France Presse
Feito por videoconferência na quarta-feira à noite (15) pelo presidente Joe Biden, pelo primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, e por seu colega britânico, Boris Johnson, o anúncio irritou o governo chinês.
Nesta quinta-feira (16), a China denunciou a venda dos submarinos nucleares como "extremamente irresponsável" e afirmou que "compromete de maneira grave a paz e a estabilidade regionais".
A decisão também foi muito criticada pela França, que negociava uma venda bilionária de submarinos convencionais para a Austrália.
Biden disse que os esforços para permitir que a Austrália construa submarinos de propulsão nuclear vão garantir que tenham "as capacidades mais modernas de que precisamos para manobrar e nos defender de ameaças em rápida evolução".
Os submarinos não estarão dotados de armas nucleares, e sim propulsionados por reatores nucleares, enfatizaram Biden e os outros dois líderes.
Mais tarde, Morrison anunciou que a Austrália também vai adquirir mísseis de cruzeiro Tomahawk americanos de longo alcance.
"Vamos atualizar nossas capacidades de ataque de longo alcance, incluindo mísseis de cruzeiro Tomahawk para serem instalados nos destroieres da classe Hobart da Marinha Real Australiana", informou Morrison.
Quando anunciaram algumas horas antes a aliança, denominada AUKUS, os três governantes não mencionaram a China, mas a intenção era clara.
- Convite à China -
Apesar disso, quando anunciou a compra dos Tomahawk, o chefe de governo australiano estendeu um "convite aberto" ao presidente chinês, Xi Jinping, para retomar as negociações de alto nível entre os dois países, atualmente paralisadas.
"Há um convite aberto ao presidente Xi para discutir outras questões", declarou Morrison.
Nesta quinta, Boris Johnson afirmou que os submarinos da Austrália vão contribuir para a "paz e a segurança na região Indo-Pacífico".
Em uma visita ao Sudeste Asiático na semana passada, a vice-presidente americana, Kamala Harris, acusou Pequim de "ações que ameaçam a ordem internacional baseada em regras". Ela se referiu, em particular, às reivindicações "agressivas" por parte do governo chinês no Mar do Sul da China, palco de disputas territoriais entre a China e seus vizinhos nos últimos anos.
Representantes técnicos e navais dos três países vão passar os próximos 18 meses decidindo como modernizar as capacidades da Austrália, "um dos projetos mais complexos e tecnicamente exigentes do mundo, com uma duração de décadas", segundo Johnson.
Além da frota de submarinos, um funcionário de alto escalão do governo Biden disse que a AUKUS combinará "cibernética, Inteligência Artificial, tecnologias quânticas, bem com algumas capacidades submarinas".
Esta mesma fonte destacou, repetidamente, até que ponto esta decisão é singular, visto que o Reino Unido foi o único outro país a receber ajuda dos Estados Unidos para construir uma frota de propulsão nuclear.
- Sigilo e interoperabilidade -
Com a China construindo sua própria Marinha de guerra e desafiando décadas de domínio militar americano na Ásia, a criação da AUKUS está "destinada a enviar uma mensagem de tranquilidade e determinação para manter uma forte postura dissuasória", disse o funcionário americano, que pediu para falar sob anonimato.
Mesmo sem portar armas nucleares, os novos submarinos permitirão à Austrália "jogar em um nível muito mais alto", assegurou.
"Os submarinos de propulsão nuclear mantêm características superiores de sigilo, velocidade, capacidade de manobra, capacidade de sobrevivência e resistência realmente substancial", disse o funcionário.
"Vão ver uma interoperabilidade muito mais profunda em nossas Marinhas de Guerra e nossa infraestrutura nuclear. Este é o maior passo estratégico que a Austrália dá em gerações", completou.
- "Irritado" -
Morrison confirmou nesta quinta-feira que a Austrália não prosseguirá com o acordo para comprar submarinos convencionais da França, algo que teve o apoio pessoal do presidente Emmanuel Macron.
Na tentativa de aplacar o mal-estar com Paris, Biden disse que a França é um "sócio e aliado-chave" no Indo-Pacífico.
E o ministro britânico da Defensa, Ben Wallace, afirmou que o Reino Unido não pretende "contrariar os franceses".
Para o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, porém, a decisão de anular o acordo foi "uma punhalada nas costas".
"Estou muito irritado e amargurado... Isso não é algo que os aliados fazem", criticou.
O acordo com a França era de quase 50 bilhões de dólares australianos (em torno de US$ 36,5 bilhões).
Morrison se reunirá com Biden em 24 de setembro, desta vez pessoalmente. Será o primeiro encontro na Casa Branca do Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad), que reúne Estados Unidos, Japão, Índia e Austrália.