Jakob Orekhov | Russia Beyond
Apesar das diferenças ideológicas aparentemente intransponíveis, com o início da guerra das Malvinas, que começou com a Operação Rosário em 2 de abril de 1982, a Argentina ditatorial se aproximou da Líbia, Cuba e outros países próximos à União Soviética.
Domínio público |
Apenas uma semana após o lançamento da operação argentina pela conquista das Malvinas e da Geórgia do Sul, segundo descreveu Juan Bautista “Tata” Yofre (escritor e político argentino, secretário de Inteligência do Estado em 1989 e 1990) para o Infobae, o embaixador de Castro, Emilio Aragonés Navarro, chegou a Buenos Aires. Aliás, não de uma forma muito plácida, pois, de acordo com Mariano Pablo Sciaroni, mestre em Estratégia e Geopolítica, seu avião havia sido interceptado em rota por caças brasileiros. No dia seguinte, às 13h45, ele entrou no gabinete pessoal do general Galtieri. O presidente de facto estava estreando seu sistema de gravação com um deck de rolo, e a conversa transcorreu assim:
Embaixador: Vim lhe dizer que Cuba vai fazer o que vocês determinarem, até onde quiserem ir, Cuba o fará...
Galtieri: Diga a Castro que, à parte de nossas diferenças, podemos conversar. Agradeço este sentimento e solidariedade americana, latino-americana, somos latinos. Em grande medida, temos diferenças ...
Embaixador: Somos membros da mesma família, mas de um país diferente.
Galtieri: Temos diferenças, mas todas são discutíveis e conversáveis, mas agradeço o gesto. A Argentina não irá esquecê-lo.
Embaixador: Mas esse gesto pode ser transformado em ação. É o que eu quero que você veja com clareza. Esta é uma proposta muito cuidadosa, mas por trás dela está a vontade de fazer o que precisa ser feito... enviar-lhe um submarino e afundar um navio... qualquer coisa.
Galtieri: A Argentina não esquece agora nem esquecerá por muitos anos...
Que submarinos Cuba poderia oferecer à Argentina?
De 1978 a 1983, a Marinha cubana contou com seis submarinos soviéticos de patrulha a diesel do Projeto 641 ('Foxtrot', de acordo com a denominação da Otan).
A classe Foxtrot, que entrou em serviço no final dos anos 1950, era comparável em desempenho e armamento à maioria dos projetos contemporâneos. No entanto, era mais barulhento do que a maioria dos modelos ocidentais.
Além disso, foi um dos últimos projetos introduzidos antes da adoção do casco em forma de lágrima, que oferecia um desempenho muito melhor embaixo d'água.
De acordo com o site História e Arqueologia Marinha, o primeiro a ser recebido por Cuba foi o B-309, construído no estaleiro nº 01299 do Leningradskoe Admiralteiskoe, na antiga capital imperial russa. Estava armado com 6 tubos lança-torpedos de 533 mm na proa, e 4 tubos lança-torpedos de 400 mm na popa. Poderia portar até 22 lança-torpedos e 32 minas PMR-1.
O submersível possuía um radar de reconhecimento Nakat, Jrom-K, um sonar MG-200 Arktika-M, outro Tuloma, um hidrofone MG-10M e um sistema de interceptação de sonar Svet-M. Sua tripulação era composta por 77 membros, dos quais 12 eram oficiais. Foi colocado em serviço como o nº 725 em 7 de fevereiro de 1979. Outras unidades do mesmo modelo chegaram dos estaleiros de São Petersburgo a Cuba entre 1980 e 1984.
Graças a essas embarcações, o país latino-americano foi capaz de operar, por quase quarenta anos, uma flotilha de submarinos oceânicos que lhe conferiu certa hierarquia como potência naval de terceira ou quarta linha.
No entanto, foi outro modelo de submarino que chamou a atenção da imprensa ocidental. Em 14 de abril de 1982, o jornal New York Times afirmou em uma reportagem que, segundo fontes consultadas na Otan, havia sido detectada na área a presença de dois submarinos soviéticos, provavelmente modelos do Projeto 659 ou 675, desviados de seu emprego usual no Oceano Índico e nas águas ao sul do Cabo da Boa Esperança.
Eram navios nucleares com um deslocamento de 5.800 toneladas. E seu armamento era impressionante: 8 mísseis de cruzeiro superfície-superfície SS-N-12 e 20 torpedos.
Teriam servido a algum propósito?
O Atlântico Sul não era estranho aos submarinos soviéticos, mas, com três décadas de vida nas costas, é difícil pensar que um Projeto 641 com tripulação cubana pudesse ter chegado perto do HMS Invincible, por exemplo, dada a tecnologia de detecção e recursos antissubmarinos do esquadrão britânico, e afundá-lo. Talvez um trabalho de mineração inteligente pudesse, ao menos, paralisar a Marinha enviada por Thatcher.
Renstchler, responsável pelo Conselho de Segurança Nacional do gabinete de Assuntos da Europa Ocidental durante o governo Reagan, em sua obra “Diário das Malvinas de James Rentschler”, garantiu que os cubanos intermediaram com a URSS para atacar a frota britânica: “Galtieri se encontrou com o general Alexander Haig, o mediador americano, e formalmente indicou a ele que ‘os cubanos insinuaram que estavam falando pelos russos, até mesmo insinuaram que os soviéticos haviam se oferecido para afundar o porta-aviões britânico [com o príncipe Andrew, que pilotava um helicóptero Sea King, a bordo], deixando os britânicos e o mundo com a impressão de que um submarino argentino o teria feito’.”
Não parece crível, entretanto, que os líderes da URSS se arriscassem a deflagrar a Terceira Guerra Mundial por um arquipélago localizado a 15.000 quilômetros de distância e cujo recurso mais valioso eram as ovelhas. Um submarino moderno da URSS atacando um porta-aviões britânico? As 20.600 toneladas de metal do Invincible transformadas em um hotel para polvos, peixes e anêmonas? A história teria sido muito diferente.