Tainá Farfan e Gustavo Uribe | CNN
A CNN Brasil teve acesso à troca de mensagens e áudios das conversas entre o ex-assessor do departamento de Logística do Ministério da Saúde tenente-coronel Marcelo Blanco, e o representante comercial da Davatti Medical Supply Luiz Paulo Dominghetti, entre 9 de fevereiro e 18 de março, que mostra o interesse do militar em aproveitar a negociação de vacinas da Astrazeneca com o Ministério da Saúde para supostamente se beneficiar na iniciativa privada.
Blanco presta depoimento nesta quarta-feira (4) na CPI da Pandemia, que já está com todo o material em análise, na tentativa de avançar nas investigações. Nas trocas de mensagens, antecipadas pela CNN Brasil, Blanco defende a Dominghetti a necessidade de desenhar uma estratégia para o fornecimento de vacinas ao setor privado. O tenente-coronel pergunta ao representante da Davatti se o preço oferecido pela dose da AstraZeneca para a gestão pública poderia ser adotado também para o setor privado.
No dia 23 de fevereiro, dois dias antes do encontro no restaurante Vasto, em um shopping de Brasília, Dominghetti diz que poderia viabilizar o mesmo preço para o setor privado, de US$ 3,97 por dose da AstraZeneca. O representante da Davatti, no entanto, afirma que, naquele momento, ninguém teria as doses da vacina para pronta entrega. Dias depois, em uma troca de áudios, Dominghetti afirma que teria vacinas para entrega entre cinco e oito dias.
"Amanhã eu tenho uma reunião com um pessoal que tem um nível de interlocução, relacionamento muito bom, que pode encontrar determinados locais que gerem essa demanda no meio privado, pra gente poder botar isso ai (sic)... O que você puder me passar de detalhes, porque amanhã eu tenho uma reunião à tarde para falar de outros assuntos, e eu tocaria isso ai...", afirmou Blanco em um dos áudios.
No dia 22 de fevereiro, Blanco criou a empresa Valorem Consultoria em Gestão Empresarial LTDA, três dias antes da reunião com Dominghetti no restaurante onde teria acontecido a proposta de propina de US$ 1 por dose para fechar o contrato de compra da vacina AstraZeneca pelo Ministério da Saúde. Um mês depois, Blanco incluiu no contrato social da empresa atividades comerciais ligadas à saúde.
Em fevereiro, estava sendo consolidado o projeto de lei (PL 1033/21) para permitir a compra de vacinas pelo setor privado, desde que 50% fossem doadas ao SUS (Sistema Único de Saúde). O projeto foi apresentado em março na Câmara dos Deputados, aprovado no dia 7 de abril, mas não avançou no Senado Federal.
Em 19 de janeiro, Blanco foi exonerado do cargo de assessor do Ministério da Saúde, mas só foi desligado do posto de substituto eventual do diretor do Departamento de Logística em 30 de junho.
Blanco negou, em depoimento à CPI, que atuava no Ministério da Saúde após exoneração no dia 19 de janeiro. A CNN entrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda retorno.