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Em Taloqan, as forças de segurança afegãs apoiadas por milícias de autodefesa resistiram ao Talibã por várias semanas, conta Sonia Ghezali. Em vão. A cidade do nordeste caiu no domingo (8), depois de Kunduz e Sar-e-Pul.
© AP - Hamed Sarfarazi |
Os habitantes que permaneceram nessas cidades relatam os ataques aéreos na tentativa de conter o Talibã. Eles falam sobre os B52s, símbolo do poderio militar dos Estados Unidos cruzando os céus, mas sem alterar o equilíbrio de poder.
Cadáveres espalhados pelas ruas
Milhares de famílias fugiram do conflito por causa do risco de morte. "É o caos total", afirmou Abdul Aziz, morador do centro de Kunduz, que falou com a AFP por telefone.
Os ataques aéreos também estão causando muitas vítimas civis. Vídeos sangrentos circulam nas redes sociais há alguns dias. Há cadáveres de crianças nas ruas com rostos irreconhecíveis pelos ferimentos, outras em estado de choque, desorientadas. No sul do país, os combates acontecem em Kandahar e Lashkar Gah, duas capitais de província que também devem cair.
O Talibã está avançando a uma velocidade vertiginosa, desde a ofensiva lançada em maio, e com surpreendente facilidade. Eles controlam mais da metade do território afegão e várias fronteiras, incluindo aquelas com o Tajiquistão e o Turcomenistão e um posto de fronteira com o Irã e outro com o Paquistão.
"A situação atual era inevitável"
Se a facilidade com que o Talibã avança é surpreendente, todos os que acompanham o assunto sabiam que inevitavelmente os extremistas se apoderariam gradativamente de todo o território afegão e muito rapidamente, agora, do poder em Cabul, explica o general Vincent Desportes, ex-diretor da Escola Superior de Guerra, na França, entrevistado pelo jornalista Achim Lippold, do serviço internacional da RFI.
O general Desportes se destacou há alguns anos ao criticar a estratégia americana no Afeganistão em entrevista ao jornal Le Monde.
"Podemos ver que o moral desempenha um grande papel porque o exército afegão é teoricamente muito mais bem treinado do que o Talibã, que não passa de guerrilheiros com Kalashnikovs, enquanto o exército afegão é treinado há anos - duas décadas praticamente ou um pouco menos - pelos exércitos internacionais”, analisa o militar.
“Portanto, não é um problema de tática ou técnica, é essencialmente um problema de escolha. Os americanos foram muito mais fortes do que os vietnamitas e perderam. Eles eram muito mais fortes do que o Talibã também", acrescenta o general.
"Como você espera que o pobre exército afegão, treinado, mas não muito bem armado, e que não acredita mais em si mesmo, prevaleça contra o Talibã? É estritamente impossível. A situação atual era inevitável. Qualquer pessoa familiarizada com o assunto sabia que inevitavelmente, um dia, e inevitavelmente muito rapidamente, o Talibã iria gradualmente assumir todo o Afeganistão e muito rapidamente, agora, o poder em Cabul.", analisa o militar.