Felat Bozarslan | Deutsch Welle
"Irmão, contrabando de pessoas existe desde que as fronteiras foram traçadas pela primeira vez. Enquanto houver fronteiras, esse negócio continuará", diz Baver, um contrabandista de 32 anos que trabalha na fronteira turco-iraniana.
Ele usa o Whatsapp de um amigo para falar com a reportagem e manter o anonimato. Sua posição na organização é muito importante: levar os refugiados para a "zona segura" – no caso, a cidade de Van, no leste da região turca da Anatólia.
"Já levei milhares através da fronteira", diz, em certo tom de orgulho. Em que local exatamente ajuda refugiados a cruzarem a fronteira do Irã para a Turquia, ele não revela. A descoberta de suas rotas poderia levar ao colapso de toda a organização de tráfico de migrantes, o que inclui uma ampla rede de contrabandistas que operam no Afeganistão, Paquistão, Irã, Turquia e na Europa.
As frases de Baver, enviadas em áudio, soam nervosas e apressadas: "Tenho que ter cuidado para não ter a polícia atrás de mim." Nas cidades turcas na fronteira com o Irã, a polícia está se concentrando cada vez mais na entrada ilegal de migrantes. Mesmo antes da chegada do Talibã ao poder no Afeganistão, a polícia já havia começado a conduzir mais operações. Desde o início do ano, foram abertos processos judiciais contra 920 contrabandistas. "Não quero me meter no meio disso", diz Baver.
Ele chama os migrantes de "convidados". O jargão codificado tem o objetivo de tornar mais difícil para a polícia rastrear as comunicações entre os contrabandistas. Eles também tem o cuidado de utilizar aplicativos como Whatsapp ou Telegram, difíceis de serem monitorados pela polícia.
Taxa de US$ 1.500
O Afeganistão é ponto de partida para os movimentos de refugiados há anos e é, portanto, um lugar onde o contrabando de migrantes floresce. A taxa de transferência para um migrante que deseja ir do Afeganistão para Istambul é de 1.500 dólares americanos. Os preços subiram devido à vitória do Talibã – também porque a fronteira turca está agora mais protegida.
Os refugiados afegãos que dependem de Baver na região da fronteira turca já percorreram um longo caminho. Baver explica que as organizações de contrabando têm milhares de ajudantes que trabalham juntos além das fronteiras nacionais, em cada país – no Afeganistão, no Paquistão, no Irã e na Turquia.
Estes facilitadores recebem a quantia total que um refugiado tem que pagar e transferem sua parte para os respectivos contrabandistas via "Hawala" após a conclusão de cada etapa. Hawala, um sistema informal de transferência de dinheiro que existe no mundo inteiro, é utilizado para remessas fora dos canais bancários tradicionais. Baver não quer revelar quanto dinheiro ganha com seu trabalho.
Uma longa e árdua jornada
Primeira etapa: assim que 30 ou 40 pessoas se reúnem, elas são levadas de Cabul até a fronteira com a província paquistanesa do Balochistão. A rota através da fronteira afegã-iraniana é evitada porque é muito perigosa.
Os contrabandistas do Balochistão assumem como guias na fronteira. Após chegar ao Paquistão, começa o próximo passo: a longa e árdua viagem até a fronteira iraniana. É uma longa distância, pela qual normalmente três ou quatro contrabandistas diferentes são responsáveis. Então os refugiados são deixados em um "marco zero", um local pré-acordado na fronteira iraniana.
Após os refugiados terem atravessado a fronteira iraniana, um veículo os recolhe em vários pontos de encontro na região fronteiriça Irã-Paquistão e os leva em uma viagem de dez horas até Teerã. Eles são então transportados temporariamente de ônibus para as cidades iranianas ocidentais de Maku e Khoy – ambas, novamente, têm seus próprios contrabandistas.
De lá eles são levados para os vilarejos fronteiriços iranianos, onde os contrabandistas são conhecidos por suas excelentes relações com a polícia de fronteira.
A etapa final: em grupos de 40 ou 50, os afegãos são finalmente guiados para o território turco através de uma das cinco rotas secretas de refugiados. As caminhadas começam ao cair da noite – ao nascer do sol, o grupo geralmente já chegou. Eles chegam às cidades turcas de Doğubayazıt, Çaldıran, Özalp e Saray.
Baver não consegue entender porque sua profissão é criminalizada. Ele está convencido de que não está fazendo nenhum mal: acha que os contrabandistas – pelo contrário – ajudam as pessoas que correm risco de morte. "Nossos avós faziam isso, nossa crianças farão o mesmo", diz. "Não estamos fazendo nada de errado, não são drogas nem armas, são pessoas."