Jussara Soares | O Globo
BRASÍLIA - Ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid tem assumido um papel de conselheiro-geral do chefe e causado ciumeira no Palácio do Planalto. Suas interferências, muitas vezes a pedido, alcançam temas relacionados a saúde, economia, meio ambiente, questões jurídicas e sobre o que mais Bolsonaro tiver dúvidas.
Os AJOs — como os ajudantes de ordens são conhecidos nos círculos de poder — atuam como se fossem secretários particulares do presidente em tempo integral. Discretos, eles são o último anteparo do comandante do Executivo. Por vezes, carregam seus celulares, recepcionam as visitas, anotam demandas e, mais importante, veem e ouvem quase tudo o que se passa com o titular da cadeira mais poderosa do país. No caso de Cid, ele faz isso e mais.
O militar é criticado por integrantes do governo por supostamente se intrometer em assuntos que não lhe cabem. Alguns o classificam como excessivamente proativo e, por isso, capaz de criar embaraços desnecessários ao presidente. Uma das reclamações passa pela forma como Cid atende a demandas presidencias, buscando respostas por meios próprios, em vez de recorrer às áreas técnicas do governo.
Fluente em inglês e espanhol, além de compreender bem francês e alemão, Cid também faz traduções de artigos. Logo pela manhã, o militar seleciona reportagens e textos da imprensa que considera importantes para Bolsonaro. Além disso, recebe centenas de mensagens diariamente no WhatsApp com pedidos de audiência, recados e até denúncias para serem selecionadas e repassadas ao presidente.
Cid ainda ajuda o chefe do Executivo a preparar discursos e roteiros das transmissões ao vivo que ele faz pela internet, tarefas que não costumam ser levadas a ajudantes de ordens. Pessoas próximas ao militar dizem que o excesso de atribuições de Cid guarda relação com a informalidade de Bolsonaro, que demanda missões a quem estiver mais próximo, sem levar em consideração os postos que ocupam. No governo, o militar também é apontado como homem de confiança do general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
A proximidade com Bolsonaro acabou obrigando Cid a cumprir compromissos nada agradáveis. No ano passado, ele teve que prestar depoimento no inquérito dos atos antidemocráticos, aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após a Polícia Federal encontrar mensagens trocadas entre o ajudante de ordens e o blogueiro Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre. Santos escreveu que era a favor de intervenção por parte das Forças Armadas, ao que Cid respondeu: “Opa”. À PF, ele disse que se tratou apenas de uma saudação. O contratempo não abalou a confiança do presidente em seu auxiliar. Após o episódio, Bolsonaro o chamou para dizer que nada mudaria na relação entre eles.
Fora da política
Formado na turma de 2000 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Cid é filho do general Mauro César Lourena Cid, colega de Bolsonaro na mesma academia. No início do governo, o general chegou a ser cotado para assumir o comando do Exército, mas a vaga ficou com Edson Leal Pujol. Em junho de 2019, porém, ele se tornou chefe do escritório da Apex em Miami.
Colegas de turma de Cid afirmam que o pai do tenente-coronel não teve influência na escolha do nome dele para ocupar o cargo de assistente pessoal de Bolsonaro. Primeiro colocado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Cid era instrutor da Aman e se preparava para assumir um posto nos Estados Unidos quando foi designado para servir à Presidência. A amigos, Cid descarta ingressar na política e afirma que mira nos passos do pai rumo ao generalato.