France Presse
"Está claro, é óbvio para todos nós, que a guerra no Afeganistão não terminou nos termos que queríamos, com os talibãs no poder em Cabul", disse o general Milley em audiência no Congresso.
O chefe de Estado-maior Conjunto, general Mark Milley, depõe em uma audiência do Comitê das Forças Armadas da Câmara Baixa, 29 de setembro de 2021 em Washington © Olivier DOULIERY |
"A guerra foi um fracasso estratégico", acrescentou Milley ao Comitê das Forças Armadas da Câmara de Representantes sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão e a caótica evacuação dos civis da capital, Cabul.
"Não foi perdida nos últimos 20 dias ou inclusive em 20 meses", disse o general. "Há um efeito cumulativo em uma série de discussões estratégicas que remontam a muito tempo atrás".
Milley é o principal assessor militar do presidente Joe Biden, que pôs fim no mês passado à presença de tropas americanas no Afeganistão após a invasão do país, em 2001.
"Sempre que ocorre um fenômeno como uma guerra que se perde - e assim foi -, no sentido de que cumprimos nossa tarefa estratégica de proteger os Estados Unidos contra a Al Qaeda, mas certamente o final é muito diferente do que queríamos", destacou Milley.
"Então, sempre que ocorre um fenômeno como este, há grande quantidade de fatores causais", disse. "E vamos ter que ver como resolver isso. Muitas lições aprendidas aqui".
Milley enumerou uma série de fatores que atribui à derrota dos Estados Unidos, que remontou a uma oportunidade perdida de capturar ou matar o líder da rede jihadista Al Qaeda, Osama bin Laden, no complexo de cavernas de Tora Bora, no leste do Afeganistão, em dezembro de 2001.
Ele também mencionou a decisão em 2003 de invadir o Iraque, que afastou as tropas americanas do Afeganistão, "sem lidar efetivamente com o Paquistão como um santuário (do talibã)", assim como a de tirar o pessoal do Afeganistão há alguns anos.
Biden ordenou em abril a retirada completa das forças americanas do Afeganistão antes de 31 de agosto, segundo um acordo alcançado com os talibãs pelo ex-presidente Donald Trump.
Milley e o general Kenneth McKenzie, comandante do Comando Central dos Estados Unidos, que abrange o Afeganistão, disseram na terça-feira a um comitê do Senado que coincidiam pessoalmente com a recomendação de deixar 2.500 soldados no Afeganistão.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que Biden tinha recebido conselhos divergentes sobre o que fazer no Afeganistão, que os Estados Unidos invadiram após os atentados da Al Qaeda em 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington.
"Em última instância, depende do comandante-em-chefe tomar uma decisão", disse Psaki. "Tomou a decisão de que era a hora de pôr fim a uma guerra de 20 anos".