France Presse
A intervenção rápida e limitada prometida pelo prêmio Nobel da Paz de 2019 se transformou em um conflito duradouro, marcado por massacres e estupros, e ameaça mergulhar o norte do país na fome.
Tanque abandonado no norte de Mekele, capital de Tigré, em 26 de fevereiro de 2021 © EDUARDO SOTERAS |
Abiy Ahmed anunciou que essa operação militar permitiria deter os líderes do Frente de Libertação do Povo do Tigré (TLPF), o partido que governa essa região dominada pelo poder federal por três décadas até 2018.
Segundo ele, a intervenção era inevitável depois que o TLPF atacou duas bases militares. O partido regional nega qualquer responsabilidade.
A operação ocorreu após meses de tensões. Os líderes do TLPF, que lamentavam regularmente serem deixados à margem por Abiy, o desafiaram abertamente organizando eleições locais em setembro, apesar da proibição decretada pela pandemia.
Depois de semanas de ataques aéreos e combates, o exército federal tomou o controle da capital regional Mekele em 28 de novembro. O primeiro-ministro cantou vitória.
Mas em junho, o TLPF lançou um contra-ataque que lhe permitiu reconquistar a maior parte do Tigré. O exército etíope se retirou e o governo de Abiy declarou um "cessar-fogo humanitário".
Depois do Tigré, o TLPF ampliou sua ofensiva para as regiões vizinhas de Afar e Amhara para impedir, segundo seus líderes, que as tropas rivais se reúnam e para romper o que a ONU descreveu como um "bloqueio de fato" da região.
Abiy Ahmed, por sua vez, convocou uma mobilização nacional contra os "terroristas" do TLPF.
Nessas últimas semanas os combates se concentraram em Amhara, ao sul de Tigré.
As comunicações estão cortadas em grande parte do norte da Etiópia e o acesso de jornalistas está restringido, o que dificulta verificar as posições no terreno.
Tigré foi palco de poucos combates desde o final de junho, embora a aviação etíope tenha realizado bombardeios que mataram ao menos quatro civis no final de outubro.
O governo afirma direcionar seus ataques a instalações rebeldes. O TLPF responde que os ataques mostram o desprezo da autoridade federal pelas vidas civis.
Mais de 400.000 pessoas ultrapassaram o "limite da fome" no Tigré, alertou em julho um alto responsável da ONU. Desde então, a situação só piorou.
Serviços básicos como energia elétrica, bancos ou telecomunicação "são rejeitados pelo governo etíope", afirmou à AFP em setembro um porta-voz do departamento de Estado dos Estados Unidos, mencionando "senais de um estado de exceção".