Igor Gielow | Folha de S.Paulo
SÃO PAULO, SP - Em meio ao aumento de apoio bélico do Ocidente à Ucrânia, a Rússia usou pela primeira vez um submarino no mar Negro para disparar mísseis de cruzeiro contra alvos militares no vizinho, segundo o Ministério da Defesa do país informou à agência Interfax. Não há confirmação independente da afirmação.
Submarino da Classe Kilo, da Frota do Mar Negro russa, em sua doca em Sebastopol (Crimeia) | Igor Gielow / Folhapress |
Um dos seis submarinos diesel-elétricos de ataque da Frota do Mar Negro, integrantes da classe Kilo, lançou uma salva de mísseis Kalibr nesta sexta (29), de acordo com a pasta. Em um vídeo distribuído pelos russos, é possível ver ao menos dois disparos.
As embarcações ficam baseadas em Sebastopol, na Crimeia, e até aqui Moscou não havia relatado seu uso na Guerra da Ucrânia embora analistas considerassem que eles estavam ativos.
Assim, foi adicionado mais um vetor no conflito. Mísseis de cruzeiro estão sendo utilizados de forma intensiva e já foram lançados de sistemas terrestres baseados na costa da Crimeia anexada em 2014 por Moscou, de fragatas no mar Negro e de bombardeiros Tu-22.
A vantagem do uso de submarinos é a dificuldade de determinar sua posição antes do ataque, adicionando o fator surpresa. Ainda assim, apesar do vexame de ter perdido o cruzador pesado Moskva neste mês, a Marinha Russa de forma geral domina o mar Negro.
O mar, apesar de ter uma fama internacional menor do que águas disputadas como o mar do Sul da China, é o corpo d'água com mais instabilidade em suas margens desde o fim da Guerra Fria, em 1991. De lá para cá, foram travadas dez guerras, incluindo a atual, em regiões de países banhados por suas águas.
O Moskva não operou com mísseis Kalibr nesta guerra. Ele foi afundado há duas semanas por grandes explosões a bordo, que Kiev e os EUA dizem ter sido provocadas por mísseis antinavio costeiros Netuno, fabricados na Ucrânia. Já a Rússia fala que houve um acidente em seu depósito de armas, algo tão ou mais vergonhoso do ponto de vista operacional.
Isso dito, a Marinha da Ucrânia está manietada no conflito. Seu principal navio foi afundado pelos tripulantes no porto no começo da guerra, para evitar que caísse em mãos russas, e apenas pequenas embarcações ainda são vistas na região de Odessa.
O maior porto ucraniano é um ponto focal da guerra. Se o plano presumido da Rússia de conquistar toda a costa do mar Negro for verdadeiro, Odessa terá de ser tomada. Só que um assalto anfíbio puro não faria sentido sem tropas de ligação às costas da defesa da Ucrânia na cidade, o que ainda parece distante.
Ainda assim, bombardeios são frequentes e quase todo dia navios russos surgem rapidamente no horizonte visível da costa da cidade, como uma forma de pressão psicológica.
A sexta-feira teve poucos relatos de outros ataques na Ucrânia, além dos combates na região do Donbass, intensificados nas últimas semanas, e em Mariupol, onde ucranianos continuam a resistir na usina de Azovstal — e negociações por um cessar-fogo continuam sem avanços.
No front diplomático, representantes dos dois lados deram indicações de que um acordo permanece longe. O chanceler russo, Serguei Lavrov, acusou os ucranianos de inconsistência e de jogar com Moscou seguindo instruções de Washington e Londres.
O diplomata ainda afirmou que seu país não se vê em guerra com a Otan, ainda que tenha repisado a afirmação de que instalações com armas fornecidas pelo Ocidente a Kiev são consideradas alvos legítimos pela Rússia.
Pelo lado ucraniano, o presidente Volodimir Zelenski disse a jornalistas poloneses que hoje há um risco grande de as negociações se encerrarem, "por causa do que eles [russos] têm deixado para trás" — em referência à morte de civis, atribuída às forças de Moscou.