde o armamento americano fornecido à oposição frequentemente acabava nas mãos dos terroristas.
O historiador e analista Dan Lazar notou, por sua vez, que qualquer conflito militar é acompanhado por "armas perdidas ou roubadas", enquanto "a guerra por procuração" apenas agrava a situação, uma vez que praticamente exclui a possibilidade de haver controle sobre o fluxo de armas.
Na opinião do interlocutor, "é elevada a probabilidade de que parte significativa [das armas] cairá nas mãos dos militantes de ultradireita, milhares dos quais estão se dirigindo à Ucrânia".
Tanto como outros especialistas, Earl Rasmussen faz um aviso: "Assim que as armas chegam à Ucrânia, os EUA perdem qualquer possibilidade de as monitorar e controlar".