RFI
No início de setembro, o chefe da diplomacia israelense, Yair Lapid, havia declarado sua oposição à reabertura do consulado para os palestinos em Jerusalém alegando que a cidade santa "era a capital de Israel e apenas de Israel", e que essa medida criaria o risco de "desestabilizar" o novo governo.
Israel acaba de adquirir um governo de coalizão heterogêneo que pôs fim ao reinado do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e cuja sobrevivência depende de sua capacidade de aprovar um orçamento até 14 de novembro para evitar a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições.
No orçamento aprovado nesta sexta-feira (5), a questão da reabertura de um consulado americano para os palestinos ressurgiu imediatamente. "Um consulado americano servindo aos palestinos não tem lugar em Jerusalém. Estamos expressando nossa posição de forma clara, silenciosa e sem drama", declarou o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, em uma entrevista coletiva na noite deste sábado (6).
“Se (os americanos) querem abrir um consulado em Ramallah (Cisjordânia), não temos problema com isso”, acrescentou Yair Lapid, proposta rejeitada pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
“A liderança palestina só vai concordar com a reabertura do consulado dos EUA em Jerusalém Oriental, capital do estado da Palestina. O governo americano se comprometeu a reabrir este consulado, uma medida de que fomos oficialmente informados, e esperamos sua implementação em um futuro próximo ", reagiu a presidência neste domingo (7).
Legado de Trump
No ano passado, Biden prometeu reabrir o Consulado de Jerusalém para os palestinos, fechado por seu antecessor Donald Trump, que reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, para decepção dos palestinos que aspiram fazer do setor leste da cidade, ocupado desde 1967 pelo Estado judeu, a capital de seu futuro Estado.
O consulado para os palestinos ficava na verdade localizado em Jerusalém Ocidental, mas era acoplado a um escritório em Jerusalém Oriental, onde os palestinos podiam solicitar vistos. No entanto, "esta reabertura é muito importante porque é um reconhecimento de Jerusalém Oriental como a capital (de um futuro) Estado da Palestina. É o primeiro gesto que esperamos dos Estados Unidos para relançar as relações", afirmou um alto funcionário palestino à AFP, dizendo que espera um anúncio antes do final do primeiro ano de Joe Biden no poder, em janeiro próximo.
A reabertura do consulado é "a única coisa que os americanos prometeram, revertendo a política de Trump (...) mas não acho que eles tenham pressa em avançar com essa medida", revela Daniel Levy, presidente do US Middle East Project, centro de análises especializado em Oriente Médio.
“O governo dos Estados Unidos não apenas reduziu a prioridade desse assunto, como também não quer nenhum conflito sobre o assunto”, acrescentou ele em seu depoimento à AFP. “Como os israelenses retomaram a cooperação de alto nível com os palestinos, o consulado é realmente a questão pela qual (os americanos) querem travar uma grande batalha? Além disso, qual é a credibilidade da Autoridade Palestina?”, acrescenta Levy.
Risco calculado
Nos últimos meses, o presidente palestino foi criticado até mesmo dentro da ala progressista dos democratas americanos na esteira do caso Nizar Banat, opositor de Mahmoud Abbas morto pelas forças palestinas, motivo pelo qual a pressão para reabrir o consulado que não teria mais o mesmo peso, ele resume.
Israel, que tem em Washington seu principal aliado, "está assumindo um risco calculado, mas não uma aposta", ao mostrar publicamente sua oposição à reabertura do consulado, comentou Yoav Fromer, diretor do Centro de Estudos sobre os Estados Unidos da Universidade de Tel Aviv. “O governo americano já tem problemas demais como esse. Não é para eles um bom cavalo de batalha no momento (...). Os Estados Unidos vão encontrar outras formas de se reconectar com os palestinos, em primeiro lugar pela ajuda econômica”.
(Com informações da AFP)