Guilhem Delteil | RFI em Bagdá com agências
A França quer mostrar que exerce um papel de mediação na região e se mantém comprometida com o combate ao terrorismo. Paris apoia os esforços de diálogo realizados pelo Iraque, "país considerado essencial para a estabilidade do Oriente Médio", segundo nota divulgada pelo Palácio do Eliseu.
À esquerda, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro iraquiano, Moustafa al-Kazimi, durante encontro neste sábado em Bagdá. 28/08/2021 VIA REUTERS - IRAQI PM MEDIA OFFICE |
Depois de se reunir com Macron, o primeiro-ministro iraquiano disse que seu país e a França "são parceiros essenciais na guerra contra o EI, na guerra contra o terrorismo". "Esta parceria certamente continuará a defender os valores da democracia nesta jovem experiência democrática iraquiana", acrescentou Moustafa al-Kazimi.
Com a retirada das últimas tropas da OTAN do Afeganistão, as forças francesas permanecerão engajadas no Iraque. O grupo Estado Islâmico “foi derrotado territorialmente em 2017, graças à coragem das forças armadas iraquianas e com o apoio da coalizão internacional”, disse o presidente francês. "Mas todos nós sabemos que não devemos baixar a guarda porque o EI continua sendo uma ameaça e eu sei que a luta contra esses grupos terroristas é uma prioridade para o seu governo", declarou Macron, dirigindo-se ao iraquiano. "Quero reiterar o compromisso da França na coalizão ao seu lado", concluiu o chefe de Estado francês.
Macron sabe, no entanto, que a estabilidade do Iraque requer a reconstrução das áreas liberadas dos jihadistas, o desenvolvimento econômico do país e a realização de eleições livres e transparentes. Essa expectativa de Paris ainda é difícil de ser alcançada, uma vez que os partidos políticos locais enfrentam divergências sobre a organização das eleições legislativas marcadas para daqui a seis semanas.
No domingo, Macron viajará para o Curdistão iraquiano, a fim de saudar a luta dos curdos contra os extremistas islâmicos. O presidente francês também visitará Mossul, símbolo da vitória contra o EI, que ocupou a cidade durante três anos, entre 2014 e 2017. Nessa visita de dois dias ao Iraque, cercada por um forte esquema de segurança, as autoridades francesas e jornalistas se descolam em veículos blindados.
Afeganistão no centro das conversas
A conferência regional em Bagdá dará uma ideia da repercussão do retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão, que atiça a rivalidade de grupos terroristas jihadistas, principalmente do Estado Islâmico do Khorasan (EI-K), ala afegã da organização extremista que assumiu a responsabilidade pelo sangrento atentado suicida no aeroporto de Cabul, na quinta-feira (26). O ataque matou pelo menos 13 soldados americanos e 71 civis, mas fontes concordantes evocam cerca de 200 mortos.
Os Estados Unidos revidaram a ação terrorista na noite de sexta-feita (27), matando, com a ajuda de drones, o "estrategista" que do EI-K. O capitão americano Bill Urban, porta-voz do Comando Central, declarou que "o ataque aéreo não tripulado ocorreu na província afegã de Nangahar". As primeiras indicações são de que matamos o alvo", afirmou o militar. "Não temos conhecimento de nenhuma vítima civil", acrescentou em comunicado. A represália americana foi lançado de fora do Afeganistão.
Entre os grupos jihadistas, o EI-K é o principal adversário do movimento Talibã, que considera moderado demais por ter negociado com os Estados Unidos. A saída mal planejada dos militares americanos, que deve ser concluída no dia 31 de agosto, deixa os aliados europeus confrontados ao retorno da ameaça terrorista e cria uma situação política desconfortável para Washington.
Segundo o general francês Dominique Trinquand, ex-chefe da missão militar francesa na ONU, "o ataque com drone contra o EI-K representa uma aliança indireta dos Estados Unidos com os talibãs". Em entrevista ao site de informação France Info, Trinquand disse que para combater os extremistas islâmicos, os ocidentais necessariamente terão de negociar com os talibãs.
França encerra operações de evacuação no Afeganistão
A França encerrou na noite de sexta-feira suas operações de evacuação no Afeganistão. Desde 15 de agosto, quando os talibãs retornaram ao poder, as Forças Armadas francesas retiraram 3 mil pessoas de Cabul, em 26 rotações aéreas entre Cabul, Abu Dhabi e posteriormente para Paris. Desse total, uma centena eram franceses, cerca de 2.600 afegãos e o restante estrangeiros. O embaixador francês, militares e diplomatas deixaram o território.
As Forças Armadas francesas decidiram encerrar os voos no aeroporto de Cabul antes do dia 31 devido ao alto risco de ataques. Paris deixou de evacuar cerca de 1.000 pessoas que estavam inscritas na embaixada para deixar o país asiático. Mas a diplomacia francesa mantém negociações com representantes dos talibãs em Doha, para que essas pessoas não sejam alvo de represálias e possam deixar o solo afegão futuramente, quando o aeródromo civil de Cabul for reaberto.