Sputnik
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse à mídia dos EUA, no fim de semana, que "isto não é Saigon", pelo que não se deveria comparar a guerra no Vietnã com a no Afeganistão.
Caos em Cabul
Em 15 de agosto, as tropas norte-americanas dispararam tiros de aviso para o ar enquanto milhares de afegãos se aglomeravam no asfalto do aeroporto de Cabul, tentando desesperadamente entrar a bordo de um avião que os poderia levar para bem longe do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países).
As forças norte-americanas deram prioridade à evacuação de funcionários da embaixada dos EUA e de milhares de afegãos que estavam ao serviço de Washington.
Várias imagens foram compartilhadas nas redes sociais mostrando outros cidadãos afegãos subindo para aviões sobrelotados enquanto esperavam pela decolagem.
Na manhã de domingo (15), todos os voos comerciais foram cancelados.
Parece que essas cenas foram quase idênticas à Operação Vento Frequente, a evacuação de Saigon entre 29 e 30 de abril de 1975 de milhares de funcionários pró-EUA e suas famílias, enquanto as forças comunistas se aproximavam da capital do Vietnã do Sul apoiado por Washington.
Memórias de Saigon em 1975
Cerca de 50 mil pessoas foram transportadas da base aérea de Tan Son Nhut e depois, nas últimas horas antes de o Exército do Vietnã do Norte tomar Saigon, outros sete mil funcionários da embaixada dos EUA no país e seus familiares foram levados em helicópteros norte-americanos enquanto faziam fila no telhado da embaixada.
O ex-presidente dos EUA Richard Nixon – que ordenou a retirada das últimas tropas norte-americanas do Vietnã em 1972 – se tinha demitido devido ao escândalo Watergate pelo que, quando ocorreu a queda de Saigon, foi o presidente Gerald Ford a monitorar a evacuação.
Esse acontecimento foi capturado por câmeras de televisão e foi um dos momentos mais humilhantes para um governo dos EUA.
Afeganistão e Vietnã: haverá comparação?
Ao fim de quase 20 anos no Vietnã (1956-1975), os EUA contabilizaram cerca de 58.220 mortes. De todos os falecidos, 40.934 foram "mortos em combate", 9.107 morreram em acidentes – sobretudo em quedas de aviões e helicópteros – 5.299 devido a ferimentos em combate e 236 foram classificados de "homicídios".
Até hoje, 91 corpos de soldados norte-americanos ainda não foram recuperados, mas acredita-se que tenham morrido.
Do lado vietnamita, acredita-se que tenham sido mortos até 430 mil civis durante a guerra, bem como cerca de 313 mil soldados do Vietnã do Sul e cerca de um milhão perdeu a vida lutando pelo Exército do Vietnã do Norte ou pelo Viet Cong.
Na guerra no Afeganistão (2001-2021) os EUA perderam, oficialmente, 2.312 de seus soldados – apesar de outros números indicarem 2.448 – entre 7 de outubro de 2001 e o início desta semana. Das forças aliadas na OTAN estima-se que tenham morrido 1.144 soldados.
Em termos de custos, a guerra no Vietnã custou a Washington aproximadamente US$ 168 bilhões (cerca de R$ 882 bilhões), correspondendo a US$ 1 trilhão (aproximadamente R$ 5,3 trilhões) em 2021. Já no Afeganistão, até hoje, Washington gastou cerca de US$ 2 trilhões (perto de R$ 10,5 trilhões).
Vontade de lutar
Uma das diferenças cruciais entre estes dois conflitos é a vontade de lutar das forças pró-EUA nos dois países.
Após a assinatura dos Acordos de Paz de Paris, as últimas tropas de combate dos EUA foram retiradas do Vietnã em janeiro de 1973.
O ARVN (Exército da República do Vietnã, na sigla em inglês) lutou sozinho por mais de dois anos e, nos últimos dias de guerra, alguns pilotos de helicópteros do Vietnã do Sul se dirigiram para um porta-aviões norte-americano, na esperança de serem reabastecidos para poderem regressar e continuar o combate.
Por sua vez, as forças do Exército afegão treinadas pela OTAN não demonstraram essa dedicação.
Em 2 de julho de 2021, o atual presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou a retirada final de suas forças do país. Seis semanas mais tarde, o Talibã tomou controle de Cabul, alegadamente sem resistência, em menos de dois dias.