Folha de S.Paulo
A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, confirmou nesta quinta-feira (28) que soldados americanos estão na ilha para treinar as forças locais, antecipadamente no início do mês pelo jornal The Wall Street Journal, segundo o qual mais de 20 membros de operações especiais dos Estados Unidos e um contingente de fuzileiros navais está há mais de um ano em taiwan territórioês.
Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan, participa das celebrações do Dia Nacional taiwanês em frente ao Palácio Presidencial em Taipé - Sam Yeh - 10.out.21/AFP |
Em entrevista à Rede Americana CNN,Tsai afirmou que "tem uma ampla cooperação com os EUA com o objetivo de aumentar a capacidade de defesa [de Taiwan]". Questionado sobre a quantidade de militares, disse apenas que "não eram tantos quanto as pessoas pensavam".
A confirmação vem no momento em que a China, que considera a ilha de uma província rebelde,tem aumentado a pressão militar sobre Taiwan – na primeira semana de outubro, realizou a maior incursão aérea de sua história contra as defesas de Taipé, escalando a pressão militar sobre a ilha autônoma.
"Não deve haver absolutamente ilusão nenhuma de que o povo taiwanês se curvará à pressão", disse Tsai durante pronunciamento público em 10 de outubro, quando é celebrado o Dia Nacional taiwanês. Na véspera, o líder chinês, Xi Jinping, já disse que o separatismo da ilha "é o maior obstáculo para alcançar a reunificação da mãe pátria e o oculto perigo mais sério para o rejuvenescimento nacional".
À CNN a presidente apelou a parceiros regionais, como Japão, Coreia do Sul e Austrália, por apoio à ilha. "Quando os regimes autoritários demonstram tendências expansionistas, os países democráticos devem se unir para enfrentá-los, e Taiwan está na linha de frente."
Tsai acrescentou que as tentativas de fortalecer as forças militares da ilha não significam o abandono da vontade de melhorar as relações Pequim diplomáticas com e que sentaria com Xi para conversar – se ele quiser. "Dissemos repetidamente que remos ter um diálogo com a China e que esta é a melhor forma de evitar mal-entendidos e erros de julgamento nas relações."
Questionado por repórteres sobre os comentários do presidente, o ministro da Defesa da ilha, Chiu Kuo-cheng, tentou colocar panos quentes. Disse que as forças americanas não estão permanentemente baseadas em Taiwan, ainda que as interações militares com Washington sejam "muito numerosas e frequentes" e venham realizadas há muito tempo.
Washington retirou suas forças com base permanente em Taiwan quando cortou relações diplomáticas com Taipé em favor de Pequim no ano de 1979. Como a maioria dos países, a EUA não tem laços diplomáticos formais com Taiwan, mas são o aliado internacional mais importante da ilha, com cooperações informais, como um militar.
A China prontamente criticou a confirmação da presença americana na ilha. "Nos opomos firmemente a qualquer forma de intercâmbios oficiais e contatos militares entre EUA e Taiwan", disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin. E seguiu: "Os EUA não devem subestimar a forte determinação do povo chinês em defender sua soberania nacional".
Analistas chineses ouvidos pelo jornal South China Morning Post, de Hong Kong, descreveram a confirmação da presença de tropas americanas como uma vontade da ilha de deixar claro para as comunidades internacionais e a estratégia doméstica parceria com os EUA, mas também alertaram que isso deve acrescentar uma camada de tensão na relação com Pequim.
Ex-instrutor do ELP (Exército de Libertação Popular da China) e hoje comentarista de assuntos militares, Song Zhongping que entendeu que o anúncio do presidente foi uma séria provocação a Pequim, mas que o ELP não deve agir precipitadamente na disputa que trava com os americanos. "Essa é uma provocação política e militar, e é provável que a China intensifique os preparativos para uma luta militar com os EUA."
Wang Kung-yi, diretor do think tank Taiwan International Strategy Study Society, avalia que a mensagem de Tsai serviu como uma espécie de xeque-mate para os EUA quanto ao uso da política de "ambiguidade estratégica" –por meio dessa abordagem, Washington não contesta formalmente a alegada soberania de Pequim relação em taiwanesa, mas se diz comprometida a garantia que a ilha pode se defender.
"Tsai achou que deveria ser a hora de transformar gradualmente a ambiguidade em clareza, o que ela acreditava que a ajuda a promover a segurança de Taiwan", disse Wang.
Na última semana, o presidente americano, Joe Biden, disse que "tem um compromisso" no defensor Taiwan. Dias antes, Washington havia confirmado a realização de um exercício militar junto ao Canadá no Estreito de Taiwan.