Sonia Ghezali | RFI em Cabul
"Durante a noite (terça-feira), foi executado um atentado suicida contra a residência do ministro da Defesa (...) por um grupo de mujahedines equipados com armas leves e pesadas", afirmou o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, em um comunicado. O ataque "é o início das represálias contra (...) os funcionários do governo de Cabul que ordenam ataques e bombardeios em todo país contra civis", para dificultar o avanço dos insurgentes nos centros urbanos, completou.
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As duas grandes deflagrações foram registradas em Cabul com duas horas de intervalo. A primeira foi provocada por um carro-bomba que explodiu diante da casa de um deputado, vizinho do ministro da Defesa, general Bismillah Mohammadi, que está são e salvo. Vários criminosos conseguiram entrar na residência do deputado.
As forças de segurança demoraram cinco horas para acabar com a resistência dos invasores, que foram mortos. Durante esse tempo, muitos residentes da capital, atendendo a um apelo lançado nas redes sociais, subiram aos telhados ou desceram às ruas para apoiar as forças afegãs, gritando "Allah Akbar" (Deus é o maior).
Este é o primeiro ataque de grande magnitude em Cabul, em vários meses, reivindicado pelos talibãs. Além de oito civis mortos, 20 pessoas ficaram feridas, segundo um balanço atualizado nesta quarta-feira pelo Ministério do Interior.
“Não sabemos como isso pode acontecer aqui, pois essa zona é muito protegida. Ninguém pode andar armado aqui. Nem mesmo com uma faca”, comenta um morador em entrevista à RFI. “Como uma explosão dessas pode acontecer aqui?”, se questiona.
O ataque em Cabul faz parte da ofensiva que os talibãs lançaram há semanas, tomando grandes cidades em zonas estratégicas do país. Segundo Jean-Charles Jauffret, professor universitário especialista no Afeganistão e autor do livro "La guerre inachevée" (A guerra que não acabou, em tradução livre), essa estratégia, que visa cercar as cidades para controla-las, umas após as outras, “é a mesma que foi a adotada durante a guerra civil, em 1992 e em 1996, quando os talibãs tomaram o poder”.
Ataques visam cidades simbólicas
Nessa ótica, além da capital, outra cidade simbólica é Lashkar Gah, capital da província de Helmand, que os talibãs tentam controlar nesse momento. “Foi lá que, em 1881, os ingleses, que ocupavam o país, foram derrotados e, sem seguida, tiveram que deixar o Afeganistão pela segunda vez”, lembra Jauffret.
O porta-voz do ministério afegão da Defesa, Fawad Aman, informou que o Exército lançou nesta quarta-feira um contra-ataque justamente em Lashkar Gah. "A operação está sendo realizada lentamente e com cautela, já que os talibãs usam as casas como refúgio e os civis como escudo", anunciou Aman no Twitter.
O general Sami Sadat, o soldado de maior patente do Exército no sul do país, pediu desde terça-feira que os moradores deixassem Lashkar Gah. Nesta quarta, muitos começaram a fugir da cidade, seguindo as recomendações das autoridades locais.
Os talibãs, um grupo islâmico ultraconservador, controla grande parte do interior e das cidades fronteiriças, por onde entraram para preencher o vazio deixado pela retirada das tropas americanas, que, à princípio, terminará em 31 de agosto. Muitos afegãos vivem com medo de um retorno ao poder dos extremistas.
O grupo governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, impondo um regime islâmico de extremo rigor, até ser derrubado por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.