Bernardo de Miguel | El País
A OTAN decidiu manter sua presença em Cabul, apesar da chegada do Talibã à capital do Afeganistão. “Estamos ajudando a manter as operações no aeroporto de Cabul para que o Afeganistão continue conectado ao mundo”, disse uma fonte oficial da Aliança neste domingo. A mesma fonte acrescenta que manterão sua “presença diplomática em Cabul”.
A OTAN decidiu manter sua presença em Cabul, apesar da chegada do Talibã à capital do Afeganistão. “Estamos ajudando a manter as operações no aeroporto de Cabul para que o Afeganistão continue conectado ao mundo”, disse uma fonte oficial da Aliança neste domingo. A mesma fonte acrescenta que manterão sua “presença diplomática em Cabul”.
Um avião de companhia aérea afegã decola neste sábado do aeroporto de Cabul | WAKIL KOHSAR / AFP |
Os aliados realizaram uma reunião de emergência na sexta-feira passada para analisar a situação e o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, indicou que a OTAN “mantém o seu apoio ao Governo afegão e às forças de segurança tanto quanto possível”. A União Europeia (UE) também se manifestou na quinta-feira, com uma declaração do Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell, condenando a violação dos direitos humanos em áreas controladas pelo Talibã e apelando ao grupo insurgente para “retomar imediatamente” o diálogo para chegar a um cessar-fogo permanente.
Mas a ofensiva dos talibãs avançou a uma velocidade vertiginosa e, neste domingo, chegou à capital, e o presidente, Ashraf Ghani, deixou o país às pressas. Bruxelas está, por enquanto, em silêncio diante de uma vitória do Talibã que apenas alguns dias atrás considerava improvável. Na terça-feira passada, uma fonte da comunidade destacou que “os talibãs estão tomando posições para se fortalecer diante de uma negociação sobre o futuro do país”. Cinco dias depois, o Governo pró-ocidental de Ghani é coisa do passado e o Talibã diz que quer todo o poder e que não há nada para negociar. A UE enfrenta agora a possibilidade de uma crise de migração se os afegãos que fogem do Talibã buscarem refúgio em solo europeu.
O último posto de controle da OTAN em solo afegão parece pôr fim a uma presença da Aliança que começou em 2003 e que continuou em diferentes formatos até que os EUA anunciaram sua retirada após 20 anos de ocupação do país. No início deste ano, a missão contava com tropas no terreno com 9.592 militares, dos quais 2.500 eram dos Estados Unidos e 4.000 dos aliados da UE que participaram da missão.
Desde 2007, a OTAN administrou um fundo da comunidade internacional que mobilizou quase 3,5 bilhões de dólares para treinar o Exército afegão (incluindo a alfabetização de muitos de seus membros) e dotá-lo com equipamento e armamento. Depois de iniciar a retirada ocidental, a OTAN acelerou a doação de material e anunciou, no dia 2 de agosto, a entrega de equipamento no valor de 72 milhões de dólares, um carregamento que, em questão de dias, parece destinado a acabar nas mãos do Talibã.
A fonte oficial da OTAN insiste que apoia “os esforços afegãos para encontrar uma solução política para o conflito, que agora é mais urgente do que nunca.” As instituições da UE, de momento, estão silenciosas face ao revés inesperado. No meio da tarde de domingo, nem o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, nem a presidenta da Comissão, Ursula von der Leyen, haviam falado sobre a derrota do regime pró-Ocidente no Afeganistão.
O expressivo avanço das forças islâmicas surpreendeu os países da UE, que até esta semana confiavam em uma transição negociada entre o Talibã e Ashraf Ghani. A chegada dos talibãs a Cabul neste domingo desencadeou uma correria de delegações diplomáticas presentes no Afeganistão, incluindo as de países da UE. Alemanha, Itália, Espanha, Holanda e Suécia, entre outros parceiros da comunidade, anunciaram a transferência de seu corpo diplomático para instalações aeroportuárias da capital afegã, local considerado seguro por enquanto, ou sua evacuação imediata para os países de origem. Os voos comerciais não operam mais no aeroporto.
Apenas a China e a Rússia pareciam ter como certo que a queda do Governo Ghani seria uma questão de dias, não semanas. Moscou se apressou neste domingo para expressar sua intenção de trabalhar com as novas autoridades, embora ainda não tenha reconhecido oficialmente o novo regime do Talibã. Pequim foi ainda mais cautelosa. Em 28 de julho, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se reuniu na cidade chinesa de Tanjin com uma delegação do Talibã presidida por um de seus fundadores, o mulá Abdul Ghani Baradar.