Deutsch Welle
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, apelou nesta segunda-feira (15/11) para que a Rússia evite uma escalada e reduza as tensões dentro e ao redor da Ucrânia, dada a "grande e incomum concentração de forças" de Moscou ao longo da fronteira com a ex-república soviética.
Ucrânia diz que até 100 mil soldados russos estão na fronteira do país |
"Pedimos à Rússia que seja transparente com suas atividades militares, para reduzir as tensões e evitar qualquer escalada", disse Stoltenberg durante entrevista coletiva com o ministro do Exterior da Ucrânia, Dmitro Kuleba, com quem se reuniu nesta segunda em Bruxelas.
Stoltenberg destacou que nas últimas semanas houve "uma grande e incomum concentração de forças russas perto das fronteiras da Ucrânia" e acrescentou que se trata de uma situação semelhante à concentração militar de Moscou na Crimeia e na região do Mar Negro no início deste ano.
"Sabemos que a Rússia já mostrou vontade e capacidade para usar a força militar contra a Ucrânia antes. Vimos isso quando anexaram ilegalmente a Crimeia e vimos isso durante muitos anos na forma como apoiam os separatistas no Donbass [região no leste da Ucrânia]", afirmou.
A Ucrânia estima que até 100 mil soldados russos estão estacionados na área de fronteira ucraniana.
Stoltenberg observou que a Otan permanece "vigilante", monitora a situação "muito de perto" e mantém consultas entre os aliados, bem como com a Ucrânia e a União Europeia (UE). "Qualquer outra provocação ou ação agressiva da Rússia seria de grande preocupação", advertiu.
O secretário-geral sublinhou que o apoio da Otan à Ucrânia "não é uma ameaça à Rússia", acrescentando que os exercícios da Aliança na região do Mar Negro são "defensivos e transparentes".
Belarus
O secretário-geral reiterou também a condenação da Otan à "instrumentalização" feita pelo regime do presidente belarusso, Alexander Lukashenko, "de migrantes vulneráveis", que ocorre em simultâneo com o destacamento da Rússia para a Ucrânia.
Lukashenko, cujo principal aliado é a Rússia, é acusado pela União Europeia de transportar migrantes, a maioria deles do Oriente Médio, para a fronteira entre Belarus e Polônia. O presidente belarusso estaria tentando orquestrar uma onda migratória como forma de pressão à UE, em retaliação a sanções impostas pelo bloco a seu regime.
"Estes são eventos que estão acontecendo ao mesmo tempo. Também vemos tensões crescendo em partes dos Bálcãs Ocidentais. Então, há muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, e a Otan tem que estar vigilante", disse.
Ele ressaltou que não considera haver "ameaça iminente de qualquer agressão militar" contra os países da Otan. "Mas vemos uma situação muito difícil evoluindo na fronteira entre um aliado da Otan, a Polônia, e Belarus, e também vemos situações semelhantes na Lituânia e na Letônia", enumerou.
O ministro do Exterior ucraniano garantiu que o que a Rússia faz na fronteira com o seu país “"ão é simplesmente um aumento das forças militares", visto que, como disse, os destacados no começo do ano "nunca se retiraram realmente".
"O que vemos agora é uma situação de deterioração em que a Rússia está mostrando que pode ativar rapidamente as tropas e equipamentos já acumulados e que qualquer opção, incluindo a militar, está sobre a mesa para a liderança russa", disse.
Ele observou que Moscou "continua a alimentar o conflito no leste da Ucrânia, fornecendo armas e tropas, financiando a administração da ocupação e emitindo passaportes russos para os habitantes locais".
"As manobras militares da Rússia, a crise de energia na Europa, o uso dramático de migrantes como armas nas fronteiras da Polônia e Lituânia com Belarus e a desinformação massiva devem ser vistos como um complexo de eventos, porque são todos elementos da guerra híbrida da Rússia na comunidade europeia e euroatlântica ", sublinhou.
Alerta de Alemanha e Reino Unido
A Alemanha também pediu nesta segunda-feira à Rússia para "exercer moderação" após ter sido registrada a mobilização de tropas na fronteira ucraniana, movimentações que Berlim encara com "inquietação".
"Vemos essas atividades militares da Rússia com inquietação", disse o porta-voz do Ministério do Exterior alemão, Christofer Burger, em declarações à imprensa em Berlim. "Devemos impedir uma escalada militar", acrescentou o porta-voz, que pediu à Rússia para "voltar à mesa das negociações".
O Reino Unido também comentou a escalada da situação e apelou à solidariedade com a Ucrânia. "Estamos vendo uma situação preocupante naquela fronteira. Continuamos a apoiar inabalavelmente a integridade territorial da Ucrânia e continuaremos a apoiá-la em face da hostilidade russa", disse um porta-voz do primeiro-ministro Boris Johnson.
Os Estados Unidos, a União Europeia e a França já tinham demonstrado "inquietação" nos últimos dias sobre o destacamento de tropas russas junto à fronteira ucraniana.
A situação na região agravou-se depois da anexação russa da península ucraniana da Crimeia em 2014. Desde então, foi desencadeado um conflito no leste da Ucrânia entre Kiev e forças separatistas pró-russas.