Reuters | G1
Mais de 18 mil pessoas foram retiradas de avião de Cabul desde que o Talibã tomou a capital do Afeganistão, disse uma autoridade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesta sexta-feira (20).
Bebê é entregue a soldados americanos pelo muro do aeroporto internacional de Cabul, capital do Afeganistão, para que seja evacuado do país em 19 de agosto de 2021 — Foto: Omar Haidari via Reuters |
A Otan prometeu dobrar os esforços para retirar gente do país. Há críticas à maneira como o Ocidente tem lidado com a crise.
A organização pediu aos talibãs que permitam a retirada dos afegãos que desejam abandonar o país e prometeu que os aliados manterão uma "estreita cooperação" durante a operação.
Os ministros das Relações Exteriores da Aliança Atlântica realizaram uma reunião de emergência para analisar a situação no Afeganistão e os planos de retirada de pessoas.
"Pedimos a quem estiver na posição de autoridade no Afeganistão para respeitar e facilitar a marcha ordenada e segura, também através do aeroporto internacional Hamid Karzai de Cabul", disseram os 30 ministros da Otan em seu comunicado conjunto.
"Enquanto a operação de retirada continuar, manteremos nossa estreita coordenação operacional com os meios aliados" no aeroporto, acrescentaram.
Milhares de pessoas desesperadas para deixar o país ainda estão lotando o aeroporto, disse à Reuters a autoridade, que não quis se identificar, embora o Talibã tenha pedido às pessoas sem documentos de viagem que voltem para casa.
Vácuo de poder
A velocidade com que o Talibã conquistou o Afeganistão enquanto tropas dos Estados Unidos e de outros países finalizavam sua retirada surpreendeu até seus próprios líderes e deixou vácuos de poder em muitos locais.
O Talibã pediu união antes das orações desta sexta-feira, as primeiras desde que tomou o poder, solicitando aos imãs que persuadam as pessoas a não partirem do Afeganistão em meio ao tumulto que reina no aeroporto, aos protestos e aos relatos de violência.
Uma testemunha disse que várias pessoas foram mortas na quinta-feira em Asadabad, uma cidade do leste, quando militantes do Talibã dispararam contra uma multidão que expressava sua lealdade à República afegã derrotada. O Talibã prepara o estabelecimento de um emirado governado por leis islâmicas rigorosas.
Houve demonstrações de desafio semelhantes em outras duas cidades do leste, Jalalabad e Khost. Afegãos aproveitaram a comemoração da independência do controle britânico em 1919 para dar vazão à sua revolta com a tomada de poder pelo Talibã.
Outra testemunha relatou disparos perto de uma manifestação em Cabul, mas parece ter se tratado de membros do Talibã atirando para o alto.
Um porta-voz do grupo não estava disponível de imediato para comentar.
Cabul está essencialmente calma, exceto dentro e nos arredores do aeroporto, onde 12 pessoas foram mortas desde domingo, disseram autoridades da Otan e do Talibã.
Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, disse em uma entrevista à rede NBC News que os EUA estão "focados com laser" no "potencial para um ataque terrorista" de um grupo como o Estado Islâmico durante a retirada.
As críticas à Otan e outras potências ocidentais aumentam com as imagens do caos e do desespero que são compartilhadas em todo o mundo.
O Talibã diz que quer paz, que não se vingará de antigos inimigos e que respeitará os direitos das mulheres nos moldes da lei islâmica, mas um parlamentar norte-americano disse que o grupo está usando arquivos da agência de inteligência do Afeganistão para identificar afegãos que trabalharam para os EUA.