O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou nesta quinta (18) o Ocidente de "tratar superficialmente todos nossos alertas sobre linhas vermelhas" ao escalar a atividade militar na vizinha Ucrânia.
"Nossos parceiros ocidentais estão escalando a situação ao suprir Kiev com armas letais modernas e ao conduzir manobras provocativas no mar Negro", disse Putin, que acusou bombardeiros da Otan (aliança militar ocidental) de voar "a 20 km de nossas fronteiras".
O presidente reclamou que tem "constantemente levantado preocupações sobre isso", sem sucesso.
As declarações ocorrem num momento de crise multifacetada ente os interesses russos e ocidentais na longa faixa de atrito que vai do mar Negro ao Báltico, de norte a sul do Leste Europeu.
Imagens de satélite mostram que, desde o começo de novembro, forças russas se concentraram em pontos relativamente próximos da Ucrânia e dos territórios dominados por rebeldes pró-Kremlin desde 2014 no país vizinho.
A guerra civil na região já matou 13 mil pessoas e veio na esteira da anexação da Crimeia por Putin, uma resposta ao golpe que derrubou o governo simpático a Moscou em Kiev no começo daquele ano. Diferentemente do que ocorreu na península, até pela homogeneidade russa étnica menor no leste ucraniano e a reação militar de Kiev, o conflito por lá acabou congelado.
Neste ano, Putin fez concentrações e exercícios militares semelhantes, assustando o Ocidente, para dissuadir o governo ucraniano de uma ação de retomada das áreas rebeldes. Do seu ponto de vista geopolítico, a Ucrânia tem de permanecer no mínimo neutra, o que a divisão interna permite, separando a Rússia das forças da Otan.
Destas vez, contudo, os soldados e blindados russos estão bem mais distantes, cerca de 300 km, o que levou a própria Guarda de Fronteira da Ucrânia a negar o risco iminente de invasão trombeteado na semana passada pelos americanos.
De seu lado, Putin já havia se queixado na segunda-feira (15) com o presidente francês, Emmanuel Macron, acerca das manobras no mar Negro -- que sedia uma frota russa na Crimeia e é a saída do país para o Mediterrâneo.
Em junho, a Rússia deu tiros de advertência contra um navio de guerra britânico perto das águas que considera suas no mar. As relações diplomáticas com a Otan estão cortadas. Nesta semana, a Ucrânia conduz manobras militares perto da Crimeia.
Ao falar do fornecimento de armas, Putin falava tanto de um pacote vendido pelos EUA à Ucrânia, mas principalmente da chegada dos mortíferos drones Bayraktar TB2 fornecidos pelo membro da Otan Turquia a Kiev.
Essas armas fizeram a diferença em favor dos azeris contra os armênios, aliados de Putin, na guerra do Cáucaso no ano passado. O Kremlin teme uma mudança de equilíbrio no jogo do Donbass, como o leste ucraniano é chamado.
Os turcos são parceiros e rivais da Rússia, com interesses de controle do mar Negro.
"Bruxelas [sede da União Europeia e da Otan] precisa entender que reduzir a tensão político-militar não é apenas do interesse russo mas de todos na Europa, até no mundo", afirmou Putin.
O discurso é retórico, mas 2014 está aí para provar que o risco de embates diretos é real, algo potencializado pela crise em curso.
A Rússia é aliada da Belarus, cuja ditadura está em confronto direto com a Polônia e outros membros da Otan devido à crise dos refugiados. Ambos os lados sinalizaram ter apoio militar no embate.
Além dessa questão, que deu sinais de algum refluxo nesta quinta, houve a surpreendente decisão alemã de suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2 -- segundo ramal da conexão entre Rússia a Alemanha, finalizado em setembro.
Berlim aponta questões burocráticas a serem vencidas pelo consórcio, e o Kremlin tentou normalizar o assunto, dizendo que tudo seria resolvido.
Mas o fato é que Putin é crescentemente visto como um ator que usa a arma energética contra os europeus, e o gasoduto ampliará seus poderes num mercado 40% seu -- além de prejudicar a Ucrânia, já que o produto será desviado de seu caminho pelo país, um trânsito que gera US$ 2 bilhões em receitas anuais.
O Kremlin nega tal leitura, mas a alarmista imprensa britânica já fala em um inverno europeu com apagões por eventual retaliação de Putin.
A situação toda enerva principalmente os europeus, em especial os do leste, cientes de que os EUA estão focados na sua Guerra Fria 2.0 com a China, além dos problemas domésticos do governo de Joe Biden.
Igor Gielow | FOLHAPRESS
SÃO PAULO, SP - O discurso, feito no Ministério das Relações Exteriores, é uma resposta direta à acusação americana de que os russos estão concentrando cerca de 100 mil homens em áreas próximas das fronteiras ucranianas.
SÃO PAULO, SP - O discurso, feito no Ministério das Relações Exteriores, é uma resposta direta à acusação americana de que os russos estão concentrando cerca de 100 mil homens em áreas próximas das fronteiras ucranianas.
Tanque ucraniano dispara durante exercício em Kherson, perto da fronteira com a Crimeia anexada - Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia via Reuters |
"Nossos parceiros ocidentais estão escalando a situação ao suprir Kiev com armas letais modernas e ao conduzir manobras provocativas no mar Negro", disse Putin, que acusou bombardeiros da Otan (aliança militar ocidental) de voar "a 20 km de nossas fronteiras".
O presidente reclamou que tem "constantemente levantado preocupações sobre isso", sem sucesso.
As declarações ocorrem num momento de crise multifacetada ente os interesses russos e ocidentais na longa faixa de atrito que vai do mar Negro ao Báltico, de norte a sul do Leste Europeu.
Imagens de satélite mostram que, desde o começo de novembro, forças russas se concentraram em pontos relativamente próximos da Ucrânia e dos territórios dominados por rebeldes pró-Kremlin desde 2014 no país vizinho.
A guerra civil na região já matou 13 mil pessoas e veio na esteira da anexação da Crimeia por Putin, uma resposta ao golpe que derrubou o governo simpático a Moscou em Kiev no começo daquele ano. Diferentemente do que ocorreu na península, até pela homogeneidade russa étnica menor no leste ucraniano e a reação militar de Kiev, o conflito por lá acabou congelado.
Neste ano, Putin fez concentrações e exercícios militares semelhantes, assustando o Ocidente, para dissuadir o governo ucraniano de uma ação de retomada das áreas rebeldes. Do seu ponto de vista geopolítico, a Ucrânia tem de permanecer no mínimo neutra, o que a divisão interna permite, separando a Rússia das forças da Otan.
Destas vez, contudo, os soldados e blindados russos estão bem mais distantes, cerca de 300 km, o que levou a própria Guarda de Fronteira da Ucrânia a negar o risco iminente de invasão trombeteado na semana passada pelos americanos.
De seu lado, Putin já havia se queixado na segunda-feira (15) com o presidente francês, Emmanuel Macron, acerca das manobras no mar Negro -- que sedia uma frota russa na Crimeia e é a saída do país para o Mediterrâneo.
Em junho, a Rússia deu tiros de advertência contra um navio de guerra britânico perto das águas que considera suas no mar. As relações diplomáticas com a Otan estão cortadas. Nesta semana, a Ucrânia conduz manobras militares perto da Crimeia.
Ao falar do fornecimento de armas, Putin falava tanto de um pacote vendido pelos EUA à Ucrânia, mas principalmente da chegada dos mortíferos drones Bayraktar TB2 fornecidos pelo membro da Otan Turquia a Kiev.
Essas armas fizeram a diferença em favor dos azeris contra os armênios, aliados de Putin, na guerra do Cáucaso no ano passado. O Kremlin teme uma mudança de equilíbrio no jogo do Donbass, como o leste ucraniano é chamado.
Os turcos são parceiros e rivais da Rússia, com interesses de controle do mar Negro.
"Bruxelas [sede da União Europeia e da Otan] precisa entender que reduzir a tensão político-militar não é apenas do interesse russo mas de todos na Europa, até no mundo", afirmou Putin.
O discurso é retórico, mas 2014 está aí para provar que o risco de embates diretos é real, algo potencializado pela crise em curso.
A Rússia é aliada da Belarus, cuja ditadura está em confronto direto com a Polônia e outros membros da Otan devido à crise dos refugiados. Ambos os lados sinalizaram ter apoio militar no embate.
Além dessa questão, que deu sinais de algum refluxo nesta quinta, houve a surpreendente decisão alemã de suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2 -- segundo ramal da conexão entre Rússia a Alemanha, finalizado em setembro.
Berlim aponta questões burocráticas a serem vencidas pelo consórcio, e o Kremlin tentou normalizar o assunto, dizendo que tudo seria resolvido.
Mas o fato é que Putin é crescentemente visto como um ator que usa a arma energética contra os europeus, e o gasoduto ampliará seus poderes num mercado 40% seu -- além de prejudicar a Ucrânia, já que o produto será desviado de seu caminho pelo país, um trânsito que gera US$ 2 bilhões em receitas anuais.
O Kremlin nega tal leitura, mas a alarmista imprensa britânica já fala em um inverno europeu com apagões por eventual retaliação de Putin.
A situação toda enerva principalmente os europeus, em especial os do leste, cientes de que os EUA estão focados na sua Guerra Fria 2.0 com a China, além dos problemas domésticos do governo de Joe Biden.
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