France Presse
"O Ministério da Defesa executou com sucesso um teste, o que resultou na destruição do aparelho espacial 'Tselina-D', que estava em órbita desde 1982", afirmou o Exército em um comunicado.
Imagem da ISS de 7 de março de 2011 tirada por astronauta da nave americana Discovery e divulgada pela NASA |
O lançamento deste míssil havia sido antecipado na véspera pelos Estados Unidos, que acusaram Moscou de provocar uma nuvem de destroços ameaçadores para os astronautas da ISS.
Segundo Washington, os sete astronautas a bordo da ISS tiveram de se refugiar temporariamente em seus naves para se prepararem para uma eventual saída de emergência.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, classificou como "hipócritas" as acusações dos Estados Unidos. Até então, os EUA eram os únicos, junto com China e Índia, a terem lançado mísseis espaciais.
"Declarar que a Federação Russa criou riscos para a exploração com fins civis do espaço é hipócrita, para dizer o mínimo. Não há qualquer fato nesse sentido", disse Lavrov.
O chanceler russo disse ainda que os Estados Unidos "ignoraram as propostas de Rússia e China para um acordo internacional que impeça uma corrida armamentista no espaço". Segundo ele, em 2020, os EUA "criaram um comando espacial e adotaram uma estratégia", que tem, entre seus objetivos, "instaurar um domínio militar no cosmos".
Ontem, o diretor da Agência Espacial Americana (Nasa), Bill Nelson, disse estar "indignado", e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, destacou que a nuvem de destroços ameaçaria as atividades espaciais "durante décadas".
Nesta terça, a agência espacial russa, a Roscosmos, rebateu a acusação, garantindo que sua "prioridade máxima" é a "segurança da tripulação" da ISS.
"Apenas os esforços conjuntos de todas as potências espaciais poderão garantir uma coexistência o mais segura possível e as operações no âmbito espacial", afirmou a Roscosmos em um comunicado, sem responder diretamente às acusações americanas.
Segundo a agência oficial de notícias russa TASS, autoridades da NASA e o diretor da Roscosmos, Dmitri Rogozin, terão uma conversa ainda hoje.
Otan também critica
Também nesta terça e na mesma linha de Washington, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, condenou o ato "irresponsável" da Rússia.
Stoltenberg disse, em Bruxelas, que o teste "criou uma grande quantidade de destroços, que agora são um risco para a Estação Espacial Internacional e também para a estação espacial chinesa".
"Este foi um ato irresponsável da Rússia", criticou, ressaltando que a destruição do satélite também gerou abundante "lixo que representa um risco para a atividade civil no espaço".
Ele lembrou que parte importante das capacidades da Otan depende das suas ferramentas de satélite, incluindo "comunicações, navegação e alertas antecipados". Garantiu, no entanto, que a Aliança Atlântica não pretende "militarizar o espaço".
Stoltenberg observou ainda que a situação "é motivo de preocupação, porque mostra que a Rússia está desenvolvendo novos sistemas de armas que podem derrubar satélites".
Desta forma, acrescentou, este país "pode destruir capacidades espaciais importantes para a infraestrutura básica na Terra".
A discórdia põe sob os holofotes o risco de uma militarização do espaço. Este é um dos poucos campos, em que Washington e Moscou ainda mantêm uma cooperação relativamente estável, para além de suas muitas divergências.
Até agora, Moscou havia levantado sua voz contra qualquer tentativa de militarizar o espaço. Ainda assim, disse à AFP o especialista militar russo Pavel Felgenhauer, Moscou nunca escondeu que têm sistemas capazes de alcançar o espaço, decolando da Terra. Entre eles, estão os sistemas de defesa S-500 e S-550, capazes, de acordo com o Exército, de destruir satélites.
O lançamento de segunda-feira pode ter gerado uma enorme quantidade de destroços. Estes fragmentos representariam um risco para milhares de outros satélites em órbita, dos quais dependem muitas atividades, como comunicações, ou geolocalização.