Washington e Moscou realizarão uma nova rodada de conversações sobre controle atômico em setembro em Genebra
Os dois relatórios apontam uma mudança de estratégia da China, cuja capacidade nuclear hoje é de cerca de 350 ogivas nucleares, segundo os pesquisadores da FAS — uma quantidade modesta se comparada com a da Rússia ou a dos Estados Unidos, que têm cada um, depósitos de até 4.000 ogivas, 90% das armas nucleares do planeta. O regime chinês, ainda longe desses números, está pisando no acelerador. Há um ano, o Pentágono estimava que os estoques chineses não chegavam a 200 ogivas.
Na terça-feira, um dia após a publicação do último relatório, tanto o Pentágono como membros do Congresso alertaram para essa questão. “É a segunda vez em dois meses que o público descobre o que viemos dizendo todo esse tempo sobre crescente perigo que o mundo enfrenta e o sigilo que o cerca”, assinalou em sua conta de Twitter o Comando Estratégico dos Estados Unidos, o braço do Exército com a missão de proteger ao país e seus aliados da ameaça nuclear. Por sua vez, o congressista republicano Mike Turner, deputado por Ohio e membro do subcomitê de Serviços Armados em Forças Estratégicas da Câmara dos Representantes, qualificou o desenvolvimento nuclear do regime chinês de “ameaça”.
Os dois informes foram divulgados às vésperas da primeira rodada de negociações, chamadas de Diálogo sobre Estabilidade Estratégica, que os Estados Unidos e a Rússia realizaram na quarta-feira em Genebra para evitar uma nova corrida nuclear. Foi a primeira reunião desse tipo entre as duas potências em um ano. O encontro ocorreu pouco mais de um mês após a cúpula de 16 de junho entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin na cidade suíça, depois de vários desentendimentos entre os antigos protagonistas da Guerra Fria. Mas o clima antes da reunião, liderada pela subsecretária de Estado dos EUA Wendy Sherman e pelo vice-chanceler russo Serguei Rybakov, esquentou.
Sherman, que chegou a Genebra vinda de Pequim, teve de ouvir as queixas das autoridades chinesas, que acusam Washington de criar “um inimigo imaginário” para desviar a atenção de seus problemas internos e reprimir a China, informa a Reuters. O Governo de Pequim garante que está disposto a realizar conversações bilaterais sobre segurança estratégica “com base na igualdade e no respeito mútuo”, e enfatiza que seu arsenal atômico é muito reduzido em comparação ao das outras duas superpotências.
O Kremlin, por sua vez, respondeu às declarações que Biden fez na terça-feira de que Moscou só tem armas nucleares e petróleo e que é cada vez mais provável que Washington acabe em “uma guerra real, com tiros, com uma potência importante” como consequência de um ciberataque em larga escala. O porta-voz do Governo russo, Dmitri Peskov, disse na quarta-feira que as afirmações do presidente americano são exageradas e denotam falta de conhecimento sobre a Rússia.
Apear desse clima, o Departamento de Estado qualificou as negociações de Genebra, das quais não se esperavam resultados imediatos, como “profissionais e substanciais”, e informou que as duas partes concordaram em voltar a se reunir em setembro. “Estamos comprometidos, mesmo em tempos de tensão, em ser previsíveis e reduzir o risco de um conflito armado e de uma guerra nuclear”, ressaltou um porta-voz americano. Rybakov, citado pela agência oficial Tass, declarou-se satisfeito com a reunião e com a disposição da Casa Branca de manter um diálogo construtivo.
Embora não seja conhecida a agenda oficial, especialistas apontam que a China — que sempre se negou a participar de um encontro desse tipo —, a proliferação nuclear, a militarização do espaço e os ciberataques devem fazer parte do diálogo. “As conversações devem levar a uma desnuclearização real e substancial. Qualquer coisa diferente disso será uma irresponsabilidade”, disse à Reuters Daniel Hogsta, da Campanha para a Abolição das Armas Nucleares. Os presidentes Biden e Putin concordaram neste ano em prorrogar até 2026 o tratado New Start de 2010, que limita a 1.550 as ogivas nucleares mantidas por Rússia e EUA, e a 700 os sistemas balísticos em terra, mar e ar.
Amanda Mars e Cecilia Ballesteros | El País
A preocupação de Washington com as aspirações da China na corrida nuclear aumentou. Um relatório da Federação de Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês) alerta que o regime de Xi Jinping está construindo uma nova rede de silos para o lançamento de ogivas nucleares. A análise, publicada na segunda-feira, reúne fotografias tiradas por satélite e situa o projeto no noroeste do país, na região de Xinjiang. Os pesquisadores calculam que o campo pode conter até 110 silos. Poucas semanas antes, em 30 de junho, o The Washington Post divulgou outro trabalho, a cargo do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, que falava de outros 119 silos perto da cidade de Yumen, uma área desértica.
A preocupação de Washington com as aspirações da China na corrida nuclear aumentou. Um relatório da Federação de Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês) alerta que o regime de Xi Jinping está construindo uma nova rede de silos para o lançamento de ogivas nucleares. A análise, publicada na segunda-feira, reúne fotografias tiradas por satélite e situa o projeto no noroeste do país, na região de Xinjiang. Os pesquisadores calculam que o campo pode conter até 110 silos. Poucas semanas antes, em 30 de junho, o The Washington Post divulgou outro trabalho, a cargo do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, que falava de outros 119 silos perto da cidade de Yumen, uma área desértica.
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Imagem da rede de silos para mísseis na área de Hami, na região de Xinjiang. Fonte: Federação de Cientistas Americanos (FAS) |
Os dois relatórios apontam uma mudança de estratégia da China, cuja capacidade nuclear hoje é de cerca de 350 ogivas nucleares, segundo os pesquisadores da FAS — uma quantidade modesta se comparada com a da Rússia ou a dos Estados Unidos, que têm cada um, depósitos de até 4.000 ogivas, 90% das armas nucleares do planeta. O regime chinês, ainda longe desses números, está pisando no acelerador. Há um ano, o Pentágono estimava que os estoques chineses não chegavam a 200 ogivas.
Na terça-feira, um dia após a publicação do último relatório, tanto o Pentágono como membros do Congresso alertaram para essa questão. “É a segunda vez em dois meses que o público descobre o que viemos dizendo todo esse tempo sobre crescente perigo que o mundo enfrenta e o sigilo que o cerca”, assinalou em sua conta de Twitter o Comando Estratégico dos Estados Unidos, o braço do Exército com a missão de proteger ao país e seus aliados da ameaça nuclear. Por sua vez, o congressista republicano Mike Turner, deputado por Ohio e membro do subcomitê de Serviços Armados em Forças Estratégicas da Câmara dos Representantes, qualificou o desenvolvimento nuclear do regime chinês de “ameaça”.
Os dois informes foram divulgados às vésperas da primeira rodada de negociações, chamadas de Diálogo sobre Estabilidade Estratégica, que os Estados Unidos e a Rússia realizaram na quarta-feira em Genebra para evitar uma nova corrida nuclear. Foi a primeira reunião desse tipo entre as duas potências em um ano. O encontro ocorreu pouco mais de um mês após a cúpula de 16 de junho entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin na cidade suíça, depois de vários desentendimentos entre os antigos protagonistas da Guerra Fria. Mas o clima antes da reunião, liderada pela subsecretária de Estado dos EUA Wendy Sherman e pelo vice-chanceler russo Serguei Rybakov, esquentou.
Sherman, que chegou a Genebra vinda de Pequim, teve de ouvir as queixas das autoridades chinesas, que acusam Washington de criar “um inimigo imaginário” para desviar a atenção de seus problemas internos e reprimir a China, informa a Reuters. O Governo de Pequim garante que está disposto a realizar conversações bilaterais sobre segurança estratégica “com base na igualdade e no respeito mútuo”, e enfatiza que seu arsenal atômico é muito reduzido em comparação ao das outras duas superpotências.
O Kremlin, por sua vez, respondeu às declarações que Biden fez na terça-feira de que Moscou só tem armas nucleares e petróleo e que é cada vez mais provável que Washington acabe em “uma guerra real, com tiros, com uma potência importante” como consequência de um ciberataque em larga escala. O porta-voz do Governo russo, Dmitri Peskov, disse na quarta-feira que as afirmações do presidente americano são exageradas e denotam falta de conhecimento sobre a Rússia.
Apear desse clima, o Departamento de Estado qualificou as negociações de Genebra, das quais não se esperavam resultados imediatos, como “profissionais e substanciais”, e informou que as duas partes concordaram em voltar a se reunir em setembro. “Estamos comprometidos, mesmo em tempos de tensão, em ser previsíveis e reduzir o risco de um conflito armado e de uma guerra nuclear”, ressaltou um porta-voz americano. Rybakov, citado pela agência oficial Tass, declarou-se satisfeito com a reunião e com a disposição da Casa Branca de manter um diálogo construtivo.
Embora não seja conhecida a agenda oficial, especialistas apontam que a China — que sempre se negou a participar de um encontro desse tipo —, a proliferação nuclear, a militarização do espaço e os ciberataques devem fazer parte do diálogo. “As conversações devem levar a uma desnuclearização real e substancial. Qualquer coisa diferente disso será uma irresponsabilidade”, disse à Reuters Daniel Hogsta, da Campanha para a Abolição das Armas Nucleares. Os presidentes Biden e Putin concordaram neste ano em prorrogar até 2026 o tratado New Start de 2010, que limita a 1.550 as ogivas nucleares mantidas por Rússia e EUA, e a 700 os sistemas balísticos em terra, mar e ar.