Taísa Szabatura | IstoÉ
Os Estados Unidos, maior potência militar do mundo, foram derrotados em conflitos na Coreia, Vietnã e, mais recentemente, no Afeganistão. Como o exército mais poderoso do planeta não conseguiu vencer a maioria dos conflitos ocorridos no período pós-Segunda Guerra, seus generais se preparam para um novo tipo de batalha, onde o envolvimento humano é menor e as estratégias são baseadas na tecnologia e na análise de dados. Os drones e as armas disparadas a quilômetros de distância já são uma realidade, embora sua precisão ainda não seja a ideal — o número de vítimas civis é grande e a comunidade internacional é cada vez mais sensível a esses chamados “danos colaterais”. A solução passa pelo aumento de dispositivos controlados por Inteligência Artificial (IA).
MICRORROBÔS Insetos ciborgues: chips acoplados podem fazer o reconhecimento das zonas de guerra © Divulgação |
Ao coletar detalhes relevantes para o sucesso de uma operação militar — relevo, velocidade do vento e identificação termogênica das vítimas, para citar alguns — a IA poderá fornecer informações em tempo real aos soldados por meio de óculos de realidade aumentada. O conceito, que parece ter saído do filme “Exterminador do Futuro”, já é usado em treinamentos. Em alguns casos, o soldado não precisará sequer estar presente no campo de batalha. Foi o que aconteceu no ataque que matou o líder do programa nuclear iraniano, Mohsen Fakhrizadeh, ação atribuída ao Mossad, serviço secreto de Israel. A arma? Uma metralhadora comandada por controle remoto, cujo tiro de alta precisão atingiu e eliminou o alvo em poucos segundos.
Para o doutor em História e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, Victor Missiato, os avanços na tecnologia de guerra do século 20 evoluíram junto com a Revolução Industrial. “Entre a Primeira Guerra Mundial, conhecida como ‘a guerra das trincheiras’, a Segunda, que contou com uso massivo de aeronaves e tanques, se passaram apenas duas décadas. Em 1945 já havia até armas nucleares”.
Da espada ao uso da pólvora houve um intervalo milenar, mas agora os avanços são constantes e mais rápidos. A informação também é menos transparente, uma vez que cada país desenvolve sua capacidade bélica em segredo. “As armas nucleares estabilizaram a régua de poder entre os países – atacar uma potência nuclear também significa exterminar a si mesmo”, diz Missiato. Diante desse cenário, os países precisaram encontrar outras maneiras de garantir seu poder. O governo norte-americano, em parceria com a Microsoft, trabalha para desenvolver uma viseira transparente acoplada ao capacete que permitiria ao soldado sobrepor a realidade a uma imagem de computação gráfica. Também estão sendo usadas armas a laser, dignas do filme “Guerra nas Estrelas”. Até insetos ciborgues, equipados com chips para reconhecimento, podem se tornar realidade. A ideia surgiu na década de 1940, mas só agora há capacidade tecnológica para que o projeto seja viável. Camuflar navios, helicópteros e soldados de forma efetiva também é um avanço que vem de anos de pesquisa — o avião “invisível” dos EUA, o Stealth, que não pode ser captado por radares, já está em ação.
Duelo de titãs
A China, o segundo país que mais investe na área militar hoje, responde aos Stealth com seus próprios caças furtivos, como o modelo Chengdu J-20, além de drones e armamentos feitos com tecnologia própria. Para tentar refrear a supremacia chinesa na região, EUA, Inglaterra e Austrália anunciaram um acordo para que o país da Oceania detenha a tecnologia e capacidade de construir submarinos nucleares.
Em resposta, a China realizou na quarta-feira 29 um show aéreo exibindo todo o poder de suas aeronaves. Foi uma resposta à fala do secretário da Força Aérea americana, Frank Kendall, que afirmou ser necessário “manter a China assustada”. Para Natália Pollachi, gerente de projetos do Instituto “Sou da Paz”, essas armas de monitoramento à distância são instrumentos eficazes para matar pessoas. “Com esse novo modelo de ataque, não há declaração de guerra nem prisões. As partes entram em conflito e diversas vidas civis são perdidas ao longo desse processo”. Sem prisioneiros de guerra, julgamentos ou possibilidade de rendição, direitos garantidos pela Convenção de Genebra, as guerras do futuro podem ser ainda mais sombrias que as do passado.